DIREITOS HUMANOS

Descomemoração pelos 60 anos do golpe de 64 começa na CMPA

Em ato proposto pelo vereador Pedro Ruas, as manifestações foram dedicadas à memória do militante Cilon Cunha Brum, jovem de São Sepé, assassinado pelo governo militar na Guerrilha do Araguaia

Abertura dos atos de descomemoração do Golpe no Plenário Otávio Rocha da CMPA
Abertura dos atos de descomemoração do Golpe no Plenário Otávio Rocha da CMPA

No ato de “descomemoração” pelos 60 anos do golpe militar de 1964 e homenagem ao militante político Cilon Cunha Brum, pelos 50 anos da sua morte, realizado na noite de terça-feira (27/02/2024) na Câmara Municipal de Porto Alegre (CMPA), lideranças com atuação nas áreas sociais e direitos humanos manifestaram sua inconformidade com o fato do presidente Lula ainda não ter restabelecido a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da ditadura. A comissão foi criada em 1995 por Fernando Henrique Cardoso e extinta em dezembro de 2022 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Conforme o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) Jair Krischke, o ministro dos Direitos Humanos já recebeu pedido nesse sentido, porém nada foi feito.

Jair Krischke
Jair Krischke

Proposto pelo vereador Pedro Ruas, líder do PSOL, pela Associação dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos (AEPPP) e Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) esse ato – que foi o primeiro de vários que serão promovidos no decorrer deste ano de 2024, organizados por entidades e instituições voltadas aos direitos humanos - contou com a presença de lideranças e autoridades, entre essas o compositor e cantor Raul Elwanger, do Comitê Carlos de Ré; o procurador da República Enrico Rodrigues de Freitas; o presidente de Honra da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), João Batista de Melo Filho; o prefeito de São Sepé, João Luiz Vargas (PDT); o ex-vereador e ex-deputado Raul Carrion, a ex-vereadora e ex-deputada Jussara Cony e as vereadoras Biga Pereira e Cuca Congo, todos do PCdoB de porto Alegre; Luciano Marcantonio, da Procuradoria Geral do município de Porto Alegre; Solon Viola, da Rede Brasileira da Educação em Direitos Humanos,  Ester Ramos, dirigente do PSOl de Cachoeirinha, pessoas ou entidades promotoras ou apoiadoras dos diversos atos que serão realizados neste ano.

A programação da “descomemoração” foi em homenagem ao militante político Cilon Cunha Brum, de São Sepé, que foi preso em 1971 aos 25 anos, torturado e morto pelo governo militar no Araguaia. Conforme atestado de óbito Cilon teria morrido em 27 de fevereiro de 1974, portanto há 50 anos.

Lino Brum
Lino Brum

O irmão de Cilon, o jornalista Lino Brum, fez um pronunciamento emocionado, contando aos presentes sobre a tragédia que foi a luta da família para tentar encontrar recuperar o corpo do irmão, sem sucesso. Contou que os pais, antes do falecimento, mandaram erguer um túmulo e abrir uma vala para o corpo do irmão, o que até o momento não foi encontrado. Lino agradeceu o apoio de todos que ajudaram a família nas buscas, e a resistir a dor, dizendo que “cada um ajudou a alimentar esperanças e contribuiu, como hoje, para diminuir a dor que é eterna. Por isso considero esse um ato político, de amor. Mas sobretudo de esperança”. Lembrou que a exemplo do corpo do seu irmão, 343 outros corpos não foram devolvidos.

Raul Carrion
Raul Carrion

O ex-vereador e ex-deputado Raul Carrion – que também foi preso e torturado, tendo que se exilar do País - declarou que Cilon Cunha Brum é um herói nacional. Destacou que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pelo desaparecimento de 62 pessoas na região do Araguaia, uma dessas Cilon Cunha Brum. Já Jair Krischke reforçou a necessidade de união nacional em torno do pedido de reinstalação da Comissão dos Mortos e Desaparecidos, pois não houve uma justiça de transição adequada e falta muita investigação. “As vezes acho que a nossa, a minha geração, não soube transmitir aos nossos jovens os valores da democracia, a importância da luta pela Pátria”, disse com emoção.

Para o procurador regional dos Direitos do Cidadão no RS, Enrico Rodrigues de Freitas, ainda falta muito a ser esclarecido sobre o Golpe, apesar do intenso trabalho do Ministério Público Federal e de tantos outros parceiros. Lamentou que o período ditatorial deixou graves problemas, presentes ainda hoje na sociedade, como o uso da tortura pelas polícias. Disse mais: que o golpe de 64 não foi apenas cívico militar, pois envolveu empresas como a Volkswagen, que atuou de forma inequívoca em favor da ditadura militar. “Podemos chamar de cívico, militar empresarial”.

Procurador da República RS
Procurador da República RS

Também o prefeito de São Sapé, João Luiz Vargas (PDT) lamentou que os heróis da Pátria não tenham as merecidas honrarias. Convidou os presentes para estarem em São Sepé no dia 08 de março próximo, quando serão realizadas atividades na praça Cilon Cunha Brum e no cemitério onde o túmulo segue vazio. O presidente de Honra ARI, jornalista Batista Filho, destacou que a luta pela igualdade social no Brasil ainda precisa de muito esforço.

Jornalista Batista Filho
Jornalista Batista Filho

“A injustiça social que ainda permeia em todos os sentidos na nossa sociedade, mostra que as lideranças de esquerda ou democráticas, estão proibidas de descansar, pois falta educação, saúde, segurança e justiça, como no caso da família Brum”.

Vereador Pedro Ruas conduziu o evento de abertura
Vereador Pedro Ruas conduziu o evento de abertura

Autora de projeto de lei que designou o nome de Cilon à uma praça em São Sepé, Jussara Cony destacou a importância do ato promovido por Pedro Ruas, na Câmara, que foi definido como a abertura dos eventos de descomemoração do golpe. “Nós que estamos aqui e que representamos tantas outras pessoas, não vamos nos resignar e aceitar que não seja feita justiça.

Músico Raul Ellwanger
Músico Raul Ellwanger

Raul Ellwanger manifestou solidariedade à família de Cilon, lembrou do que também sofreu com a perseguição política e entoou trecho da música “eu só peço a Deus”.

AGENDA

Várias Faculdades e entidades estarão promovendo seminários, palestras ou mesas redondas sobre o tema. Da mesma forma, no mês de abril será promovida rodada de filmes. Aqui alguns dos eventos até dia 08/03

* 29/2- Ouvidoria da DPE, TJ-RS e Nuances – Do Porão à Democracia – 60 anos de luta contra a ditadura sobre os corpos -Bar Workroom na Rua Lopo Gonçalves, 364 Cidade Baixa

* 1° de março, 11horas – Homenagem ao ex-presidente João Goulart, na data do seu aniversário. Na rótula "João Goulart", encontro das Avenidas João Goulart, Loureiro da Silva e Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre. Promoção da Fundação Caminho da Soberania", da "Associação de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do RS" e do "Movimento de Justiça e Direitos Humanos" e do gabinete Pedro Ruas.

*03 março, 16h – Praça Cilon Brum, bairro Farrapos (entre as ruas Diogenes Arruda e Maria Trindade). Ato em memória pelos 50 anos da morte de Cilon Brum. Promoção da Associação Cultural Desabafa

Prefeito de São Sepé, João Luiz Vargas
Prefeito de São Sepé, João Luiz Vargas

09 de março – Ato político em São Sepé, na praça Cilon Cunha Brum e no cemitério. Promoção Fundação Afif Filho com apoio da Prefeitura de São Sepé e presença familiares

Texto

Jurema Josefa e fotos de Daniel Blasius/gabinete Pedro Ruas

Edição

Jurema Josefa (MTB 3.882/RS)