Blocos de carnaval pedem valorização da cultura popular
Representantes de blocos, prefeitura e órgãos de segurança participaram nesta terça-feira (5/11) de reunião da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre para tratar sobre a organização do carnaval de rua na Capital. Os participantes da festa defendem a possibilidade de blocos realizarem suas apresentações de forma independente, sem aderir ao edital que deverá ser publicado em dezembro pelo Executivo, bem como maior flexibilidade de datas e locais para a realização dos desfiles.
Conforme o vereador Engenheiro Comasseto (PT), proponente da reunião, o processo de auto-organização dos blocos cresceu significativamente nos últimos anos e vem enfrentando entraves, sendo necessário “pensarmos e tratarmos junto com o poder público as atividades do próximo carnaval”. O objetivo, segundo ele, é construir uma celebração “diversificada, descentralizada e com harmonia”.
O presidente da Liga de Blocos Descentralizados de Porto Alegre, Otávio Pereira, lamentou a relação difícil da entidade com a prefeitura no último período. “Não é justo trabalharmos o ano todo e quando chega o carnaval ficamos engessados por um edital”, afirmou. Ele reivindicou que, não havendo conflito de data e local, os blocos que não aderirem ao carnaval oficial também possam realizar seus eventos.
Para o pesquisador Fábio Lopes de Oliveira, que também atua como ritmista em escola de samba e participa de blocos de carnaval, a celebração precisa ser compreendida como um referencial da população negra da Capital. “O carnaval é uma manifestação cultural que, em Porto Alegre, nasce praticamente junto com a cidade. É uma manifestação democrática que não cabe em um edital”, afirmou. Ele ainda destacou que é preciso respeitar a territorialidade, citando que a área central, incluindo a Cidade Baixa, são espaços tradicionais da população negra e de sua expressão cultural.
Secretário municipal adjunto da Cultura, Giovani Tubino reconheceu que o edital passado gerou alguns problemas e afirmou que a prefeitura trabalha para corrigir as falhas e “fazer o melhor carnaval possível para todos”. Ponderou, entretanto, que nas reuniões sobre o tema sempre falta algum ator – representantes de blocos, moradores, Ministério Púbico, órgãos de segurança - e que por isso é difícil chegar a um consenso. Sobre a possibilidade da realização de eventos por blocos independentes no período do carnaval oficial, informou que isso poderá ser autorizado mediante cadastro junto ao Escritório de Eventos da prefeitura.
Natália Medeiros, representante do Escritório de Eventos, explicou que a organização do evento será mantida em duas etapas: o credenciamento dos blocos – que neste ano deverá ocorrer com maior antecedência – e o edital que prevê a estrutura a ser disponibilizada nos dias de desfile. Informou, ainda, que o órgão já está recebendo as inscrições para atividades dos blocos independentes.
Para Luciano Fernandes, presidente do Conselho Municipal de Cultura, os blocos de carnaval também são importantes para suprir a carência de alternativas de arte para a juventude, possibilitando “que essa nova geração também possa se manifestar”. Sobre os eventos independentes, salientou que há manifestações artísticas e culturais que não são blocos e que também querem espaço.
Já Moreno Brasil Barrios, representante do Conselho Estadual de Cultura, destacou que a prefeitura deve zelar pelo cumprimento do Plano Municipal de Cultura, o qual prevê o resgate das culturas populares – que é o caso do carnaval em Porto Alegre. Para ele, é preciso fazer um debate mais amplo sobre o tema, abordando a dimensão simbólica e cidadã da festa.
Como encaminhamento da reunião, o presidente da Cece, Professor Alex Fraga (PSol), sugeriu a realização de um encontro público, com ampla divulgação, onde a prefeitura possa apresentar as diretrizes do edital do carnaval de rua e o regramento para ocupação dos espaços públicos pelos blocos independentes antes que os documentos sejam finalizados a fim de ouvir as sugestões dos participantes. O secretário Giovani Tubino também informou que as propostas apresentadas na reunião da Cece serão avaliadas para serem incluídas na redação do edital e do regramento.
A atividade contou com a presença dos vereadores Alvoni Medina (Republicanos), Cassiá Carpes (PP) e Mauro Zacher (PDT); do Major Osório, representando a Brigada Militar; Glauber Zilio, representando a Guarda Municipal, Luciano Melo, representando a EPTC; Andrea Morais, representando o DMLU; e representantes de ligas e blocos de Carnaval.