Participantes do Adote um Escritor reclamam do descaso da prefeitura
Escritores, editores e integrantes da Câmara do Livro lamentaram desmonte dos programas de incentivo à leitura.
A Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre promoveu reunião na tarde desta terça-feira (22/5) para tratar sobre a eleição do novo Conselho do Plano Municipal do Livro e da Leitura (PMLL) e as verbas destinadas a ele, assim como sobre o Programa Adote um Escritor. Devido à ausência de representante da Secretaria Municipal da Cultura, não foram discutidas as duas primeiras pautas.
Proponente do encontro, a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), que preside a Frente Parlamentar do Livro e da Leitura na Câmara, lamentou o desmonte de políticas públicas do livro e da leitura em Porto Alegre, lembrando que em 2017 o Adote um Escritor foi realizado com menos de 20% da verba habitual. Segundo ela, mesmo que estejam destinados R$ 400 mil ao programa neste ano, existem problemas com as entidades promotoras, o que deve prejudicar a sua execução. Quanto ao Plano Municipal do Livro e da Leitura, cobrou a abertura do edital e a montagem de um comitê gestor, para esclarecimentos sobre a aplicação dos recursos.
O coordenador das Relações Institucionais da Secretaria Municipal da Educação de Porto Alegre (Smed), Vinícius Escobar, explicou que, devido ao atraso do início do ano letivo, o Adote um Escritor foi organizado tardiamente. Segundo ele, o programa ocorrerá de forma normal, mesmo com a ausência de parceria com a Câmara Riograndense do Livro (CRL) pela primeira vez nos 17 anos do Adote. “Foi uma surpresa a Câmara Riograndense do Livro não querer participar, mas temos que dar continuidade, porque é um programa da cidade”, comentou.
Isatir Antônio Bottin Filho, presidente da Câmara Riograndense do Livro, relatou que os programas de leitura são feitos, geralmente, no início do ano. Segundo ele, a instituição procurou a Smed para selar a parceria e só conseguiu contato com o secretário por meio de audiência. Na ocasião, ficou acordado que a CRL participaria da realização do Adote um Escritor. Isatir conta que no início deste mês de maio, devido à falta de contato da Secretaria sobre o assunto, a CRL rompeu a parceria por sua inviabilidade.
O presidente da Associação Gaúcha de Escritores (AGES), Christian David, lembrou que a Câmara Riograndense do Livro é uma das criadoras do Adote um Escritor, juntamente com a Smed, ressaltando saber do desejo da CRL em continuar participando do programa em 2018. “Infelizmente eles (a CRL) estão fora agora, e nos preocupa que as deficiências que tivemos ano passado se repitam”, disse. Segundo ele, por questões de documentação, 10% dos escritores programados não puderam participar em 2017. “Sem a curadoria da Câmara do Livro, quem orientará os professores?”, questionou.
Menos autores convidados
Outros participantes da reunião também trouxeram questionamentos e esclarecimentos sobre o assunto. Segundo Sônia Zanchetta, integrante da CRL, há um problema com a lista de escritores, que foi enviada às escolas sem um convênio firmado com a Câmara do Livro. Sem essa confirmação, o número de autores convidados para a Feira do Livro foi diminuído, relata Sônia, o que pode prejudicar a participação dos escritores nas escolas. Sônia relatou também que, na edição passada, a CRL foi chamada, com o programa já em andamento, para ajudar somente em questões financeiras.
Ana Beatriz Domingues, professora da Emef Senador Alberto Pasqualini, também demonstrou desagrado com a lista de escritores recebida e com demais questões procedimentais do programa. Clô Barcellos, proprietária da Editora Libretos, mostrou-se preocupada com a ausência da curadoria que era feita pela CRL. “Estaríamos mais tranquilos com uma curadoria”, disse.
Chamado para tratar do orçamento destinado ao Adote um Escritor, o secretário municipal da Fazenda, Mário Jaime Gomes de Lima, ressaltou que a Capital tem gasto valores expressivos com educação. Segundo ele, os R$ 400 mil destinados ao programa fazem parte do chamado tesouro livre, que têm sofrido problemas. “Tendo recursos, nós faremos aquilo que as políticas públicas exigem na sua definição, a partir do orçamento público”, explicou.
Reginaldo Pujol (DEM), como presidente da reunião e integrante da Frente Parlamentar do Livro e da Leitura, informou que a Comissão irá discutir internamente a situação do Plano Municipal do Livro e da Leitura (PMLL) e seu edital, buscando esclarecimentos com o coordenador do PMLL, Sergius Gonzaga.
Também estiveram presentes na reunião os vereadores Alvoni Medina (PRB) e Cassiá Carpes (PP), assim como o presidente da Associação Riograndense de Bibliotecários, Alexandre Demétrio.
Texto: Adriana Figueiredo (estagiária de Jornalismo)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)