Plenário

Autonomia da mulher e aborto provocam polêmica

Representantes de movimentos feministas e vereadores debateram sobre a legalização de procedimento.

  • Quarta Temática: Debate sobre Mulheres e Saúde. Na foto, da esquerda para à direita, a ex-vereadora Jussara Cony, o vereador Valter Nalgestein e a representante da Marcha Mundial das Mulheres, Cíntia Barenho.
    "Para nós, autonomia é decidirmos sobre nossa vida”, disse Cíntia (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Quarta Temática: Debate sobre Mulheres e Saúde. Na foto, a ex-vereadora Jussara Cony.
    Jussara afirmou que a tripla jornada de trabalho adoece as mulheres (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

A Saúde das Mulheres e Meninas, um Direito a Garantir foi o tema tratado na sessão desta quarta-feira (22/3) dentro do período de Comunicações Temáticas da Câmara Municipal de Porto Alegre. A ex-vereadora Jussara Cony (PC do B) falou em nome da coordenação da Conferência Estadual da Saúde das Mulheres, que, segundo ela, será parte decisiva na luta de gênero contra a perda dos direitos. A presidente da Marcha Mundial das Mulheres, Cíntia Barenho, foi a outra convidada a discutir o assunto - que gerou polêmica no plenário. 

Conforme Jussara Cony, milhares de mulheres adoecem por conta da tripla ou dupla jornada de trabalho. Os números demonstram, reforçou ela, a medicalização delas por meio do aumento das doenças psiquiátricas. Para a ex-vereadora, a reforma da Previdência não leva em conta a dupla jornada e exige a mobilização da sociedade como um todo e das mulheres em especial.

Cíntia Barenho assinalou a luta de gênero contra uma sociedade patriarcal e capitalista. “Para nós, autonomia é decidirmos sobre nossa vida”, disse. No seu entendimento, a autonomia passa pelo direito da mulher de definir como deve constituir suas famílias, principalmente no Brasil. Na sua opinião, do ponto de vista do movimento feminista, o país está atrasado, sendo um lugar "onde é negado o direito das mulheres de decidirem sobre os seus corpos". Cíntia defendeu a legalização do aborto no país. “A sociedade tem de acolher e aceitar essa mulher, caso ela não queira ter o filho, ou apoiá-la plenamente ao optar pela maternidade”, reforçou. 

Após a manifestação de vereadores na tribuna, Cíntia voltou a falar. Lamentou que talvez tudo o que foi dito pelas mulheres no plenário não tenha sido escutado. “Não estaríamos aqui falando de genocídio. A questão do aborto é uma  questão de saúde publica. As mulheres estão buscando a autonomia de seus corpos, e a gravidez não é uma responsabilidade única das mulheres”, disse, destacando que o aborto é a quarta causa de morte materna.

Vereadores

PLANEJAMENTO - Doutor Thiago Duarte (DEM) afirmou que a primeira forma de prevenção dos direitos da mulher é a família e, em segundo lugar, o planejamento familiar. Ele garantiu que nunca irá defender a legalização do aborto de forma diferente do que já ocorre no país, uma vez que a lei prevê a interrupção da gravidez apenas para as mulheres vítimas de estupro e quando a gestação coloca sua vida em risco. “Aborto não é planejamento familiar”, frisou. O vereador defendeu o emprego dos métodos contraceptivos de última geração à disposição das mulheres de baixa renda. (FC)

FALÁCIA - Professor Wambert (PROS) falou “em nome das criancinhas que foram assassinadas no ventre materno”. Ele sentenciou que “as criancinhas abortadas foram arrancadas aos pedacinhos do ventre materno”. Em sua opinião, defender “o aborto é imoral, é vergonhoso, um atraso da civilização”. O vereador considerou um absurdo a Câmara se prestar ao debate sobre o aborto, que, para ele, é um tema falacioso. "O aborto é um atraso, é um ato de crueldade, é um crime contra os pobres e os negros”, criticou. Wambert encerrou o discurso informando que subiu à tribuna em nome da Frente Parlamentar em Defesa da Vida. (FC)

BALA - Sofia Cavedon (PT) lamentou que a Câmara Municipal agora tenha "uma bancada da bala". “Temos a bancada que defende o uso de amas pelas vida; isso é contraditório”, ressaltou. A vereadora lembrou que a Marcha das Mulheres une o gênero no mundo contra o tráfico de mulheres, o estupro e a morte por abortos clandestinos. “São indicadores brutais do século XXI que atingem a liberdade e a dignidade das mulheres. Mulheres que são criminalizadas porque buscaram esse último recurso, pois a sociedade é hipócrita”, disse. Sofia afirmou que, no Brasil, devemos avançar na descriminalização das mulheres que abortam, pois elas são vítimas e não criminosas. “A mulher adoece pelas sete horas a mais semanais que acumula na sua jornada de trabalho. Nossa luta é pela autonomia da mulher”, finalizou. (LV)

ABORTO - Fernanda Melchionna (PSOL) afirmou que as mulheres já estão acostumadas à tentativa de intimidação pelo grito. “Recentemente, na Polônia, o governo tentou rever a descriminalização do aborto e mobilizou centenas de mulheres contra um retrocesso. Nos EUA, a maior manifestação daquele país foi protagonizada por mulheres”, disse. A vereadora comentou alguns avanços. “Até 2007, as mulheres tinham que manter o feto mesmo sem cérebro, assim como no caso de estupro. A moral religiosa de vida de cada um vai nos balizar se as mulheres devem continuar morrendo ao continuarem a fazer abortos em clínicas clandestinas”, salientou. De acordo com Fernanda, nos países que legalizaram o procedimento, o índice de abortamento caiu. “Nós não achamos que o aborto é método contraceptivo. Acho que é uma questão de educação sexual. Eu gostaria de ver essa indignação toda diante de homens que abandonam seus filhos”, finalizou. (LV)

A ex-vereadora Jussara Cony finalizou sua participação no debate ressaltando que é mãe de cinco filhos, avó de 19 netos e de 12 bisnetos. “Não considero o aborto como método contraceptivo, mas as mulheres estão morrendo por abortos clandestinos. Estamos trabalhando com seriedade e lutando contra a precarização do trabalho, da violência doméstica, da violência nas ruas e em favor da independência econômica feminina”, concluiu, lembrando a importância da definição de políticas publicas que dialoguem.

Texto: Fernando Cibelli de Castro (reg. prof. 6881)
           Lisie Venegas (reg. prof. 13.688)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)