Comissão

Cece debate práticas de alfabetização em tempos de pandemia

Objetivo da reunião foi de trocar experiências de aprendizado entre escolas municipais e particulares

  • Reunião sobre recuperação do ensino durante o período de pandemia. Na foto, representante do colégio Israelita, Janio Alves.
    Janio Alves disse que o Colégio Israelita criou um plano de ensino à distância (Foto: Martha Izabel/CMPA)
  • Reunião sobre recuperação do ensino durante o período de pandemia. Na foto, representante da associação Aldeia Fraternidade, Claudia Nahra.
    Claudia Nahra explicou que a Aldeia da Fraternidade distribuiu cestas básicas a famílias de alunos (Foto: Martha Izabel/CMPA)

A Comissão de Educação, Cultura Esporte e Juventude (Cece) da Câmara Municipal de Porto Alegre realizou reunião, nesta terça-feira (18/5), para debater sobre o tema Alfabetização - Recuperação do tempo perdido. O objetivo da reunião foi de trazer experiências de aprendizado no ensino de escolas particulares que possam ser aplicados na rede de ensino municipal.

A presidente da Comissão, vereadora Fernanda Barth (PRTB), abriu a reunião dizendo que vários pais e professores estão preocupados com a perda de um ano e meio de aulas, em uma fase tão fundamental em que muitas vezes os pais em casa não conseguem dar conta desse processo. “Queremos apontar, nessa reunião, um caminho para que consigamos ser colaborativos e ativos para essa pauta. Podemos sugerir algo que seja bem feito nas escolas particulares para sugerir que seja praticada pela Secretaria Municipal de Educação (Smed)", explica a vereadora.

Escolas

Janio Alves, representante do Colégio Israelita, relatou sua experiência na escola em relação ao acompanhamento da aprendizagem dos alunos em tempos de pandemia. “O principal processo foi, através do sistema remoto, de colocar as evidências nesse novo tempo de pandemia no aprendizado. No primeiro momento migramos de uma atividade presencial para a virtual, e assim os professores se adaptaram a esse formato”, ressaltou o professor. Segundo Janio, os professores conseguiram se adaptar rapidamente e, em seguida, foram para o remoto emergencial, que consiste na expectativa de aprendizagem, adoção de estratégia de aprendizagem. Com base nisso, foi criado o plano de ensino à distância.

Foi feito um mapeamento de indicadores, e esse modelo trouxe uma série de aprendizados, podendo trabalhar com os alunos de uma maneira mais personalizada. “A cada dia complementamos com mais informações que atendessem a necessidade de cada aluno. Tínhamos até nove aulas/dia ao vivo.” As estratégias utilizadas foram: a flexibilização do plano curricular, personalização analisando os níveis de proficiência e análise de currículo.

Na escola existem 20% dos alunos que são oriundos de ensino público. Então, foi avaliado em que condições eles conseguiam assistir as aulas e qual o impacto causado em suas famílias. “Vencidos esses obstáculos, avaliamos os diagnósticos, e conseguimos fazer um detalhamento mais informativo e detectamos o desempenho de cada aluno”, explica. Assim, conforme Janio, tendo os professores mais empoderados sobre esse processo, a escola partiu para uma avaliação externa na qual se conseguiu avaliar o que foi feito ao longo do ano e detectar se houve defasagem, que de fato foi mínima.

Claudia Nahra, representante da Aldeia da Fraternidade, explicou que, por ser uma escola comunitária, o trabalho é feito através de projetos e com currículo mosaico dos alunos. “Em 2020 se comprovou que nem sempre a teoria se aplica na prática, e o desafio desse ano nos trouxe o processo do ensino híbrido para as crianças e de como seria esse acesso para o aprendizado.” Segundo a professora, foi atrelado à entrega de atividades a entrega de cestas básicas, pois muitas delas iam à escola principalmente para se alimentar. “Nós aprendemos que não existe o aprendizado se elas não tiverem o que comer. Temos 158 estudantes nas escolas e identificamos 30 crianças que não tinham acesso a computadores, e a escola foi atrás de doações para essas crianças; porém, o acesso a internet ainda era um problema”, ressalta.

Nesse período, segundo Claudia, ocorreu uma evasão muito grande, pois os pais tinham mais interesse pelas cestas básicas do que na educação de seus filhos. “Nesse momento, vimos que seria importante ter a interferência de uma assistente social para intermediar esse processo. Temos três métodos de aprendizagem na escola: oficinas, projetos e metodologia.” Ela acrescenta que a Aldeia teve o cuidado com os professores para que eles fossem alfabetizadores, e isso facilitou o processo integral, com projetos pela manhã e oficinas à tarde.

Eduardo Castro, representante do Colégio João Paulo I, contou que o colégio já estava preparado, pois tinha um cadastro virtual de todos os alunos. Os professores, no entanto, não estavam preparados, o que obrigou a escola a habilitar professores e alunos para esse novo processo de aprendizado. “No primeiro semestre passamos por um processo de adaptação e começamos a fazer diagnósticos. Ao longo do segundo semestre, direcionamos os alunos para a sua identidade através de projeto de vida e criamos o Clube da Empatia. Assim também conseguimos combater o bullying”, comenta. A partir disso, foi feito um trabalho em conjunto com psicólogos, incluindo os alunos em um processo psicológico e pedagógico para que as competências fossem bem desenvolvidas.

Smed

A secretária adjunta da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Marília Ângela Paupério Gandolfo, reconheceu que nem sempre as estratégias feitas pela Secretaria conseguem alcançar todos os alunos, principalmente quanto à questão digital. Ela destacou como são feitos os procedimentos pedagógicos. “Fazemos reuniões semanais com os professores, depois com as equipes pedagógicas, ouvindo relatos de práticas que têm tido sucesso. Criamos um site chamado Conexão em Rede, e esse site tem ações estratégicas”, ressalta Marília.

De acordo com a secretária, foi feita uma pesquisa com os professores no sentido de saber o que de fato está dificultando o aprendizado dos alunos. “Entramos em contato com universidades para trocar experiências e iniciamos aulas de reforço presencial com os nossos alunos que têm mais dificuldades.” Marília destacou ainda que as escolas municipais não têm uma matriz curricular nem habilidades curriculares como nas escolas particulares e agradeceu pela disponibilidade de compartilhar com representantes do ensino particular suas experiências. “Nosso objetivo é criar um esboço de matriz e encaminhar para esta comissão, tendo o apoio dos professores de ensino particular, e buscar aperfeiçoar nosso currículo.”

Outro projeto que a Smed possui é criar um programa de condução de fluxo, a fim de poder diagnosticar quais são os indicadores de aprendizado, para que assim possa avaliar a qualidade do serviço que está prestando. “Estamos buscando também uma ampliação de wifi e compra de mais computadores”, finaliza a secretária adjunta.

Vereadores

A vereadora Mariana Pimentel (Novo) disse que tem visitado a rede municipal e privada, e o grande objetivo é de trocar melhores práticas de ensino. “Um exemplo que eu ouvi, na escola da Bom Jesus, é da necessidade de se trocar melhores práticas de ensino para que se consiga recuperar o ano de 2020 e que, em 2021, a educação consiga prosperar. O Colégio Israelita é um exemplo disso, lá existem bolsistas oriundos de escolas públicas e que tiveram esse ganho de aprendizado.”

A vereadora Daiana Santos (PCdoB) destacou que “o debate em si é pertinente para se pensar em ações que sejam propositivas para a educação. Pensar em formas de retomar essas atividades e organizar essas ações”.

O vereador Giovane Byl (PTB) informou que, na Capital, o bairro Bom Jesus possui o menor IDH da cidade. E ressaltou que “a falta de estrutura para ter internet nesse local dificulta o acompanhamento e o aprendizado de diversas crianças carentes”.

Encaminhamentos

Os vereadores da comissão acreditam que trazer maior aproximação da rede privada com as escolas públicas municipais para a troca de experiências terá melhores resultados para ambas as redes e acabará beneficiando os alunos. A partir dessa reunião, a Smed irá encaminhar seu esboço de matriz curricular para a Cece e para os representantes das escolas particulares no intuito de aperfeiçoar o aprendizado dos alunos.

Texto

Priscila Bittencourte (reg. prof. 14806)

Edição

Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)

Tópicos:pandemiaalfabetização