Plenário

Luta pelos direitos da mulher é tema de debate na Câmara

Dercy Furtado, Télia Negrão e Matilde Cechin debateram com os vereadores e vereadoras

  • Periodo de comunicações no plenário.
    Vereadoras receberam as convidadas especiais da sessão (Foto: Henrique Ferreira Bregão/CMPA)
  • Periodo de comunicações no plenário.
    O Plenário Otávio Rocha na sessão desta quarta-feira (Foto: Josiele Silva/CMPA)

A luta das mulheres pelo direito à saúde, ao trabalho e à participação política foi tema de debate durante o período de Comunicações Temáticas da sessão ordinária desta quarta-feira (1º/3), no plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre. O debate contou com a participação de três mulheres engajadas na luta por reconhecimento de direitos iguais. 

“A mulher é uma vencedora, a que mais trabalha e mais produz para o nosso país”, disse a ex-vereadora e ex-deputada Dercy Furtado, ao iniciar a discussão sobre a importância do assunto na Câmara. "O vereador é que vê a dor do povo", afirmou. Dercy falou sobre como adotou medidas que implicaram na mudança de códigos civis ultrapassados numa época em que a mulher tinha muito menos direitos estabelecidos do que hoje. Contou que ela foi responsável por assegurar que a mulher não sofresse demissão por estar grávida e, também, por mudar o Código Civil, que permitia a "devolução" pelo marido da mulher que já tivesse tido relações com outro homem. “É olhar para trás e ver o que foi feito de bom”, disse. 

A jornalista Télia Negrão, representando a socióloga Enid Backes, afirmou ser uma emoção muito grande representar a colega de luta que atuou em inúmeros movimentos sociais no Rio Grande do Sul. Contou sobre a história de Enid, militante na rede feminista de saúde, que participou em eventos que articularam a forma da participação social da mulher, tendo, entre suas maiores preocupações, a responsabilidade com o planeta. “É uma daquelas pessoas que é capaz de olhar para uma flor e falar sobre ela por horas. Como cada micro-organismo merece ser respeitado.” Segundo Télia, Enid, viúva e com filhos, desafiava a ordem estabelecida de um tempo em que a mulher não tinha direitos garantidos. Mesmo com seu emprego em jogo, Enid foi à frente pelas ruas fazendo a luta das mulheres pela democracia no Brasil. “Nós sabemos que a democracia é o lado certo da história, e, neste momento do país, no dia 8 de março é importante ressaltar os direitos para manutenção de um conjunto de políticas. É necessário que sejam garantidos o direito e a democracia das mulheres”, falou. 

Também falando sobre o tema, a professora Matilde Cechin usou o espaço para criticar a falta de creches. De acordo com ela, no mundo de excluídos, emergiu a multidão de mulheres desprovidas de tudo, dos seus direitos mais elementares, como as creches.  Ela alertou que, neste Mês Internacional da Mulher, é preciso olhar mais para a questão da exclusão de massas sem direito ao mínimo de necessidades básicas. 

Vereadoras e vereadores

Sofia Cavedon (PT) se disse honrada com a presença de três mulheres que lutam pelos direitos. A vereadora falou sobre o projeto Memorial da Mulher, apresentado na Casa, quando estavam planejando o mês de março.  "Este mês não será um mês de flores, porque as mulheres estão organizadas no mundo inteiro para chamar a atenção para a luta das mulheres. O direito da vida das mulheres", disse.

Comandante Nádia (PMDB) lamentou que, a cada 11 minutos, uma mulher é violentada no Brasil e que cerca de 75% dos estupradores são pessoas próximas às vítimas. “As mulheres morrem pelas mãos de quem elas amam. Por isso, neste mês de março, não queremos homenagens. Queremos respeito, igualdade e dignidade”, afirmou.

Fernanda Melchionna (PSOL) defendeu as mulheres trabalhadoras que “são duplamente oprimidas” pelas longas jornadas de trabalho e por realizar o trabalho doméstico que ainda é visto como sendo feminino. “A geração da Dercy Furtado trouxe conquistas fundamentais para a luta das mulheres”, comentou, ao convidar todas as mulheres para participar da paralisação internacional no dia 8 de março, pois, “se as nossas vidas não importam, que produzam sem nós”, expôs.

Idenir Cecchim (PMDB) também falou sobre a trajetória de Dercy Furtado. “A senhora não sabe o bem que fez para a sociedade. Parabéns por ter tido a coragem de lutar dentro de um partido como a Arena. A sociedade lhe deve muito ainda”, afirmou. Cecchim comunicou que, neste mês de março, ele passará a liderança do PMDB na Câmara para Comandante Nádia, como uma forma de honrar as vereadoras da Casa.

Adeli Sell (PT) relembrou a luta das mulheres dizendo que foi muito importante ouvir as histórias contadas pelas convidadas. “Essas mulheres têm nome e deixaram marcas na história brasileira, mas eu preciso lembrar também das mulheres sem nome que estão sofrendo opressão em algum lugar neste momento”, ressaltou.

Luciano Marcantônio (PTB) afirmou que a luta das mulheres é marcada pela bravura e pela coragem que as convidadas presentes representam. “Cada vereador deve ter compromisso em fomentar políticas para as mulheres”, ressaltou.

Rodrigo Maroni (PR) destacou que, apesar dos avanços conquistados, há um atraso no debate sobre o direito das mulheres. “A maior parte dos políticos de nossa frágil democracia ainda é machista”, garantiu.

Dr. Thiago (DEM) cumprimentou a ex-deputada Dercy Furtado e afirmou que, assim como ela, defende um programa de planejamento familiar. “Temos de dar às mulheres a possibilidade de escolher quantos filhos terão. O planejamento familiar é um balizador das esperanças das pessoas”, disse, defendendo também a prevenção ao câncer de mama e de colo de útero.

Em sua despedida, Dercy Furtado agradeceu o convite da Câmara. Afirmou que as mulheres de hoje “devem aprender caratê em vez de dancinhas” e lembrou de sua luta para garantir os direitos das empregadas domésticas. “As domésticas eram um nada, não tinham nenhum direito. Por isso, fui a Brasília e, junto com o deputado Nelson Marchezan, entreguei ao presidente um projeto de lei para reconhecê-las”, lembrou. A ex-deputada finalizou sua participação reforçando a defesa ao planejamento familiar e defendendo o fim do sistema bicameral, com a extinção do Senado.

Texto de: Munique Freitas (estagiária de Jornalismo)
                Cleunice Maria Schlee (estagiária de Jornalismo)
                Paulo Egidio (estagiário de Jornalismo)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)