COMISSÕES

CPI ouve testemunhas do incêndio na Pousada Garoa

  • Oitiva de Testemunhas.
    Bruno Martins, ex-funcionário das Pousadas Garoa, prestou depoimento à CPI (Foto: Marlon Kevin/CMPA - Uso público, resguardado o crédito obrigatório)
  • Oitiva de Testemunhas.
    Cleiton Moreira, sobrevivente do incêndio (Foto: Marlon Kevin/CMPA - Uso público, resguardado o crédito obrigatório)

Na manhã desta segunda-feira (31/3), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pousada Garoa ouviu testemunhas do incêndio ocorrido no local. A reunião foi conduzida pelo presidente da CPI, vereador Pedro Ruas (PSOL).

Antes das oitivas, foi exibido um vídeo da noite do incêndio na pousada, com imagens de uma câmera de segurança. O relator Marcos Felipi (Cidadania) analisou a movimentação nas proximidades do local nos momentos imediatamente anteriores e posteriores ao início do incêndio. Ele também pediu que os demais parlamentares assistam ao vídeo na íntegra para estabelecer suas próprias hipóteses.

Fiação precária

Bruno Morais Martins, que era funcionário da Pousada Garoa e estava de serviço na noite do incêndio, relatou que um homem desconhecido e com o rosto ensanguentado entrou no local às 20h, e que não conseguiu localizá-lo posteriormente, tampouco viu sua saída. Ele informou que a pousada ficava trancada entre as 23h e as 4h e afirmou que permitia o ingresso e a saída dos residentes nesse período: “Os moradores não ficavam trancados lá dentro, sem possibilidade de sair”. Ressaltou que nenhum funcionário da pousada trancava os quartos por fora, e que poucos dormitórios tinham fechadura em bom estado.

Sobre a origem do incêndio, destacou que a fiação elétrica do local era precária e que havia colchões próximos aos fios: “Não acho que alguém tenha colocado fogo lá”. Ele disse ter mudado de ideia em relação a seu depoimento à Polícia Civil, no qual havia mencionado a possibilidade de o incêndio ter sido criminoso. Martins informou que a energia elétrica do prédio caía com frequência e destacou as más condições do local, com quartos adaptados de forma precária, “como se fosse alojamento de presos, ou de cachorros”, disse. “Aquele prédio era o pior de todos, uma coisa absurda. Quartos minúsculos, um do lado do outro. Não havia limpeza, o prédio era cheio de baratas” – inclusive dentro da geladeira, afirmou. Destacou que residentes em quartos sem janela não conseguiram fugir do prédio e morreram por conta disso.

O incêndio começou em um quarto do térreo, que era utilizado como depósito. Martins disse ter destrancado a porta do prédio assim que ouviu os gritos de “fogo”. Relatou não ter conseguido operar o único extintor de incêndio. Ele afirmou ter alertado os moradores da emergência e os orientado a deixar o prédio. Disse que o que dificultou a saída das pessoas foi o fato de uma das duas escadas do prédio estar bloqueada. A escada que estava aberta tinha formato caracol, informou.

Questionado, afirmou que, apesar da proibição, os moradores fumavam cigarros, maconha e crack dentro da pousada. Informou que havia estrutura para cozinhar no local, mas não no interior dos quartos. Disse nunca ter presenciado ou ouvido relatos de fiscalização de órgãos públicos no local. Afirmou que os prédios da Pousada Garoa passaram por ajustes de manutenção após o incêndio, e que a realidade do local hoje é “completamente diferente”. Disse ainda que o único documento formal de sua relação com a empresa foi o encerramento do vínculo.

Moradores

Cleiton Barbosa Moreira, vítima do incêndio na unidade da av. Farrapos, teve queimaduras em seus braços e pernas e ficou dois meses internado em hospitais. Ele ressaltou ter estranhado que as luzes haviam se apagado, e por isso saiu de seu quarto no 3º andar. Disse ter encontrado a escada em meio ao escuro e relatou ter se queimado enquanto buscava a saída do prédio: “Com muita dor, consegui sair”.

João Luís Martins Pereira, também sobrevivente do incêndio, disse ter saído correndo de seu quarto assim que percebeu a emergência. Ele afirmou que a porta do prédio estava aberta. Questionado, destacou nunca ter visto fiscalização da Prefeitura entre os anos de 2023 e 2024, período em que morou nas Pousadas Garoa: “O local era insalubre, com ratos e baratas”. Ele afirmou desconhecer o motivo do incêndio e disse ter perdido dez amigos na tragédia.

Jackson Gonçalves França, ex-morador das Pousadas Garoa, disse que os prédios ficavam fechados entre meia-noite e 4h. Também afirmou que o local era infestado de ratos e baratas.

Frentistas

Ao final da reunião, o vereador Marcos Felipi leu o relato de dois frentistas do posto de gasolina localizado nas proximidades da pousada. Lucas Pereira da Silva disse que, na tarde anterior ao incêndio, um homem com comportamento alterado tentou ingressar na pousada pelos fundos, pois não haviam lhe permitido o acesso pela frente do prédio. Ele estaria tentando “pegar um cara”. De acordo com o frentista, a pousada “era uma grande baderna”.

Em seu depoimento, Roberto Almeida da Silva corroborou o relato de que um homem tentava acessar a pousada pelos fundos, por meio do estacionamento do posto de gasolina. “Era nítida a sua intenção de ingressar na pousada e fazer algum mal”, disse o frentista.

Texto

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)

Edição

João Flores da Cunha (reg. prof. 18241)