Cultura

Escultura de 1960, que já passou por três restauros, volta ao acervo da Câmara

Escultura Solidão foi restaurada pela artista Marlene Martins e devolvida à Câmara Municipal de Porto Alegre.
Marlene e a escultura Solidão, que integra o acervo de artes plásticas do Legislativo da capital (Foto: Débora Ercolani/CMPA)

“É sinal de que ainda estou viva, com a cabeça boa, porque 81 anos não é para qualquer um”, pronuncia Marlene Maria Martins, autora da escultura Solidão (de 1960) - restaurada pela artista -, no seu atelier localizado no sobrado onde mora, na avenida São Pedro, zona Norte da Capital. A figura feminina de concreto branco e pintada com uma mistura de grafite, cola e álcool, que neste ano volta a compor o acervo da Câmara Municipal de Porto Alegre, tinha sido danificada, em julho de 2018, durante protestos. 

Ao falar sobre seu terceiro restauro desta peça, Marlene desenvolve uma breve retrospectiva da obra. Conta a escultora que Solidão foi uma espécie de prova para a sua graduação (1955-1960) no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). No período, o pai da artista faleceu. E Marlene, com a morte do pai, “o meu esteio”, acabou largando tudo e indo embora da capital para o interior. 

Logo em seguida, porém, retornando a Porto Alegre, Marlene produziu na escultura uma espécie de autorretrato. Afirma ela que “Solidão é exatamente por que o meu pai faleceu”. A autora reforça o sentimento de que “o nome da figura é de como eu me sentia, e eu me sentia sozinha”. A partir daí, no ano seguinte ao nascimento de Solidão, em 1961, Marlene conquistou o primeiro Prêmio de Escultura, organizado pela Associação Rio Grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa, no VII Salão da Câmara Municipal de Porto Alegre. Nessa oportunidade, a peça passou a integrar o acervo do Legislativo. 

Restauros

Encerrado o Salão daquele ano, contudo, os trabalhos vencedores foram levados para a Prefeitura, onde também, à época, funcionava a Câmara. Todavia, com a instalação do Atelier Livre no Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, Solidão para lá foi transferida, nos anos 1970, ficando então no prédio da avenida Érico Veríssimo. Neste ínterim, Marlene menciona que a obra ficou perdida: “Fui descobri-la por causa de um ex-aluno, o Vagner Dotto”. Ela narra que Dotto foi visitar o Atelier e viu Solidão em cima de uma prateleira. Ele então questionou o motivo de a arte estar ali, e recebeu a resposta de que ninguém sabia sobre a autoria da imagem. Por ter conhecimento do acervo da artista, Dotto sabia.

“Os pezinhos dela estavam lascados”, diz Marlene ao contar que ali houve o primeiro restauro. No final da década de 1980, quando o Legislativo passou a funcionar na avenida Loureiro da Silva, Solidão ganhou um lar definitivo. Daí, por ficar anos em exposição no Salão Adel Carvalho da Casa, em 2011 ela recebeu novos restauros. O terceiro, então, ocorreu de julho de 2018 até quase o presente momento - já que, devido aos protestos internos, na Câmara, a peça ficou em pedaços. 

Visitação

De mãos apoiadas sobre os joelhos, gesso, arame e ferro, com medidas 70 x 40 x 40 cm, a imagem com tantas idas e vindas, atualmente se encontra no andar térreo da Câmara, em frente ao Memorial. A visitação, que é de entrada gratuita, está disponível ao público em geral de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18 horas. A Câmara fica localizada na Avenida Loureiro da Silva, 255. Mais informações: (51) 3220-4318 (Memorial).

Texto

Bruna Schlisting Machado (estagiária de Jornalismo)

Edição

Helio Panzenhagen (reg. prof. 7154)