PLENÁRIO

Câmara homenageia os 50 anos da Agapan

Sessão Ordinária com Período de Comunicações e ordem do dia.
Francisco Milanez e a vereadora Lourdes Sprenger (MDB) (Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA)

O primeiro Período de Comunicações da sessão híbrida - metade de forma remota, através da plataforma Zoom, metade presencialmente, no Plenário Otávio Rocha -  desta segunda-feira (10/5) foi dedicado a homenagear os 50 anos da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). A proposta foi apresentada pela vereadora Lourdes Sprenger (MDB). Ela salientou o alto nível de especialização dos integrantes da associação e elogiou a importância do trabalho de alertar, conscientizar, protestar e agir em defesa da natureza ao longo deste período.  Lembrou nomes históricos para a Agapan e para Porto Alegre como os dos ex-presidentes José Lutzenberger, Augusto Carneiro, Caio Lustosa e Alfredo Gui Ferreira e a luta dos ex-vereadores Beto Moesch (PP), Cláudio Sebenello (PSDB) e Sebastião Melo (MDB). Entre as principais lutas da associação, citou a pelo tombamento da Mata Atlântica, a pela vedação de novas construções na Orla do Guaíba, a contra o uso indiscriminado de agrotóxicos e em favor de regras de uso e rotulagem dos alimentos transgênicos. Lourdes destacou, em especial, a qualificação profissional do atual presidente, Francisco Milanez, biólogo e especialista em análise de impactos ambientais, mestre e doutorando em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A vereadora afirmou, também, que os animais, quer silvestres, domésticos ou exóticos, estão inseridos no meio ambiente, de modo que, defender nossos recursos naturais é defender também os animais e todas as outras espécies de vida. Em sua fala, o presidente da Agapan agradeceu à homenagem e fez um retrospecto de toda a caminhada da associação. Disse que, quando ela começou, em 1971, Porto Alegre era uma cidade triste, sem flores, porque as árvores eram decepadas no inverno e mal conseguiam rebrotar na primavera. Lembrou que a Capital tinha o que chamou de chagas com a mineração em seus morros, que, em 1972, ela fedia a ácido sulfúrico por causa de uma empresa norueguesa chamada Borregaard e que a luta, vitoriosa, para que ela fechasse ou tratasse seus afluentes durou dez anos. Em seguida, destacou o simbolismo e a importância do gesto de três estudantes que, em fevereiro de 1975, subiram numa árvore, em frente à Faculdade de Direito, para impedir que ela fosse derrubada para a construção de um viaduto porque, diziam, não havia como se alterar o projeto. Alteraram, e a árvore está lá até hoje. Milanez citou, ainda, a importância da criação da primeira coleta seletiva do país, em 1974, da primeira secretaria do meio ambiente, em 1975 e das primeiras leis ambientais, a luta pela conservação do Parque Itapuã, do Parque do Lami e do Parque do Delta do Jacuí, a luta que culminou com a inclusão na Constituição do Estado, da obrigatoriedade de Consulta Popular para que se possa instalar uma usina nuclear em seu território, a lei de recursos hídricos, de obrigatoriedade de tratamento dos resíduos do Pólo  Petroquímico, a primeira lei sobre o uso de agrotóxicos do Brasil, escrita, segundo ele, dentro da Agapan. O ativista confirmou e comemorou, ainda, fato citado pela vereadora Mônica Leal (PP), de que, hoje em dia, a questão ambiental passou a ser de domínio público entre as crianças. Afirmou que diria que 100% da população jovem é ligada à natureza, mas, falta a possibilidade de contato direto com ela. Que o lema da Agapan é A Vida Sempre em Primeiro Lugar, mas, sem fazer distinção entre os vários tipos de vida. A teia da vida, disse, é interdependente, se um adoece, todos adoecem, se um vive bem, todos vivem bem. Milanez considera que estamos doentes e que a maior doença que nós temos hoje é a desconexão com a natureza. Disse que as crianças crescem dentro de apartamentos e têm medo até de deitar na grama, porque pode ter aranha, o que estaria, segundo ele, prejudicando até mesmo o desenvolvimento do cérebro delas, fato que seria confirmado pela ciência. Que vivemos numa sociedade a egoísta, solitária e deprimida, que quem mais está lucrando é quem vende remédios para a depressão. O dirigente destacou que Porto Alegre é pioneira em termos internacionais, porque, mesmo organizações como o Greenpeace e os Amigos da Terra só nasceram depois da Agapan, e eles eram conservacionistas, algo que já existe há séculos. Milanez disse que a associação considera importante discutir os valores humanos, a forma de se desenvolver e de produzir e não apenas o tratamento dos efluentes. Afirmou que seus integrantes lutam pela saúde do sistema como um todo, que esta pandemia é fruto do desequilíbrio ambiental e da fragilidade das pessoas, em especial as ambientalmente prejudicadas, com os seus sistemas imunológicos deprimidos. Que a Agapan doou a Porto Alegre a sua vida, que seus colaboradores não têm e jamais tiveram qualquer tipo de remuneração e sequer uma sede possui. Defendeu que precisamos aprender a festejar as nossas coisas, que nós temos aqui uma referência internacional, o único prêmio Nobel, alternativo, jamais conquistado pelo país, o do meio ambiente, com José Lutzenberger. Chamou o químico e perito criminalista Flávio Lewgoy de um gigante geneticista, lembrou de sua luta contra as dioxinas e metais pesados e disse que ele serviu de referência para muitas Organizações Não-Governamentais e que eles têm orgulho desta sua história e contam com a Câmara Municipal para nós reconstruirmos a alegria e a saúde da nossa cidade, que, sendo uma Capital, influencia todas as outras cidades. Por fim, afirmou que estamos destruindo o clima, a ludicidade (prazer, recreação, diversão) e a beleza de nosso município e que não podemos permitir que se faça mineração de carvão a céu a aberto, o que viria na contramão da história, já que este tipo de exploração e fonte de energia está sendo abandonada no mundo todo. 

Texto

Joel Ferreira (Reg. Prof. 6098)

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