Cedecondh

Manifestantes relatam agressões de policiais durante protestos

Um grupo de 20 jovens detidos durante manifestações pela redução da passagem de ônibus em Porto Alegre ocorridas nos dias 14, 17 e 27 de junho foram ouvidos hoje (2/7) na Comissão de Direitos Humanos (Cedecondh) da Câmara Municipal. Diante da presidente da comissão, vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), eles relataram as agressões e humilhações que sofreram de policiais militares. "São prisões arbitrárias, pois fazer protesto não é crime", observou Fernanda, que prometeu elaborar um relatório com as denúncias para enviar aos órgãos de segurança do Estado.

Além dos relatos das agressões que sofreram, os jovens denunciaram que presenciaram agressões a outras pessoas detidas, especialmente na sede do 9º BPM, no Centro. Segundo eles, um homem foi espancado atrás de um balcão até ter o rosto desfigurado pelos ferimentos. O fato, disseram, está registrado inclusive em vídeo que circula pela Internet. A pedido dos participantes da reunião, os nomes não serão divulgados. Abaixo, alguns dos relatos:

R..., detido no dia 17: "Não havia depredado nada. Apenas tirava fotos para postar nas redes sociais quando um grupo de PMs do Choque avançou sobre mim na avenida Ipiranga com João Pessoa. Três PMs me pegaram, jogaram num camburão, jogaram spray de pimenta em mim e depois me colocaram num microônibus junto com outras pessoas. Neste período, sofri e presenciei muitas agressões."

M..., detido dia 17: "Fui preso por volta das 20h30, na Ipiranga, quando tentava passar pelo local para voltar para casa. Quando vi, estava no meio de uma nuvem de fumaça, sendo agarrado pelo braço por PMs que me jogaram no chão e me algemaram. Mesmo sem ter feito nada, fui acusado de desordem, desacato e dano ao patrimônio. Fui para o Presídio Central e lá fiquei por 14 horas. Nenhum dos PMs que vi tinha identificação."

C..., 15 anos, detida no dia 17: "Estava na João Pessoa, longe do protesto já, mas a fumaça das bombas me deixou tonta. Corri em direção aos PMs para pedir ajuda, fui levada para trás da linha formada pelo pelotão de Choque, algemada, colocada de joelhos e depois deitada de bruços e com o pé de um PM no pescoço. Depois, no Deca e no DML, fui humilhada, junto com meu pai também."

T..., 17 anos, detido dia 17: "Estava apenas filmando o protesto, junto inclusive de jornalistas que cobriam a manifestação. Então, veio um PM, me imobilizou, algemou e me levou para um microônibus da Brigada. Um PM ameaçava quebrar meu pescoço. Levei um tapa na cara, spray de pimenta nos olhos. Um brigadiano chegou e disse: "Tu pode me procurar na rua depois, mas vai armado". Houve muito abuso de autoridade."

V..., 16 anos, detido no dia 17: "Por volta das 21h, voltava em direção ao Centro pela Ipiranga, quando entrei num posto para lavar os olhos por causa do gás lacrimogêneo. Quando saí do banheiro, seis PMs me prenderam. Tomei chute e tapas e fui arrastado até um microônibus, onde fiquei deitado de cara para o chão. Só consegui avisar minha família a 1h30. Só fui liberado às 7h30. Fui preso sem motivo, apenas porque estava perto, no posto."

A..., detido dia 17: "Eu e alguns amigos íamos pelo Centro, próximo da Praça XV, em direção ao camelódromo, para pegar o ônibus para casa quando fomos abordados por um grupo de 15 PMs. Nos colocaram na parede, levei um soco na têmpora. Fomos levados, algemados, para a sede do 9º BPM e depois para o Palácio da Polícia. Fui liberado às 6h, mas nenhum PM conseguiu dizer porque estávamos presos."

P..., 24 anos, detido dia 17: "Estava indo de bicicleta para a casa de minha namorada e tentei passar por uma barreira próxima de onde ocorriam os protestos. Levei um choque com arma teaser, caí no chão e levei outro choque que me fez defecar nas calças. Fui levado para o 1º BPM, algemado, onde fiquei até as 4h. Depois fui levado ao Presídio Central, onde fiquei numa cela com ratos do tamanho de gatos. Só fui liberado no dia seguinte, às 21h30."

E..., detido dia 14: "Estava num bar na Praça Garibaldi quando fui retirado de dentro por dois PMs do 9º BPM. Me arrastaram para fora do bar pelo pescoço, me deram socos nas costas e na cabeça, me jogaram no chão, em cima de cacos de vidro, pisaram na minha cabeça, me algemaram. Um PM que os colegas chamavam de Pedro me deu um soco na cara quando estava sendo colocado no camburão."

F..., detido dia 17: "Tirava fotos da ação dos PMs na Ipiranga quando uma bomba de efeito moral caiu na minha perna. Depois disso, junto com alguns amigos, decidi ir embora. No Centro, na Salgado Filho, fomos abordados por PMs a cavalo enquanto comprávamos frutas numa banca na rua. Me pegaram pelo ombro. Dois PMs me arrastaram, jogaram os cavalos em cima da gente e nos levaram até o 9º BPM. Quando entrava no local, ainda levei um soco na boca. Só fui liberado pela manhã, sob fiança."

A..., 18 anos, detido dia 17: "Fui detido na Salgado, junto com F..., quando comprava bananas em uma fruteira. PMs a cavalo me puxaram pelos cabelos, me diziam que eu ia pagar pelos outros e que estava sendo acusado de depredação, de agressão a PM e de desacato. Fui algemado e depois levado ao Presídio Central, onde só fui liberado na noite do dia seguinte."

S... relatou ter sido agredida no dia 27: "Estava comendo um pastel em um bar na Rua da República quando vi um grupo de cinco PMs chegar e abordar um rapaz que havia chutado um contêiner de lixo. Eu e outras pessoas nos aproximamos para ver o que ocorria quando veio o Choque e baixou o pau em todos que estavam ali. Levei um golpe de cassetete nas costas e deixei o local. Não sei por que fizeram isso. Havia raiva na cara dos PMs."

F..., detido dia 14: "Estava de bicicleta a uma quadra da Praça Garibaldi, quando fui abordado por PMs, colocado na parede e algemado. Me puxaram pela barba e me colocaram no camburão e depois num ônibus. Todos que entravam no ônibus eram agredidos por um PM que estava na porta. Minha bicicleta ficou no meio da rua."

Texto: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)