Frente do Autismo

Centro de Referência tem papel na interdisciplinaridade e capacitação, reforçam profissionais

Com novas informações sobre as conquistas obtidas a partir da intervenção precoce e interdisciplinar do autismo, a psiquiatra Gledis Lisiane Motta e a fonoaudióloga Mirella Prando reforçaram o papel dos centros de referência como intermediários do atendimento e da capacitação para os profissionais.

  • Especialistas apresentaram resultados da intervenção precoce
    Especialistas apresentaram resultados da intervenção precoce
  • Reunião foi transmitida ao vivo pelo Facebook
    Reunião foi transmitida ao vivo pelo Facebook

A Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos do Autista da Câmara Municipal de Porto Alegre colocou em discussão, nesta terça (5), a abordagem interdisciplinar e resultados animadores atingidos a partir da intervenção precoce no desenvolvimento de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A reunião, presidida pelo vereador Claudio Janta (Solidariedade), contou com a participação da psiquiatra especialista no atendimento da Infância e Adolescência, Gledis Lisiane Motta, e da fonoaudióloga Mirella Prando, que manifestaram apoio à demanda do Centro de Referência do Autismo.

Conduzindo uma apresentação repleta de informações técnicas, aliadas à experiência pessoal da vivência no consultório e nas intervenções realizadas junto ao seu filho, diagnosticado precocemente com autismo, a psiquiatra apontou os Centros de Referência como aliados de múltiplos processos relacionados ao diagnóstico, intervenções e, também, à capacitação de profissionais para atendimentos e diagnóstico precoce. "Acho a ideia do Centro de Referência maravilhosa e precisaríamos de uns 300 deles para atender a demanda que existe de autismo", manifestou.

Intervenção precoce

Resgatando o dado expressivo de que uma a cada 59 crianças estão compreendidas no Transtorno do Espectro Autista, a exposição alertou para a necessidade da intervenção precoce para evitar o acúmulo de prejuízos ao desenvolvimento e dificuldades decorrentes dessa alteração. O primeiro desafio é fazer o diagnóstico de maneira precoce, até os cinco anos de idade, quando há mais possibilidades relacionadas à neuroplasticidade cerebral (capacidade de moldar o cérebro mediante os estímulos adequados), podendo reverter atrasos do desenvolvimento e trabalhar para garantir maior funcionalidade e autonomia.

"Cada criança tem suas especificidades, mas é um erro dizer que cada um tem seu tempo, porque não se pode esperar. Quando a gente espera, perde a oportunidade de intervir numa janela de oportunidades da neuroplasticidade, em que podemos trazer essa criança de volta para uma curva do desenvolvimento normal", alertou a psiquiatra.

A intervenção precoce é tão eficiente, que protocolos como a escala AOSI já permitem avaliar bebês a partir de 6 meses. Já a escala ADOS, proporciona um ambiente de imersão em situações de interação social, como festas infantis e ambiente escolar, para observação de comportamentos e respostas atípicas.

"O que a gente vem estudando é o modelo Denver de intervenção precoce, que é um modelo naturalista, que segue a liderança e a motivação intrínseca da criança, com desenvolvimento pela brincadeira é a participação da família. O objetivo é provar para a criança que é mais legal brincar com os outros que brincar sozinha", explicou.

O estímulo precoce à socialização é fundamental para desenvolver os comportamentos esperados para a faixa etária, construídos a partir da imitação. Existe a necessidade de que a criança possa fixar a atenção a outras crianças e adultos para que a interação social ajude a moldar o seu comportamento e auxiliar a expressar seus pensamentos e emoções.

Auferir a existência de uma interação real, porém, é o que costuma atrapalhar o diagnóstico nas meninas, como explica a psiquiatra: "as meninas fingem melhor que interagem. Geralmente escolhem uma melhor amiga e imitam os comportamentos dela, mas na verdade não entendem o contexto social e tendem a camuflar esses sintomas com os amigos próximos".

Abordando a inclusão, a orientação também foi enfática: é preciso falar sobre autismo e, diante das características, é necessário deixar de lado as interpretações e investigar os sintomas. "A gente recebe muitas interpretações das família, como suposições para origem da timidez ou de algum trejeito e, muitas vezes, a necessidade real é negligenciada, deixando de focar no que pode ser trabalhado", alertou a fonoaudióloga Mirella Prando.

A próxima reunião da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos do Autista acontece no dia 19, às 14 horas.

Texto

Andréia Sarmanho (reg. prof. 15.592)