COMISSÕES

Cosmam aborda mudanças climáticas e enchente em Porto Alegre

Enchente
Imagem de satélite mostra o alcance da enchente na zona Norte da Capital

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre se reuniu na manhã desta terça-feira (4/6) para tratar das mudanças climáticas e de seus impactos na Capital, como a atual enchente. O encontro foi mediado pela presidente da comissão, vereadora Lourdes Sprenger (MDB). Ela destacou que “a catástrofe climática” que a cidade vive não será esquecida pela população e ressaltou que a cheia do Guaíba foi superior à da enchente de 1941.

Vaneska Paiva, representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), apresentou mapas das inundações na Capital e detalhou os impactos das cheias. A Prefeitura estima em 160 mil pessoas a população atingida. Quase 40 mil edificações foram afetadas, e mais de 45 mil empresas atingidas. A inundação de estruturas como o aeroporto e a rodoviária também causam um impacto econômico significativo, destacou Paiva.

“Em muitos lugares, a gente ainda precisa que a água baixe para poder quantificar o impacto”, ressaltou. Entre as estruturas públicas atingidas, estão as do Dmae, o que afetou o combate às cheias. Paiva destacou o impacto sobre a população socialmente vulnerável, com 25 mil famílias inscritas no CadÚnico afetadas. Ela afirmou que o programa de reconstrução da cidade envolve “valores expressivos”, e que a Prefeitura irá precisar do apoio de outros entes públicos e da iniciativa privada.

Marcos Salinas, do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), explicou o funcionamento da força-tarefa do departamento e da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos para agilizar a limpeza da cidade. O DMLU está com seu efetivo regular e com 800 colaboradores adicionais nas ruas. 550 equipamentos terceirizados, entre caminhões e retroescavadeiras, estão sendo utilizados na limpeza. Cerca de 40 equipes estão envolvidas no trabalho. Um aterro sanitário de Gravataí foi contratado emergencialmente pela Prefeitura para receber os resíduos gerados.

Mudanças climáticas

Rodrigo Paiva, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, fez uma apresentação sobre projeções e adaptação às chuvas e cheias extremas. Ele afirmou que um mapa das áreas que seriam inundadas na hipótese de falhas no sistema de prevenção de cheias feito pelo IPH se revelou muito próximo ao mapa real de impacto da enchente.

O professor apresentou um histórico que mostra um nível de cheias abaixo da média nas décadas de 1970, 1980 e 1990, o que levou a um esquecimento sobre o problema das inundações. Em 2015, o nível do Guaíba se aproximou de 3 metros, o que forçou o fechamento das comportas, e, em 2023, houve enchentes em setembro e em novembro. Em 2024, ocorreu a maior cheia da História. “A média dessa década é muito superior a tudo o que já aconteceu no passado”, ressaltou.

Por conta das mudanças climáticas, espera-se um aumento das chuvas intensas, com consequentes alagamentos, em todo o Brasil. No sul do País, o cenário é mais preocupante, com alteração de magnitude e de frequência das cheias: “Aumenta a probabilidade de esses eventos acontecerem, e de forma ainda mais forte”. A vazão dos grandes rios do RS pode aumentar em 20%, alertou. O professor apontou que a sociedade gaúcha precisa incorporar a adaptação às mudanças climáticas na reconstrução do estado, com projetos de infraestrutura, mapeamento de áreas de risco e planejamento de desastres. Destacou que os estudos do IPH já foram incorporados no plano de reconstrução do governo estadual.

No caso específico de Porto Alegre, Paiva apontou como medidas a reforma do sistema de proteção contra cheias, incluindo uma avaliação sobre a cota de inundação, pois o aumento em 20% da vazão dos rios poderia significar um acréscimo de 60cm no nível do Guaíba; melhorias na drenagem urbana; mapeamento de áreas de risco; melhorias em sistemas de monitoramento, previsão e alerta; e um plano de ação emergencial para cheias extremas e falhas no sistema de proteção.

Eugenia Aumond Kuhn, professora da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, destacou que as mudanças climáticas também provocam um aumento da temperatura e de ondas de calor: “Amanhã, vamos estar vivendo outros problemas. Precisamos pensar a reconstrução a partir desse conjunto de situações, com habitações que suportem esse aumento de temperatura”. Mostrou, ainda, que, no verão, a rodoviária pode ser até 10 graus mais quente do que a Redenção. “Mais do que reconstruir, a gente precisa recriar a nossa cidade. Elementos como arborização precisam ser incorporados no planejamento”, defendeu. Também questionou: “se o Censo mostra que a nossa população não aumenta, a mancha de ocupação urbana precisa continuar a crescer?”

Texto

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Edição

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)