Instalação

Frente pretende incentivar a doação de órgãos e sangue

Hoje, 35 mil pessoas - 1.300 no RS - esperam por um transplante no Brasil, informa a ABTO

  • Instalação da Frente Parlamentar de Incentivo a Doação de Órgãos e Sangue
    A solenidade reuniu especialistas, pacientes, entidades e vereadores (Foto: Candace Bauer/CMPA)
  • Instalação da Frente Parlamentar de Incentivo a Doação de Órgãos e Sangue
    Maria Lúcia (d), ao lado de Vanda Roza, lembrou dos 20 anos da lei dos transplantes (Foto: Candace Bauer/CMPA)

“Eu renasci. Estava quase partindo para outra, quando consegui um novo fígado. Faz só nove meses que me operei na Santa Casa, mas dois meses depois eu já estava serelepe da vida. Hoje estou muito bem. Agradeço a Deus e à Medicina e, principalmente, a quem me doou o órgão. Por isso, fiquei muito feliz quando soube que os vereadores iriam criar esta Frente”, relatou a transplantada Vanda Roza na manhã desta quinta-feira (10/8), na instalação da Frente Parlamentar de Incentivo à Doação de Órgãos e Sangue da Câmara Municipal de Porto Alegre. A solenidade, que lotou o Plenário Ana Terra, teve a participação de especialistas da área da saúde, pacientes transplantados e que estão na fila de espera, além de representantes de órgãos e entidades.

Criada por iniciativa do vereador Márcio Bins Ely (PDT) e presidida por ele, a Frente tem como vice-presidente o vereador Dr. Goulart (PTB) e como secretário o vereador Aldacir Oliboni (PT), assim como a participação de outros vários parlamentares. Na abertura dos trabalhos, Bins Ely informou que a intenção da Frente é estimular as doações de órgãos e de sangue, com o objetivo de salvar ou melhorar a vida das pessoas doentes. “É muito importante chamar a atenção para a necessidade de aumentar o número de doações, que ainda estão muito abaixo das necessidades”, afirmou.

Oliboni disse que as políticas públicas na área de sangue e transplantes ficam aquém do necessário e que houve redução de repasses de verbas para a saúde por parte dos governos estadual e federal. Ao mesmo tempo, destacou que vários hospitais em Porto Alegre têm se dedicado aos transplantes. “Não sei se o cadastro único está funcionando a contento, mas esta Frente pretende contribuir para o maior acesso dos pacientes”, declarou. “Estamos aqui para apoiar, mas também para ampliar as políticas públicas na área.” Dr. Goulart cumprimentou a iniciativa de Bins Ely e colocou-se à disposição para ajudar a todos que trabalham na área de sangue e transplantes. 

Além da paciente Vanda Roza, outros sete convidados compuseram a mesa da solenidade. Eles saudaram a criação da Frente e destacaram o que acreditam ser necessário para possibilitar mais doações e transplantes:

NÚMEROS – “No Rio Grande do Sul, deveriam ser feitos 1.600 transplantes por ano, mas fazemos metade disso, e, no Brasil um terço disso”, lamentou o nefrologista Valter Duro Garcia, coordenador de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre. Segundo o médico, o transplante é a única terapêutica que depende diretamente da sociedade, por meio da doação. Por isso, há grandes filas de espera por um órgão. Para Garcia, a legislação atual é adequada, mas é de lamentar o fato de o Registro Nacional de Doadores nunca ter sido criado. Ele também defendeu a destinação de mais recursos para o SUS nesta área e investimentos na educação sobre o tema e na organização do sistema.

INFORMAÇÃO – Roberto Manfro, presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e chefe da Unidade de Transplantes Renais do Hospital de Clínicas, lembrou de um adesivo de uma antiga campanha de conscientização, que dizia: “Não levem seus órgãos para o céu. Precisamos deles aqui”. Para Manfro, “talvez a doação seja nosso último ato de bondade”. Hoje, segundo o médico, 35 mil pessoas esperam por um transplante no Brasil, das quais 1.300 no Rio Grande do Sul. “Isto não é pouca gente”, destacou. Na sua opinião, a negativa de doar geralmente está calcada na falta de informação sobre o que isso representa. “Então, é sempre necessário falar”, enfatizou, destacando a importância da educação e do desenvolvimento da confiança nos processos que envolvem a doação e o transplante. “Por isso, reconhecemos a importância desta Frente.”

20 ANOS - Maria Lúcia Kruel Elbern, presidente da instituição Via Vida-Pró-doações e Transplantes, lembrou que, em 2017, completam-se duas décadas da Lei Nacional dos Transplantes, criada em 1997. “E agora a Câmara Municipal instala sua Frente”, comemorou. “Esperamos fazer parte desta parceria para levar mais informação para a sociedade e para que mais doações aconteçam”, disse. Maria Lúcia disse ser fundamental o trabalho de prevenção, “para que as pessoas cuidem de seus órgãos e não precisem de transplante no futuro”. Ela ainda falou do trabalho da Via Vida, que atende e acolhe muitos pacientes de baixa renda, contando com cerca de 80 voluntários.

DEBATE – A médica hematologista Eliete Pereira, chefe do Banco de Sangue do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, falou da luta diária para conseguir doadores de sangue. “Por isso, cumprimento qualquer ideia que ‘viralize’ a doação”, disse, frisando que doar sangue e órgãos faz a diferença. “A doação ajuda a mudar destinos, e deveria fazer parte do nosso dia-a-dia”, afirmou. Segundo Eliete, as pessoas têm opinião para tudo nas redes sociais, mas, infelizmente, se fala muito pouco sobre doação. Na sua opinião, também as empresas e outros locais de trabalho deveriam abordar o assunto, o que talvez contribuísse para “derrubar tabus” em torno do tema.

LEITOS - Liane Daudt, médica hematologista da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas, informou que a unidade, criada há 23 anos, já realizou mais de 23 mil procedimentos e há um grande número de doadores. Na sua opinião, porém, é preciso ampliar o número de leitos. “Esta é a principal dificuldade. Devemos focar no aumento de leitos”, disse. Segundo Liane, poucos locais fazem esse tipo de transplante: “Praticamente só o Hospital de Clínicas faz pelo SUS”. Liane também defendeu o investimento nos parceiros voluntários, para o acompanhamento dos pacientes e famílias.

CULTURA – O secretário municipal adjunto da Saúde, Pablo Stürmer, afirmou que a doação de órgãos e sangue é um tema ao qual toda a comunidade precisa se engajar. Para ele, a gestão do tema é um grande desafio para que seja dado acesso das pessoas aos procedimentos, desde a atenção primária de saúde. A seu ver, é preciso igualmente mudar a cultura da sociedade em relação às doações. “Aí entra muito bem o papel da Frente Parlamentar, para pensar em formas de conscientização e de prevenção”, disse. “Contem com a SMS para fazer o quer nos cabe.”

PIONEIRISMO – O coordenador da Central Estadual de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde, Cristiano Franke, lembrou que a Central foi uma das precursoras no país na organização do sistema de transplantes. Como informou, o Rio Grande do Sul foi pioneiro na área de transplantes, com um número maior proporcionalmente a sua população. O médico também disse que há eficientes equipes no Estado, que registraram um crescimento de 30% nos últimos dois anos. Isso possibilitou que muitas pessoas fossem atendidas e saíssem da fila de espera. “Mas a doação é onde tudo começa”, frisou. Por fim, Franke defendeu que seja respeitada a vontade de um doador que tenha deixada registrada sua intenção de doar seus órgãos após a morte. Hoje, segundo ele, a decisão final é da família.  

Atividades e integrantes

Ao final da solenidade, Márcio Bins Ely ressaltou o papel da Frente de tentar ajudar a salvar mais vidas, “pois a saúde é o maior bem”. O vereador disse também que a Frente promoverá debates, estará aberta a propostas para atingir seus objetivos e atenta aos calendários de ações das entidades e órgãos voltados para a doação e transplantes.

Além de Bins Ely, Dr. Goulart e Oliboni, participam da Frente os seguintes vereadores: Adeli Sell (PT), Airto Ferronato (PSB), Alvoni Medina (PRB), Clàudio Janta (SD), Dr. Thiago (DEM), Fernanda Melchionna (PSOL), Luciano Marcantonio (PTB), Mauro Pinheiro (Rede), Mauro Zacher (PDT), Paulo Brum (PTB), Prof. Alex Fraga (PSOL), Professor Wambert (PROS), Reginaldo Pujol (DEM), Rodrigo Maroni (PR), Sofia Cavedon (PT), Tarciso Flecha Negra (PSD) e Valter Nagelstein (PMDB).

Texto: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)