Frente Parlamentar

Frente Parlamentar do Afroempreendedorismo é instalada na Câmara da Capital

  • Lançamento da Frente Parlamentar do Afroempreendedorismo.
    Instalação foi realizada na noite desta terça (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Lançamento da Frente Parlamentar do Afroempreendedorismo. Na foto, vereadora Laura Sito, presidente da Frente
    Vereadora Laura Sito (PT) (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

Nesta terça-feira (9/11), ocorreu o ato de instalação da Frente Parlamentar do Afroempreendedorismo, na Câmara Municipal de Porto Alegre. A iniciativa, de autoria da vereadora Laura Sito (PT), juntamente com Airto Ferronato (PSB), Aldacir Oliboni (PT), Daiana Santos (PCdoB) e Karen Santos (PSOL), tem entre seus princípios o fomento e incentivo de afronegócios; a criação de um ambiente favorável para surgimento de novos afroempreendedores; promover um espaço de relação direta entre vereadores e o segmento; a valorização da importância econômica que a população negra tem para a Capital; além do respeito a esses diferentes segmentos dos negócios.

Laura Sito evidenciou a relevância do fortalecimento da rede de empreendedores negras e negros. "Porto Alegre tem a maior desigualdade do Sul do país. O Brasil é o décimo país mais desigual do mundo. O desemprego dos negros é 71% maior. Defendemos que investimentos nas periferias da cidade devem ser priorizados, pois a maioria dos afroempreendedores está lá. Nossa gente investe por necessidade, enquanto os brancos (71,5%) investem por oportunidade. Precisamos alterar essa lógica, oferecendo acesso ao microcrédito, cursos, suporte técnico e estrutural e com essa Frente Parlamentar queremos oportunizar esse espaço de debate e construção de políticas públicas", destacou.

Karen Santos (PSOL) parabenizou a iniciativa de oportunizar um fórum para esse debate de problemas econômicos, sociais e geográficos. "Temos muitos projetos tramitando nesta Casa que vêm tratando desiguais como iguais, com vícios políticos que nos impedem de ter a mesma posição de competir. Vocês podem se utilizar da bancada negra e de oposição para ter informações e, juntos, conseguirmos nos movimentar, criar emendas voltadas ao interesse do povo. Queremos empreender no marco de construir um projeto econômico que dê sustentabilidade para as políticas sociais e que reverta tributos em qualidade de vida", pontuou.

Leonel Radde (PT), que juntamente com o vereador Pedro Ruas (PSOL) assinou em apoio à criação da Frente, evidenciou que a proposição é muito importante. "Reconhecendo a realidade do racismo estrutural, que também tem impacto econômico e em outras áreas, quero reafirmar que sou um parceiro nesta luta", reforçou.

O coordenador da Rede dos Afroempreendedores do Estado do Rio Grande do Sul (Reafro/RS), Cleiton Chiarel, disse que a Frente representa um “pontapé inicial para a construção de uma rede com foco para desenvolver não apenas a economia, mas, também, as pessoas e esse é um dos focos da Reafro/RS. Precisamos da consciência coletiva que o crescimento só passe com base nas equidades”, definiu.

A vice-presidente da Associação Odabá, Itanajara Almeida, contou que há 34 anos atua como cabeleireira. “A partir do momento que a gente se vê na condição de empreender, é motivo de celebração. Celebrar esse momento, pelo acolhimento que tivemos por parte dos parlamentares, ser acolhido e entendido. Precisamos empreender. Nossa Associação de afroempreendedores visa à economia e tudo o que conseguimos produzir e comercializar. Precisamos empoderar homens e mulheres negros da cidade. Precisamos de respeito e ser admirados por tudo o que a gente faz”, concluiu.

O Fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, ressaltou o significado de estar debatendo o tema do afroempreendedorismo. “Significa muito para nós. Precisamos avançar. Estamos discutindo a possibilidade de inverter o processo que a gente vive no Brasil, de não necessitar mais de favores. No trabalho do futebol, a gente percebe que nesse momento de pandemia, muitas pessoas ficaram desempregadas, vendedores, guardadores, seguranças. Só 0,1% consegue chegar a ser jogador de futebol e ter salário milionário. O processo de empreender é importante demais. Precisamos pensar cada vez mais em economia e política para mudar o Brasil e a vida das nossas comunidades e homens e mulheres negros”, ponderou.

Depoimentos

O evento também contou com a participação de diversos afroempreendedores que, em suas manifestações, foram unânimes ao destacar a importância do debate que está se dando no Legislativo por meio da Frente Parlamentar. O dentista Sairon Quadros foi um dos participantes que contou um pouco da sua história e o preconceito que enfrentou no seu ramo de atividade. “Todos nós temos a história muito parecida. Para muitos é coisa de filme e, para nós, a realidade. Acredito que o preto empreende por necessidade. A gente esbarra na situação do preconceito. Tive que pendurar meus certificados na parede, porque perguntavam se eu era dentista mesmo, de ir na faculdade. De 500, tinham três pretos, eu e mais dois. Além de atender quem precisa, vou atender onde as pessoas estão. Faço questão de auxiliar cada um dos dez dentistas do consultório. A gente ouve e acolhe o paciente, a questão do business vem ao natural, pois pensamos como definir um modelo de odontologia, como vamos ter saúde bucal, prevenção, falar de implantes se a gente não entende o ser humano?”, relatou.

 

Texto

Bruna Mena Bueno (reg. prof. 15.774)

Edição

Marco Aurélio Marocco (Reg. Prof. 6062)