250 ANOS

Conheça a história da Câmara Municipal de Porto Alegre

  • Cerimônia de inauguração do Palácio Aloísio Filho, em 1º de maio de 1986
    Cerimônia de inauguração do Palácio Aloísio Filho, em 1º de maio de 1986 (Foto: Maurecy Santos/Acervo Fototeca Memorial/CMPA)
  • Foto de 1888 da Praça da Matriz, com o prédio da Câmara Municipal à direita, ao lado do Theatro São Pedro. A construção da Casa da Câmara foi concluída na década de 1870, onde o legislativo ficou sediado até início do século XX.
    Foto da Praça da Matriz no século 19, com a Casa da Câmara à direita, ao lado do Theatro São Pedro (Foto: Irmaões Ferrari/Acervo)

Esta é a primeira de uma série de reportagens especiais multimídia para marcar os 250 anos da Câmara Municipal de Porto Alegre, que serão celebrados no dia 6 de setembro

 

A história do Poder Legislativo no município de Porto Alegre começa com a expulsão, pelos espanhóis, dos portugueses da cidade de Rio Grande, no sul do estado. A sede da Câmara da capitania precisou ser movida para Viamão, em 1763, e, dez anos depois, foi transferida novamente, para Porto Alegre, por ordem do governador.

Na época, a Câmara tinha funções e competências muito diferentes das de hoje. A ata da primeira sessão da história do Legislativo em Porto Alegre, em 6 de setembro de 1773, revela que os cinco vereadores deliberaram sobre o preço da carne, discutiram o aluguel de uma sede para a Câmara e deram nome e casa de criação a quatro crianças enjeitadas, que haviam sido abandonadas nas portas de moradores da cidade. 

O Legislativo tinha, portanto, funções administrativas, típicas do Executivo. Não havia um prefeito no município. Os poderes da Câmara Municipal de Porto Alegre não estavam restritos à capital, mas se estendiam à toda a capitania do Rio Grande do Sul. 

Tanto os vereadores quanto os eleitores eram os chamados “homens bons” da cidade. Nas sessões, o presidente da Câmara usava um bastão, que representava sua autoridade. 

Mulheres e pessoas escravizadas não tinham direitos políticos. Aos homens, era exigida uma renda mínima anual para ter direito a voto. Em 1828, o pleito contou com 400 eleitores. Foi um aumento significativo em relação à eleição anterior, na qual 14 homens votaram.

No Império, a Câmara passou a deter maiores poderes administrativos sobre o município, ainda que estivesse subordinada ao governo da província. Em 1829, os vereadores criaram o primeiro código de posturas de Porto Alegre.

Na primeira metade do século 19, os esforços para institucionalizar a nova cidade de Porto Alegre estavam voltados para a construção de dois edifícios: a Casa da Câmara e um presídio. Todavia, o aluguel, que já preocupava os vereadores de Porto Alegre na primeira sessão de sua história, só deixaria de ser um problema a partir da década de 1870, quando a Câmara teve sua primeira sede própria. Era um prédio na praça da Matriz, ao lado do Theatro São Pedro, e construído à imagem deste. O edifício era conhecido como Casa da Câmara.

Assista ao vídeo produzido pela TV Câmara sobre a atualidade do Legislativo:

A Câmara na República

A proclamação da República, em 1889, pôs fim à monarquia e deu início a um período conhecido como República Velha, que durou até 1930. Pouco mudou no Legislativo de Porto Alegre, inicialmente: a primeira Câmara da República foi constituída a partir da Câmara do Império, com exceção dos vereadores não-republicanos, que abandonaram seus cargos.

A Constituição de 1891, porém, dava poucos poderes ao Legislativo municipal. As câmaras foram transformadas em conselhos municipais, com funções orçamentárias e financeiras, e não tinham autonomia sequer para convocar suas próprias reuniões, o que era uma prerrogativa do intendente – o prefeito da época. Ele comandava o conselho e detinha o poder de legislar. A Câmara perdeu até a sua Casa: o prédio foi cedido ao Judiciário e transformado em Tribunal de Justiça.

Durante 25 anos, a Câmara teve representação de apenas um partido, o Partido Republicano Rio-grandense. Em 1916, passou a contar com uma bancada de oposição de um vereador, membro do Partido Federalista.

Com a Revolução de 1930 e a ascensão ao poder de Getúlio Vargas, os conselhos municipais foram extintos. Porto Alegre teve um conselho consultivo municipal, e a Câmara chegou a ser instituída novamente em 1936, inclusive com regimento interno, publicado em decreto do Executivo. No entanto, com a ditadura do Estado Novo, o órgão foi dissolvido em 1937, por ato do prefeito José Loureiro da Silva.

Após a redemocratização do País, o Poder Legislativo voltou a ter relevância. Em Porto Alegre, o número de vereadores foi ampliado para 21. Foram realizadas eleições municipais em 1947, dando início àquela que é considerada pela Câmara como a sua primeira legislatura. Também naquele ano, uma mulher tomou posse como vereadora pela primeira vez em Porto Alegre: era Julieta Battistioli, que dá nome à Escola do Legislativo da Câmara Municipal.

Após perder sua sede própria, a Câmara voltou ao aluguel, tendo ocupado um solar na Praça Montevidéu. O Legislativo também utilizou como sede outro edifício da mesma praça: o Paço Municipal. Após, mudou-se para o Edifício José Montaury, no Centro, prédio localizado atrás do Paço Municipal e conhecido como Prefeitura Nova. O Legislativo não poderia sequer retornar à sua antiga sede: em 1949, um incêndio destruiu o prédio da Praça da Matriz conhecido como Casa da Câmara.

Da ditadura ao pluripartidarismo

O golpe militar de 1964 interrompeu o período de redemocratização que havia se iniciado no País em 1945. Os prefeitos de Porto Alegre, bem como das demais capitais de estado do País, passaram a ser nomeados pelo regime. As eleições para vereador continuaram ocorrendo, tendo sido realizadas em 1968, 1972, 1976 e 1982.

No período do regime militar, foram cassados os mandatos do prefeito Sereno Chaise, do vice Ajadil de Lemos e dos vereadores Alberto Schroeter, Dilamar Machado, Glênio Peres, Hamilton Chaves, Índio Brum Vargas e Marcos Klassmann. Em 2014, a Câmara realizou um ato de restituição simbólica dos mandatos.

Durante a maior parte do período de ditadura, esteve vigente no País o bipartidarismo. Assim, todos os vereadores pertenciam ou à Aliança Renovadora Nacional (Arena), de sustentação do regime, ou ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição.

A década de 1980 foi um período de grandes transformações na Câmara. Com o início da abertura política, o Legislativo passou a contar com representação pluripartidária. Em 1984, foram realizadas as primeiras eleições para o cargo de prefeito desde o início do regime militar. Desde então, ocorreram nove eleições para escolher, simultaneamente, prefeito e vereadores, com periodicidade de quatro anos.

Foi também em torno desses anos que os incêndios marcaram a história da Câmara. Em 1979, já estavam em andamento as obras do Palácio Aloísio Filho, mas o Legislativo ainda estava sediado no Edifício José Montaury, onde ocupava quatro andares altos do prédio. Naquele ano, um grande incêndio destruiu o plenário, a sala da presidência, o salão nobre e os setores de Imprensa e de Taquigrafia da Câmara.

Cinco anos depois, houve um novo incêndio, no gabinete de um vereador, que provocou a mudança às pressas da Câmara para o Centro Municipal de Cultura, localizado na avenida Érico Veríssimo. Os incêndios acabaram sendo decisivos para a mudança para a sede atual, o Palácio Aloísio Filho, localizado na avenida Loureiro da Silva. O prédio foi inaugurado em 1986, os gabinetes parlamentares foram transferidos e as sessões passaram a ser realizadas na nova sede – tudo sem que as obras estivessem concluídas.

Foi já em sua atual sede que a Câmara debateu e promulgou, em 1990, a Lei Orgânica de Porto Alegre, lei maior do município. Isso ocorreu pois a Constituição Federal de 1988 deu aos municípios uma maior autonomia: as cidades devem legislar sobre os assuntos de interesse local e têm, entre outros, o poder de instituir e arrecadar tributos.

A Câmara conta hoje com 36 parlamentares de 15 partidos diferentes. Com nove vereadoras, Porto Alegre é a capital que tem a maior representatividade de mulheres no Legislativo municipal.

As últimas eleições para o cargo de vereador em Porto Alegre foram realizadas em 15 de novembro de 2020, e as próximas ocorrerão no dia 6 de outubro de 2024. Neste pleito, os habitantes da Capital irão eleger 35 pessoas para serem os representantes do povo no Legislativo porto-alegrense.

Confira abaixo a galeria de imagens com registros históricos sobre a Câmara

 

*Com informações da Seção de Memorial e de publicações sobre a história da Câmara e de Porto Alegre

Texto

* João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Edição

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Galeria de Imagens

Medalha alusiva ao bicentenário da CMPA, em 6 de setembro de 1973, com os nomes dos primeiros vereadores do Legislativo Municipal. Fonte: acervo do ex-vereador Aloísio Filho, sob a guarda da Seção de Memorial da CMPA.Pintura representando a Praça da Matriz no século XIX, com o prédio da Câmara Municipal à direita, ao lado do Theatro São Pedro. A construção da Casa da Câmara foi concluída na década de 1860, onde o legislativo ficou sediado até início do século XX.Foto de reunião realizada no Salão Nobre do Palácio Municipal — Paço dos Açorianos, em 1947, onde então ficava sediada a Câmara Municipal. Presentes na foto, na primeira fila, ao redor da mesa, da esquerda à direita: vereadores Ludolfo Boehl, José Antônio Aranha; José Carlos Daudt, Luiz Bastos, Olmerindo Ruy Caporal, Bonorino Buttelli, Antônio Jorge Achutti, Tasso de Faria, Zacarias de Azevedo.Estrutura da atual sede da Câmara Municipal em construção.Vista aérea da Câmara Municipal de Porto Alegre em 2023. Palácio Aloísio Filho. Fachada e rampa.