Comissões

Brigada alerta para ambiente de violência pré-Gre-nal

Comandante disse que grupos de torcedores estão trocando provocações nas redes sociais

Vereadores, representantes do Juizado do Torcedor, das Polícias Civil e Militar, dos clubes Grêmio e Internacional, entre outros, discutem a violência das torcidas organizadas.
Vereadores da Cedecondh receberam representantes dos clubes e autoridades (Foto: Luiza Dorneles/CMPA)

Se as mensagens em redes sociais captadas pela inteligência da Brigada Militar, envolvendo torcedores da dupla Gre-nal, se confirmarem, uma verdadeira batalha campal, com consequências imprevisíveis, nas imediações do Estádio Beira-Rio, será o ponto alto do clássico desta quarta-feira (21/3), em Porto Alegre. O porta-voz do intercâmbio de farpas entre torcedores foi o tenente-coronel Cláudio dos Santos Feoli, comandante do Policiamento da Capital, em reunião da Comissão de Defesa do Consumidor e Segurança Urbana (Cedecondh) intitulada “A selvageria das torcidas organizadas que prejudicam os clubes e assustam a população”. 

A reunião foi presidida pelo proponente do evento, vereador João Bosco Vaz (PDT). Participaram ainda a presidente da Comissão, vereadora Comandante Nádia (PMDB), a vereadora Mônica Leal (PP) e os vereadores Ricardo Gomes (PP), Prof. Alex Fraga (PSOL) e Marcelo Sgarbossa (PT). Também estiveram presentes dirigentes da Federação Gaúcha de Futebol, da Polícia Civil, da Guarda Municipal e dirigentes da dupla Gre-nal.

Segundo Feoli, os grupos estão se ameaçando, combinando pontos de quebra-quebra e até debatendo as técnicas de emboscada. Para conter o ambiente de desordem, a BM está mobilizando 650 homens, entre os quais 250 do Batalhão de Operações Especiais (BOE), 40 cavalarianos e o helicóptero mais moderno da corporação, equipado com uma câmera infravermelho de altíssima capacidade de aproximação e capaz de identificar o rosto de indivíduos, mesmo na altitude e à noite, de modo a produzir prova penal. O restante do contingente será deslocado dos diversos batalhões de Porto Alegre. 

“Enquanto esses homens estarão mobilizados e esse helicóptero estará monitorando o entorno do estádio, carros serão roubados, pessoas serão furtadas e as facções se sentirão livres para trocarem tiros de fuzis nas regiões conflagradas da cidade”, advertiu o comandante. Segundo Feoli, a violência entre torcidas de Porto Alegre não ocorre somente pela infiltração de delinquentes nas organizadas, mas também porque as redes sociais encorajam a formação de grupos de intolerância e ódio. “Do analfabeto ao pós-doc. Todos participam das trocas de mensagens”, detalhou o policial. “Houve uma tocaia dentro do Marinha do Brasil no Gre-nal 413. As pessoas perdem a noção”, complementou, o comandante do CPC. 

Monica Leal se definiu como “entre a surpresa e o choque diante do aparato policial necessário à manutenção da ordem em gre-nais. Ela adiantou que pretende desarquivar um projeto de sua autoria, proibindo a venda de bebidas alcoólicas nas imediações dos estádios.

Estatuto

O responsável pelo Juizado dos Torcedores, juiz de Direito, Marco Aurélio Xavier, alertou para a impossibilidade legal de proibir as torcidas organizadas, pois estão autorizadas no Estatuto do Torcedor que trata da Legislação vigente sobre o futebol e os eventos esportivos, aprovado no âmbito do Congresso Nacional. Para ele, apesar do clima de baderna e de agressão, é preciso apostar em mudanças de paradigma, por meio da educação, da conscientização e da retirada dos estádios dos indivíduos causadores de problemas. “Se busca a qualificação do Gre-nal enquanto espetáculo. As torcidas organizadas fazem parte da história do futebol brasileiro e estão autorizadas”, defendeu Xavier. 

O titular da Promotoria Especial do Torcedor (que funciona nos estádios  durante os jogos), Márcio Bressani, detalhou toda a atividade do Ministério Público desde que esse departamento foi criado. Foram realizadas reuniões de conscientização com chefes de torcida em que o protocolo de segurança pública de manutenção da ordem foi exaustivamente exposto. 

Entretanto, alerta o promotor, os clubes poderiam fazer mais para ajudar as autoridades. “Falta reconhecimento facial nos estádios. Para ele, se existe crime organizado dentro das torcidas, os clubes precisam facilitar o acesso às informações. Bressani garantiu que os torcedores afastados dos estádios estão sendo monitorados. Aqueles que desrespeitam a norma de se apresentar numa delegacia de polícia em horário de partidas, estão recebendo tornozeleiras eletrônicas e na reincidência alguns são recolhidos ao sistema prisional, na forma da lei. 

“O protocolo foi exaustivamente explicado aos chefes de torcida”, reforçou o representante do Ministério Público. Bressani sugeriu ainda que Grêmio e Internacional adotem o regimento dos demais clubes sociais da cidade e expulsem de seus quadros os torcedores brigões. “Os dirigentes são responsáveis pelo controle das ações de agressão. Deveriam suspender e expulsar quem não se comporta adequadamente”, sugeriu.

Clubes

O diretor do Conselho da Administração do Grêmio e ex-vereador, Kevin Krieger, afirmou que, da parte do Grêmio, houve avanços com instalação de sistema biométrico nos portões das organizadas, mesmo diante da resistência de torcedores, dirigentes e conselheiros. Outro aspecto levantado por Krieger é quanto aos ingressos distribuídos pelos dois clubes aos grupos organizados. “Os torcedores do Grêmio que ganham ingressos do clube para entrar no Beira-rio têm o nome e o número da carteira de identidade gravados no documento de entrada. O mesmo ocorre com os do Internacional que frequentam a Arena”, exemplificou. Conforme Krieger, a orientação do presidente do Grêmio para torcedores fora da linha é tolerância zero. “Expulsamos do estádio três pessoas que ligaram sinalizadores na final da Recopa”, enfatizou o dirigente gremista.

O presidente da Camisa 12 colorada, Maurício de Melo, disse que nem sempre as brigas saem de dentro das organizadas. Ele afirmou que sua torcida agrega muitas famílias, mulheres e crianças e quer aglutinar mais pessoas desses segmentos como elemento pacificador. Na opinião do chefe de torcida, muitas brigas começam fora das organizadas por agrupamentos que se provocam nas redes sociais. 

Homicídio

O presidente da Associação Gaúcha de Cronistas Esportivos, Alex Bagé, disse que os autores de delitos são conhecidos dos dirigentes, que por razões políticas, fazem vistas grossas. “Os baderneiros são sempre os mesmos e todos sabem quem são. No seu entendimento, os clubes têm como identificar e deveriam ser responsabilizados. “Precisam depurar. Os rostos são conhecidos. Postam no Facebook os vídeos da baderna”, informou. Conforme Bagé, as brigas de torcidas estão cada vez mais violentas com arremesso de pedaços de concreto. “Isto é tentativa de homicídio. As diretorias dos clubes sabem quem são”, reforçou. 

O representante da EPTC Paulo Ramiro apelou para o efetivo videomonitoramento do transporte coletivo. Ele alertou que dezenas de ônibus são depredados em dias de Gre-nal ou de partidas importantes. Denunciou ainda que os passageiros comuns são constrangidos a descer dos ônibus, pois os grupos ocupam o interior do coletivo e definem quem sai  e quem pode prosseguir na viagem.

Texto: Fernando Cibelli de Castro (reg. prof. 6881)
Edição; Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)