Escola do Legislativo

Doação de Órgãos é tema de conferência na Câmara

Pioneiro em transplante de pulmão na América Latina, médico José Camargo desfez alguns mitos sobre o tema.

  • Palestra sobre Doação de Orgãos, com o doutor José Camargo
    Camargo entende que escolas podem ajudar a disseminar cultura doadora (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Palestra sobre Doação de Orgãos, com o doutor José Camargo
    Público pode esclarecer dúvidas sobre os requisitos para ser doador (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

A necessidade de definir previamente o desejo de doar órgãos é um dos fatores mais favoráveis para a concretização desse ato, que é um gesto de solidariedade capaz de salvar inúmeras vidas. Também o comprometimento profissional de médicos e profissionais da área da saúde e o apoio dos gestores públicos são essenciais para que os números de doadores e transplantes efetivamente cresçam. Essas informações, entre outros tópicos, foram apresentadas pelo médico José Camargo, em conferência sobre o tema realizada na Câmara Municipal de Porto Alegre, nesta terça-feira (29/11). A atividade foi promovida pela Escola do Legislativo Julieta Battistioli, com o apoio da Fundação Cultural e Assistencial Ecarta, que mantém o projeto Cultura Doadora.

Conforme Camargo, o Rio Grande do Sul, que já foi líder em doações e transplantes, pelo que considera um “certo descaso de gestões anteriores”, agora está retomando o potencial de crescimento, e ocupa, atualmente, o terceiro lugar entre os estados brasileiros que mais realizam esse tipo de procedimento.  

Tecnicamente, segundo Camargo, o Estado, em especial pelo protagonismo da Santa Casa de Misericórdia da capital gaúcha – o primeiro e único da América Latina – está muito bem equipado para a realização de transplantes. O médico informou que 33 mil pacientes aguardam na fila de espera, a maioria por transplantes de córnea e rim, existindo ainda um grande número para cirurgias de pulmão, coração e fígado.

Especializado e pioneiro em transplantes de pulmão no Brasil, Camargo destacou que no país, ao todo, foram realizados 961 transplantes desde 1989. Destes, 540 foram feitos no Rio Grande do Sul e, deles, 525 na Santa Casa. No Estado, 2,5 mil pessoas aguardam por um transplante.

Outro dado importante levantado pelo médico é o de que 72% das famílias, quando instadas a doar os órgãos de familiares com diagnóstico de morte encefálica são sensíveis ao pedido. Mas ele reitera que efetivamente as doações mais consistentes são das pessoas que, antecipadamente a qualquer problema de saúde, demonstraram o desejo de serem doadores. Camargo lembrou que o transplante é o único ato médico que depende diretamente da vontade da sociedade, “para que ela mesma se beneficie, pois sem doadores não há o que fazer”.

O médico ainda destacou que o desenvolvimento social está diretamente ligado ao processo de doações. Ele citou que estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná estão entre os que dispõem de maior número de doadores, ao passo que Paraíba e Maranhão apresentam menores índices.

Na conferência, Camargo referiu que, na Áustria, a doação é compulsória. E, na França, tão normal que os parentes ao receberem a notícia da morte encefálica perguntam qual o tempo para os procedimentos de velório, após a retirada dos órgãos para transplante.

Mitos sobre o tema foram desmistificados pelo especialista em transplantes gaúcho. Segundo ele, não há qualquer chance de que pacientes doadores que entrem em tratamento hospitalar possam ter a morte acelerada por conta desta condição.

Tecnicamente, ele explicou que só podem ser doadores pacientes com diagnóstico de morte encefálica, o que ocorre apenas por trauma, quando há inchaço do cérebro e a interrupção da circulação de sangue e oxigênio. Nesse período, que não ultrapassa a 48 horas, o coração pode ser mantido em atividade por meio de respiração por equipamentos, o que permite, dependendo da situação, o aproveitamento de órgãos para doação, se houver concordância da família. Ainda explicou que, após diagnosticada a morte encefálica - a qual no Brasil se dá por diagnóstico clínico e por exames de imagens como angiografia ou doppler transcraniano -, não há qualquer chance de recuperação.

Entre as sugestões do médico para que uma cultura positiva para a doação se dissemine entre a sociedade e reduza os efeitos negativos provocados por repercussões equivocadas da mídia e a falta de investimentos estão a inclusão do tema na grade curricular do ensino fundamental e médio nas escolas. “As crianças são vetores importantes para a disseminação de uma cultura doadora”, afirmou. O presidente da Escola do Legislativo, vereador Dr. Thiago Duarte (DEM), acompanhou a conferência realizada no Teatro Glênio Peres, no Palácio Aloísio Filho, sede do Legislativo Municipal.

José Camargo

Natural de Vacaria, José de Jesus Peixoto Camargo foi pioneiro em transplante de pulmão na América Latina e no Brasil, tendo realizado o primeiro transplante deste tipo em 1984. Realizou também o primeiro transplante duplo de pulmão do Brasil, idealizou e dirige o Centro de Transplantes da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e é diretor de Cirurgia Torácica no Pavilhão Pereira Filho. É ainda autor de centenas de publicações cientificas e já proferiu mais de 900 conferências em 22 países.

Texto: Milton Gerson (reg. prof. 6539)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)