COMISSÕES

Cosmam aborda riscos do cigarro eletrônico

  • Reunião sobre o uso de cigarro eletrônico. Na foto, fiscal da prefeitura mostra cigarro eletrônico apreendido, em formato de um inalador (bombinha) para remédio de asma.
    Cigarro eletrônico produzido com roupagem de bombinha de asma (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Reunião sobre o uso de cigarro eletrônico.
    Comissão ouviu representantes da Secretaria Municipal de Saúde e de entidades médicas (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre se reuniu na manhã desta terça-feira (16/4) para debater os riscos do uso do cigarro eletrônico. A reunião foi proposta pela vereadora Mônica Leal (PP) e conduzida pela presidente da comissão, vereadora Lourdes Sprenger (MDB).

O cigarro eletrônico “tem sido uma preocupação para a área da saúde nos últimos anos. Apesar dos já conhecidos danos que representa, tem conquistado usuários, especialmente jovens”, destacou Mônica Leal. “O maior problema é que as pessoas não entendem a gravidade do assunto”, disse. Os vapes “estão extremamente popularizados como uma alternativa ao cigarro, mas podem ser tão ou mais prejudiciais”, ressaltou a vereadora.

O presidente do Sindicato Médico do RS (Simers), Marcos Rovinski, chamou a situação de “praga” e de “problema novo que não está resolvendo o antigo, que era o uso do tabaco”. Ele disse que o cigarro eletrônico “traz os mesmos problemas do cigarro não-eletrônico”. Afirmou que o seu uso pode provocar doenças respiratórias e cardiovasculares e dependência química, além de afetar o sistema imunológico e a saúde bucal. 

Rovinski cobrou a “tomada de uma posição política séria sobre o assunto”. Ele destacou que o uso de tabaco saiu da faixa de 30% da população para cerca de 9% a partir de campanhas de conscientização e defendeu a proibição do cigarro eletrônico em lugares fechados.

Evali

A presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do RS, Manuela Cavalcanti, explicou que o cigarro eletrônico provoca menor irritação na garganta, o que permite o consumo de altas doses de nicotina, potencialmente aumentando a dependência. Ela destacou que a nicotina é uma droga altamente aditiva.

A médica disse que não há evidências científicas conclusivas de pesquisas independentes de que o cigarro eletrônico cause redução de riscos em relação ao cigarro tradicional. Ressaltou que há diversas doenças pulmonares associadas ao vape, destacando a Evali, lesão pulmonar causada pelo dispositivo. O cigarro eletrônico também pode provocar infarto e AVC. “Há risco para todo o organismo”, informou. “Não podemos ser coniventes com essa situação”, disse, defendendo que seja coibido o uso dos vapes em espaços públicos.

Fabíola Perin, presidente da Sociedade de Cirurgia Torácica do RS, disse que o “cigarro eletrônico vem travestido de inofensivo”. Apesar da “roupagem benéfica”, o dispositivo “não serve para parar de fumar”, afirmou. Ela disse que “há diversas doenças já comprovadas” causadas pelo cigarro eletrônico, que também “traz uma doença nova e mortal, Evali, que é uma lesão pulmonar aguda" provocada pelo dispositivo. Perin ressaltou que se trata de inflamação e lesão similares às observadas nos casos mais graves de covid-19.

Ela afirmou que cabe à classe médica e ao poder público informar que o produto não é inofensivo e defendeu rigor para reduzir a sua utilização: “Deve ser terminantemente proibido o uso em escolas e em ambientes públicos, assim como foi com o cigarro tradicional”.

Indústria do tabaco

Angelo Campana, médico psiquiatra especialista em dependência química, disse que “a indústria do tabagismo contra-atacou com uma nova droga”, o cigarro eletrônico. Destacou que o vape tem “maior aceitação social”, pois não provoca o mesmo cheiro do cigarro tradicional. “A concentração de nicotina é muito alta”, alertou. “É quase como se tivessem inventado o crack do tabagismo”, disse. Ele também apresentou estudos que mostram que os cigarros eletrônicos não ajudam as pessoas a parar de fumar. Segundo ele, “a indústria torna a droga inocente aos olhos da população”, buscando divulgar a ideia de que não traria riscos. “Os jovens são o novo público da indústria do fumo”, afirmou.

Paula Frota, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFRGS, disse que o dispositivo aumenta consideravelmente o risco de câncer na boca, pois o aquecimento é muito maior do que a fumaça do cigarro tradicional, e também pode provocar outras doenças bucais, além de problemas ainda não conhecidos: “Os saborizantes não são identificados, e há mais de 3.000 tipos. Há substâncias ali que causam risco à saúde”. Ainda há casos em que o dispositivo explodiu na boca do usuário, ressaltou. Ela alertou que o cigarro eletrônico “está se difundindo de uma forma assustadora”.

Marcelo Coelho da Silva, representante da Unidade de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), destacou que há legislação em vigor na Capital proibindo o uso de cigarro eletrônico em recintos coletivos, mas ressaltou que não há condições de fiscalizar todos os espaços, e defendeu que o problema seja enfrentado com campanhas educativas.

Ele apresentou aos vereadores um vape produzido com a roupagem de bombinha de asma e outro que imita um relógio eletrônico de pulso. “Quero deixar claro o poder de sedução que esses produtos têm. Qual jovem não gostaria de usar um relógio eletrônico que também é cigarro eletrônico?”.

Encaminhamentos

A vereadora Mônica Leal apresentou três encaminhamentos. Ela sugeriu que a Cosmam envie um ofício direcionado aos secretários de Segurança do estado e do município e ao chefe da Polícia Civil com um pedido de ação conjunta das forças de segurança para coibir o dispositivo. Também disse que irá propor uma alteração legislativa para aumentar o valor da multa pelo descumprimento da legislação anti-tabaco. A vereadora afirmou ainda que irá solicitar que a Prefeitura elabore uma campanha de conscientização sobre os riscos do cigarro eletrônico.

Texto

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Edição

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)