Saúde

Especialistas discutem prevenção da gravidez precoce

Dr. Raul e Celeste na abertura do seminário, na noite de quinta-feira Foto: Elson Sempé Pedsroso
Dr. Raul e Celeste na abertura do seminário, na noite de quinta-feira Foto: Elson Sempé Pedsroso

Representantes de hospitais e órgãos públicos e de organizações não-governamentais de saúde e direitos humanos foram os palestrantes no segundo dia do Seminário Gravidez na Adolescência, promovido nesta sexta-feira (1º/6) no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal de Porto Alegre. O evento, que discutiu políticas de saúde sexual e reprodutiva para jovens, conta com apoio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), do Conselho Municipal de Saúde (CMS), do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) e do Fórum ONG Aids/RS.

O primeiro painel da manhã reuniu os médicos Franklin Cunha, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), e Soraia Schmidt, da SMS, que abordaram os temas Contracepção e Riscos da Gravidez na Adolescência, respectivamente. Ginecologista e membro do Movimento de Defesa da Vida, Cunha afirmou que a desestruturação das famílias e os hábitos culturais são fatores determinantes da alta incidência de gravidez na adolescência. “Se não houver mudança desses fatores, não haverá educação sexual e métodos contraceptivos que resolvam o problema”, disse.

Soraia Schmidt informou que os problemas são mais evidentes em mães entre 10 e 15 anos, faixa em que o número de óbitos da menina e do bebê é maior, mas está em tendência de queda. Lembrou que é comum as gestantes abaixo de 15 anos apresentarem doenças como hipertensão, anemia e trabalho de parto prematuro, mas a maioria dos óbitos deve-se a causas como infecção pós-parto, doenças hipertensivas e aborto. Soraia garantiu que o risco de morte é maior em gestantes com mais de 35 anos do que em adolescentes. Na sua opinião, a gravidez na adolescência não pode ser tratada como uma praga, pois o direito das meninas que querem ser mães deve ser respeitado.

O segundo painel teve como tema a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e Aids, reunindo a médica Lilian Hagel, hebiatra do HCPA, de postos de saúde e do Hospital Moinhos de Vento; a advogada Márcia de Ávila Leão, do Fórum ONG/Aids; e a psicóloga Jenny Milner Moskovics. Lílian destacou que as ações de prevenção devem considerar as particularidades de cada jovem, mas há pontos fundamentais a serem tratados com todos. Entre eles, citou a necessidade de usar camisinha nas relações sexuais, de reduzir o consumo de álcool (facilitador do não-uso do preservativo), orientações para o uso de agulhas como forma de redução de danos em caso de drogadição. Lílian lamentou que muitas vezes, as famílias omitam dos filhos que eles têm doenças graves como Aids, dificultando o controle da síndrome.

Márcia Leão afirmou que a prevenção de DSTs/Aids nas escolas é um desafio frente à dificuldade de trabalhar valores em uma sociedade repleta de violência e pobreza. Segundo a advogada, as ações devem priorizar o desenvolvimento do jovem como um cidadão responsável e incentivar a participação da família nas discussões sobre sexualidade, saúde e afetividade. Ela destacou como alentador o projeto Prevenção na Escola, dos ministérios da Saúde e da Educação. Na sua opinião, as instituições de ensino devem se engajar na prevenção e conscientização e assumir seu papel junto à sociedade, desenvolvendo conteúdos de valorização da vida e de cidadania.

Jenny Moskovics, que ministra cursos em instituições de saúde e de educação sobre prevenção, alertou para o crescimento da Aids em adolescentes e para o fato de o Rio Grande do Sul estar no topo da lista em número de casos. Segundo ela, a situação tem origem em fatores como o não-uso de preservativo na primeira relação sexual. Jenny lamentou que as instituições de saúde às vezes não consigam acolher os adolescentes, devido a fatores como o preconceito dos próprios agentes. Também destacou a importância de o adolescente e sua família terem acesso livre às informações.

O seminário prosseguiu à tarde com o painel Experiências em Programas de Planejamento Reprodutivo. Participaram Luciane Rampanelli Franco (SMS), o promotor Rodrigo Schoeller de Moraes, de Rio Grande, a enfermeira Rosângela Beatriz Pires e a assistente social Giane Arnecke Roesch, da Cia Zaffari.

A médica Luciane Franco, coordenadora da Assessoria de Planejamento Familiar da SMS e ginecologista do Hospital Conceição, disse que a secretaria tem desenvolvido diversas ações. Entre outras, citou a distribuição de material educativo para as unidades de saúde, oferta de métodos contraceptivos e realização de laqueaduras e vasectomias, que cresceram desde 2004. Informou que os implantes subcutâneos estão no fim e não há perspectiva de reposição, já que é um material doado. Segundo Luciane, a SMS tenta despender atendimento integral aos pacientes, oferecendo atenção diferenciada conforme a diversidade dos usuários, entre eles os adolescentes.

Rodrigo Schoeller de Moraes, promotor da Infância e da Juventude, expôs a experiência do Programa Aliança, do município de Rio Grande. O objetivo é integrar os esforços do poder público, instituições privadas, Fundação Universidade de Rio Grande, organizações não-governamentais, Igreja e comunidade para um trabalho amplo de planejamento familiar. “O foco não é somente disponibilizar métodos contraceptivos, mas resgatar a dignidade humana”, declarou. O foco prioritário nas ações de planejamento é o núcleo familiar. “Uma família consciente de seu compromisso social terá filhos que possa sustentar”, disse.

A enfermeira Rosângela Pires mostrou o trabalho do Grupo de Planejamento Familiar no posto Santíssima Trindade do Grupo Hospitalar Conceição, situado na Vila Dique, comunidade carente da Zona Norte. São realizados exames pré-natais e ginecológicos, distribuição de anticoncepcionais e de preservativos, implantação de dispositivos intra-uterinos (DIUs) e serviços de orientação e de educação continuada de casais e de adolescentes. Conforme Rosângela, o objetivo do grupo é melhorar as condições de vida das famílias. “O planejamento familiar pode mudar o contexto social”, ressaltou.

A assistente social Giane Arnecke Roesch, coordenadora do Serviço Social da Cia. Zaffari, relatou as ações de planejamento familiar colocadas em prática no grupo, que conta com 27 unidades e 8 mil funcionários, dos quais 3 mil mulheres e 900 empacotadores de 16 e 17 anos. Segundo Giane, o índice de gravidez precoce ainda é alto. Dessa forma, o Zaffari desenvolve dois grandes programas de saúde, prevenção e educação para adolescentes (desde 2000) e de apoio às gestantes (2003). As iniciativas incluem acompanhamento social dos funcionários e sensibilização dos gerentes para a necessidade de eles participarem das oficinas e palestras oferecidas. O trabalho é desenvolvido por uma equipe interdisciplinar.      

Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)