Cedecondh discute superdotação e altas habilidades no Agosto Laranja
Na tarde desta terça-feira (20/08), a Comissão do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre realizou uma reunião para dialogar sobre a situação e as demandas das crianças com altas habilidades e superdotação, em alusão ao Agosto Laranja. A pauta foi proposta e conduzida pelo presidente da comissão, Alvoni Medina (Republicanos).
Alvoni Medina destacou a necessidade de legislar especificamente para este setor da população. "Enquanto não houver olhar para esses jovens, vamos perder muito." Também ressaltou que a participação das entidades relacionadas a esta causa são imprescindíveis para formulação de novas propostas.
Marco Lang, presidente da Fundação de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado do Rio Grande do Sul (Faders), expressou sua preocupação com o tratamento dado aos alunos superdotados na rede de ensino, especialmente na pública, porque, segundo ele, quando não há estrutura para acolher e direcionamento correto das crianças com esta condição, pode-se haver consequências graves, como o ingresso no crime organizado, devido às altas capacidades e dotes do aluno. "Não tenho dúvidas disso. Essas crianças sofrem bullying nas escolas, são excluídas, e procuram outros lugares. Tenho certeza que muitos dos grandes criminosos tinham a condição de superdotação."
O presidente do Conselho Estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Coepede), Nelson Khalil, observou que "todos são iguais e devem ter direito a oportunidades iguais. Porém, temos um enorme estatuto e as pessoas seguem discriminadas". Chamou atenção para o fato de que não há nenhum vereador com deficiência nessa legislatura da Câmara de Porto Alegre. Apontou como demandas a recriação da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e o encaminhamento de obras de acessibilidade as quais julga não estarem sendo consideradas prioritárias pelos vereadores. "Precisamos de um município que não deixe ninguém para trás, ninguém abandonado."
Bullying e capacitação
Lucia Lamb, professora e técnica da Faders, comemorou a quantidade de inscrições para o curso sobre inclusão e acessibilidade ofertado gratuitamente pela Faders. Falou sobre a história da categorização das altas habilidades e apresentou alguns dados sobre bullying nas escolas. "Um problema muito grande é a banalização do bullying. Trata-se como bobagem, como 'mimimi'. Mas tem consequências graves. Não pode ser assim. Acredito que toda escola deveria ser inclusiva".
Aline Russo, professora e profissional de inclusão da Secretaria Municipal de Educação (Smed), falou sobre seu trabalho cotidiano no acolhimento às crianças e familiares, as dificuldades do processo de identificação das altas habilidades e da escassez de escolas-polo capacitadas para fazer o acolhimento. Segundo ela, no município são apenas quatro professoras que realizam este trabalho. "Precisamos atender e identificar para dar suporte, para conduzir para experiências mais positivas estas crianças".
A representante da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação, Fernanda Leão, frisou que é indispensável a formação de professores capacitados para acolher alunos e orientar famílias. "São estudantes que necessitam mais do que o ensino regular, porque transcendem o currículo ofertado. Enfatizou os impactos positivos da existência de uma campanha como o Agosto Laranja para jogar luz a esta pauta, segundo ela, ainda pouco discutida na sociedade. Defendeu que é preciso ampliar a rede de apoio e as parcerias institucionais e reivindicou a construção de novos polos de referência e passe livre estudantil para as crianças com superdotação e altas habilidades.
Encaminhamentos
A comissão definiu como encaminhamentos a discussão, junto às entidades, da concessão de passe livre no transporte público para crianças identificadas com superdotação e altas habilidades; e a realização de uma nova reunião para aprofundar o assunto.