COMISSÕES

Cosmam aborda desastres naturais e preservação da vida animal

  • Reunião de Comissão - 34ª Reunião (Ordinária) da COSMAM – A preservação da vida animal nos desastres naturais
    Encontro contou com a participação de representantes da prefeitura e de órgãos de segurança (Foto: Cristina Beck/CMPA)
  • Reunião de Comissão - 34ª Reunião (Ordinária) da COSMAM – A preservação da vida animal nos desastres naturais
    Vereadores assistiram a apresentações de pesquisadores da UFRGS (Foto: Cristina Beck/CMPA)

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre se reuniu na manhã desta terça-feira (3/10) para tratar da preservação da vida animal em desastres naturais. A pauta foi proposta pela vereadora Lourdes Sprenger (MDB), e o encontro foi conduzido pelo presidente da comissão, vereador José Freitas (Republicanos).

O pesquisador Pedro Valente, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentou resultados de seu trabalho sobre as anomalias de precipitação em Porto Alegre. Ele destacou que, na enchente de 1941, choveu 620 milímetros em 22 dias – quase a metade do acumulado do ano em Porto Alegre. Em setembro deste ano, foram quase 430 milímetros, ou um terço da chuva anual da Capital.

Valente afirmou que, nas últimas décadas, os eventos extremos se tornaram mais intensos e mais frequentes. Segundo ele, alterações por conta das mudanças climáticas, que eram projetadas para daqui a dez anos, já estão ocorrendo agora. O pesquisador afirmou que o El Niño atual ainda não chegou ao seu pico e já atinge as proporções dos El Niños anteriores. Ele mostrou que, dos sete meses mais chuvosos da história de Porto Alegre, quatro ocorreram em períodos de El Niño.

O Sudeste da América do Sul é uma das poucas regiões do mundo que tende a se tornar mais úmida, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), afirmou Valente. A posição geográfica do Rio Grande do Sul potencializa a formação de ciclones, devido ao encontro de frentes que vêm da Amazônia e da Antártida, destacou o pesquisador.

Marina Refatti Fagundes, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da UFRGS, afirmou que desastres hidrológicos, como inundações, enxurradas e alagamentos, são os que mais causam danos e mais afetam a população. A pesquisadora ressaltou que esses eventos afetam animais domésticos e selvagens e provocam riscos à saúde pública, com a possibilidade de disseminação de doenças. Ela apresentou procedimentos para a preservação da vida animal que podem ser tomados antes da ocorrência de desastres.

Defesa civil

Cláudio Silva da Rocha, coordenador regional da Defesa Civil de Taquara, afirmou que a área é muito pouco valorizada no Brasil e que o “Rio Grande do Sul é péssimo em política pública de defesa civil”. “Não se surpreendam se daqui a um mês a enchente do Vale do Taquari for relegada a um segundo plano”, ressaltou. Ele afirmou que o grande desafio da defesa civil é informar a população sobre as ações a serem tomadas em caso de alertas: “A gente precisa sim investir em tecnologia de prevenção, mas a gente também precisa combinar com as pessoas o que elas precisam fazer” em casos de desastres, de modo a que saiam das áreas de risco a tempo, disse.

Marcelo Alievi, professor e vice-diretor da Faculdade de Veterinária da UFRGS, disse que espécies de animais de vida livre são muito afetadas por desastres, e podem ser quase que extintas localmente em eventos da magnitude como os registrados recentemente no estado. O impacto em animais de produção pode demorar anos para ser recuperado, ressaltou. Ele destacou que o Conselho Federal de Medicina Veterinária já instituiu elementos formais para balizar a conduta em caso de desastres, e colocou a faculdade à disposição para pensar em planos de ação emergencial.

“A história se repete, e parece que a gente não está aprendendo muito com os erros”, afirmou o tenente-coronel Rodrigo dos Santos, do batalhão ambiental da Brigada Militar. Ele disse que, após desastres, fala-se em criar estruturas de emergência, e defendeu que é preciso fortalecer a estrutura ordinária das cidades, que serão utilizadas para dar início ao atendimento. “A gente precisa fazer com que, na normalidade, a cidade fale de defesa civil”, destacou. 

Ele relatou que, no município de Roca Sales, onde atuou após as enchentes, o cenário era de “terra arrasada”, e que não havia uma estrutura preparada no município para a defesa civil. Ele afirmou que há uma estimativa de que mais de 3 mil animais de produção morreram por conta dos alagamentos, apenas em Roca Sales. A veterinária Gabriela Borges fez um relato de atendimentos de emergência a animais em Roca Sales, e disse que chamou a atenção a falta de estrutura no município, em que não havia um hospital de campanha.

“Trabalho com resgate há 35 anos, e a gente vê que as coisas só estão piorando”, disse o socorrista Milton Pithan, referindo-se à tendência de aumento do número de ciclones no estado. “A maioria dos desastres se dá quando as pessoas ainda não entenderam a gravidade do que está ocorrendo”, destacou. Ele ressaltou que “a população não sabe como agir” frente aos alertas e que isso é um risco: “Quem já viu uma enxurrada sabe que não tem controle, que não há forma de parar. Ela leva tudo o que tem na frente, não há obstáculo que a interrompa”.

Representantes da prefeitura

“No novo contexto climatológico, precisamos sair de um estatuto de ações emergenciais para um quadro de políticas públicas que visem à proteção da vida. As estruturas públicas de atendimento têm que estar dentro dessa nova realidade. Precisamos estar prontos para atender a todas as demandas que estão por vir”, afirmou o comandante da Guarda Municipal, Marcelo Nascimento.

O secretário adjunto administrativo de Segurança de Porto Alegre, Gelson Guarda, destacou que municípios devem ter comissões de defesa civil, com atuação permanente. Ele afirmou que a enchente não foi maior por conta do sistema de proteção contra cheias, criado após a enchente de 1941. Guarda também ressaltou a importância dos animais, que “minimizam o sofrimento das pessoas”.

Cirilo Faé, representante da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), ressaltou que é do órgão a responsabilidade por animais de grande porte, como equinos e bovinos, e que 260 animais já foram recolhidos em 2023. Jairo Ávila, veterinário do Gabinete da Causa Animal da prefeitura, agradeceu o auxílio de órgãos da segurança e de ONGS que ajudaram o gabinete a resgatar mais de cem animais nas Ilhas. Ele afirmou que os animais estão em abrigo e em canil da prefeitura e destacou que eles foram catalogados e irão retornar aos seus tutores. 

A coordenadora do Centro Integrado de Comando de Porto Alegre (Ceic), Claudia Mayer, destacou que há aproximadamente 2 mil câmeras na Capital, e que os equipamentos auxiliam no gerenciamento no momento de uma catástrofe. Paulo Casa Nova, da Vigilância Sanitária, afirmou que tragédias como as recentes enchentes levam a repensar o que é saúde, e falou em um conceito de saúde única, que envolve a saúde dos humanos, dos animais e do meio ambiente. 

A vereadora Lourdes Sprenger afirmou que a comissão irá encaminhar para o município os registros da reunião, de modo a reforçar o foco na prevenção. “A prevenção deve ser continuada”, destacou.

Texto

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Edição

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)