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Motoristas do Samu reclamam de más condições de trabalho

Vereadores reuniram representantes dos servidores, do Executivo e entidades  Foto: Tonico Alvares/CMPA
Vereadores reuniram representantes dos servidores, do Executivo e entidades Foto: Tonico Alvares/CMPA (Foto: Tonico Alvares/CMPA)
A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), da Câmara Municipal de Porto Alegre, recebeu, nesta terça-feira (29/3), reclamações e reivindicações do Sindicato dos Condutores de Ambulâncias da Capital referentes às condições de trabalho dos servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O presidente do sindicato, Paulo Rogério da Silva, e o diretor-geral da entidade, Alessandro Souza Rosa, pediram ajuda da Câmara para ter as demandas atendidas.

Paulo Rogério contou que as pautas são antigas. Lembrou que o Samu tem 20 anos e que as dificuldades sempre estiveram presentes, sem solução efetiva. Disse que muitas mortes de pacientes já ocorreram, muitas vezes decorrentes da falta de estrutura e de recursos materiais. “São mortes e mortes que, no mínimo, merecem respeito, e que nunca foram totalmente esclarecidas”, lamentou.

Entre os problemas decorrentes da manutenção precária, citou a falta de ar-condicionado nas ambulâncias, o que estaria expondo os servidores e os pacientes a temperaturas internas de mais de 50 graus no verão. Também disse que uma das viaturas trabalhava com plástico no lugar de vidros quebrados e que já houve caso de um tubo de oxigênio explodir no rosto de um médico. "Ele só não ficou cego porque usava óculos", disse. “Isso é o Samu que temos, porque as oficinas da prefeitura não conseguem consertar uma carroça.”

Paulo Rogério criticou ainda a falta de regulamentação da profissão de motorista do Samu, do não-pagamento de horas extras e do assédio moral a quem reclamar ao Executivo, lembrando que ele mesmo está suspenso e sofre sindicância. “Precisamos que a Câmara tome providências, já que tem papel de fiscalizar a gestão municipal”, pediu. Paulo convidou os vereadores a visitarem as bases do Samu para constatarem os problemas in loco.

Alessandro Rosa, diretor-geral do sindicato, lamentou a baixa remuneração dos condutores de ambulâncias, que, segundo ele, também atuam como técnicos de enfermagem: R$ 836,00 por mês. “É um salário vergonhoso, o mais baixo no Rio Grande do Sul. Em município do Interior com 3 mil habitantes, os condutores ganham mais”, frisou. “Estamos vivendo de benefício e ainda não recebemos pelas 16 atribuições que temos. Queremos receber por isso.”

De acordo com Alessandro, para agravar a situação, os funcionários do Samu estão expostos à falta de segurança e mal têm tempo para almoçar. “Temos só 20 minutos”, informou. Ele contou que está muito difícil atender à população, principalmente nos pontos controlados por traficantes de drogas. Por isso, a categoria reivindica um contato mais direto para acionar a Brigada Militar em caso de necessidade. “Às vezes, o trabalhador do Samu é agredido. Uma colega teve a barriga chutada e colegas já foram corridos com barras de ferro”, lamentou.
   
Brigada e Executivo

O comandante do Policiamento da Capital, tenente-coronel Mário Ikeda, disse que há reclamações de ambas as partes: do Samu e da BM. “Às vezes, fica um esperando o outro chegar”, relatou. “Mas sabemos das carências do Samu, assim como o Samu sabe das nossas. Dentro das prioridades, sempre procuramos atender, mas não temos como dedicar viaturas para acompanhar sempre as ambulâncias.”

Pelo Executivo municipal, a responsável técnica do Samu, Ana Lúcia Maciel, afirmou que as 16 atribuições citadas pelo Sindicato dos Condutores “são estranhas” à SMS. “Desconheço e gostaria que a lista chegasse até mim”, declarou. A enfermeira lembrou que todos os servidores do Samu são concursados e sabem das suas funções. “Não se pode trabalhar hoje somente com técnicos de enfermagem. Os motoristas têm que ajudar, por exemplo, em casos de necessidade de compressão torácica”, disse, referindo-se aos primeiros-socorros que precisam conhecer. 

Sobre a falta de ar-condicionado nas ambulâncias, Ana Lúcia informou que, das 15 equipes do Samu, apenas três estão sem o equipamento funcionando. “Temos mais sete ambulâncias reservas, das quais a maioria realmente está sem ar”, admitiu. Já a respeito das mortes de pacientes denunciadas por Paulo Rogério, a enfermeira afirmou que não há dados detalhados, devendo ser investigadas com profundidade para constatar alguma eventual relação com as deficiências das ambulâncias. 

O secretário-adjunto da saúde, Jorge Cuty, comentou as reclamações. “Não concordo que a falta de ar-condicionado possa provocar as mortes de pacientes. Isso não é correto”, disse. Sobre a manutenção das ambulâncias, informou que o contrato com a oficina responsável pelo serviço teve de ser cancelado, mas que uma nova licitação foi feita, e os consertos iniciarão em breve. Indagado pelo vereador Kevin Krieger (PP), Cuty ainda informou que o texto do futuro projeto de lei para regulamentar a profissão de motorista de ambulância está em avaliação na Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico e Orçamento.     

Encaminhamentos

Com base nas sugestões dos vereadores presentes e dos convidados, a presidente da Cosmam, vereadora Lourdes Sprenger (PMDB), anunciou os encaminhamentos da reunião. Antes lembrou que o Sindicato do Condutores de Ambulância entregou à comissão um dossiê com todas as reivindicações e reclamações. Ela pediu que o Executivo envie à Câmara o contrato da nova empresa de manutenção de viaturas e dados sobre a política salarial e a regulamentação dos motoristas.

Lourdes frisou a necessidade de averiguar as causas de mortes de pacientes atendidos pelo Samu, além das denúncias de horário reduzido de almoço dos servidores das ambulâncias e da insalubridade nas viaturas. “Também vamos agendar uma visita às bases do Samu”, acrescentou. “Nossa intenção é buscar soluções e encerrar essas pautas, que vêm de muito tempo.” 

Além de Lourdes e Kevin, participaram da reunião os vereadores Dr. Goulart (PTB), Mario Manfro (Rede) e Paulo Brum (PTB). Também compuseram a mesa representantes do Sindicato Médico do RS, do Ministério Público do Estado, da Secretaria Municipal de Administração, da Vigilância em Saúde e do Sesc.

Texto: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)