Brechó da Humanidade homenageia Hanna Arendt
A peça será encenada no sábado e no domingo, às 19 horas, no Teatro Glênio Peres
Já estão disponíveis os ingressos (gratuitos) para a peça Brechó da Humanidade – Uma alegoria sobre a vida e os amores de Hanna Arendt, que será encenada às 19 horas deste sábado (22/10) e no domingo (23/10), na II Mostra de Artes Cênicas e Música do Teatro Glênio Peres, da Câmara Municipal de Porto Alegre. Com direção de Liane Venturella, o espetáculo integra o Projeto Solos Animados, tendo no palco o ator Rudinei Morales, que presta uma homenagem aos 110 anos da filósofa alemã, comemorados em 14 de outubro de 2016.
As entradas devem ser retiradas no Memorial da Câmara (Avenida Loureiro da Silva, 255, térreo), das 9 às 12 horas e das 14 às 18 horas, até sexta-feira (21/10), ou no saguão do Teatro Glênio Peres uma hora antes do início da peça. Classificação indicativa de idade: 14 anos. Nos dias das apresentações, o público deverá entrar pelo pórtico lateral da Câmara. A portaria da rampa estará fechada. Assim como os ingressos, o estacionamento é gratuito. Informações: (51) 3220-4318.
A peça
Em forma de teatro de objetos, Brechó da Humanidade inspira-se na vida de Hanna Arendt, judia nascida na cidade de Linden, Alemanha, em 1906. Uma das mais importantes pensadoras do século XX, ela testemunhou as duas grandes guerras, regimes totalitários e especialmente as atrocidades cometidas pelo Nazismo. Em seus livros, combateu o autoritarismo e alertou para o que chamou de "banalização do mal". A peça, porém, não se atém apenas à ascensão e à queda do III Reich e ao Holocausto, mas avança até a ditadura militar brasileira implantada em 1964, recordando fatos históricos.
Morales encarna o personagem Bibico Borges, proprietário do Brechó da Humanidade, onde recebe o público na porta de entrada. Após a chegada dos convidados, ele passa a contar a história de Hanna, movimentando objetos antigos que estão sobre uma mesa e no chão. São luminárias, campainhas, chaves, pregos, martelo, relógio, tesoura, prendedores de roupa, peças de xadrez, caixas e um cortinado, que evocam um antigo mercado de pulgas e ganham significados na narrativa. “A ideia é humanizar aquilo que, aparentemente, não possui humanidade, transpor a materialidade, encontrando na sutileza das formas a palavra não dita, e assim a imagem que descreve o que não está escrito”, explica o ator, que também é cenógrafo premiado com o Troféu Açorianos de Cenografia de 2008. A trilha sonora original é de Álvaro Rosa Costa.
Hanna e Heidegger
Em 1924, a judia Hanna Arendt conheceu o também filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), nacionalista assumido e seu professor na universidade, pelo qual se apaixonou. “Apátrida em 1933, Hanna vai da França aos Estados Unidos em fuga até 1941, quando estabelece uma nova vida como jornalista”, conta Morales. “O ponto nevrálgico dessa história é o amor que se perpetuou entre esses dois personagens ambíguos, até a morte de Hanna, em 1975”, em Nova York.
Conforme o ator, o projeto Solos Animados encontrou, na vida da filósofa, a perspectiva para lançar foco em questões que ainda merecem discussão. “A partir de uma história de amores e desilusões, de fugas e enfrentamentos, a protagonista empresta argumentos para uma encenação repleta de significados e sutilezas”, afirma. “A ascensão do 3º Império Alemão é, por definição, uma ditadura. Assim, é uma consequência falar do regime militar brasileiro, portanto este assunto também é um argumento para a construção da dramaturgia do espetáculo. Falar de pessoas que perderam pessoas nos lembra das nossas próprias perdas. Os dois eventos, na Alemanha e no Brasil, produziram cenas fortes demais para serem esquecidas.”
Texto e edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)