Marcas da Memória volta à calçada do Dopinho
Na rua Santo Antônio fica localizado o nono ponto de prisões clandestinas e tortura em Porto Alegre.
“Esse prédio tem sangue e dor de muita gente que lutou por dias melhores, pela democracia. Entre esses o sargento Manoel Raimundo Soares, pessoa que foi barbaramente torturada até a morte. Temos muito trabalho para fazer, porque o Brasil é dos mais atrasados do mundo em fazer justiça aos que sofreram, nessas condições, por ideais”. Dessa forma o vereador Pedro Ruas (PSOL) se manifestou durante a solenidade de reimplantação da Placa Marcas da Memória, na calçada do número 600 da rua Santo Antônio, no bairro Independência em Porto Alegre. Denominado Dopinho, o local funcionou como o primeiro centro clandestino de detenção e tortura do Cone Sul, durante a ditadura militar.
A reinstalação da Placa ocorreu em solenidade promovida pelo Movimento da Justiça e dos Direitos Humanos (MJDH), Câmara e Prefeitura de Porto Alegre, quinta-feira (29/04). Na breve solenidade, que contou com militantes dos direitos humanos, entre esses os filhos de João Carlos Bona Garcia, falecido recentemente, o presidente do MJDH, Jair Krischke destacou a importância da manutenção desses marcos que lembram à sociedade sobre a história daqueles que lutaram pela democracia e que foram barbaramente torturados.
Como representante da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e um batalhador na causa dos direitos humanos, que contribuiu para identificar o prédio, Pedro Ruas enfatizou que a importância da preservação das Marcas de Memória. Destacou que a justiça aos que lutaram em favor da democracia, inclui a lembrança de fatos que, mesmo dolorosos, são fundamentais para a história e para se buscar novos rumos para nas relações políticas e humanas. Ruas travou intensa luta, junto com o Movimento de Justiça e Direitos Humanos, desde 2011 com objetivo de levantar os dados necessários para demonstrar que naquele endereço funcionou um centro de tortura.
Leo Voigt, secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, que representou o prefeito Sebastião Mello na solenidade, afirmou que Marcas da Memória precisam ser preservadas, como forma de informar às novas gerações, na tentativa de justiça aos que sofreram com as prisões clandestinas, tortura e muitas vezes a morte. O secretário adjunto de Governança, Luciano Marcantônio, que participou da criação do projeto Marcas da Memória, destacou o significado do registro.
O presidente do MJDH relembrou todo o processo que culminou com o projeto Marcas da Memória e prestou homenagem póstuma a João Carlos Bona Garcia, entregando aos filhos dele Rodrigo e Luciano uma estatueta Pomba da Paz. “Queríamos ter entregue em vida, mas não houve tempo”, disse. Pedro Ruas contou aos jovens que a última Marca de Memórias inaugurada na cidade, na frente do DOPS, na avenida Ipiranga com João Pessoa, Bona Garcia participou e inclusive deu seu depoimento como um dos torturados no local. A reimplantação da placa ocorreu porque a anterior, posta na calçada em 2015, foi arrancada ou roubada. Houve interferência do Ministério Público Estadual, através da procuradora Ana Marchesan, que garantiu o direito de colocaçao de outra placa. Moradores das imediações informaram ao MJDH sobre o fato o desaparecimento.
O projeto Marcas da Memória visa sinalizar os locais onde houve repressão, que tenham servido como prisões ou centros de detenção, de tortura e de desaparecimentos de pessoas durante a Ditadura Militar. Esses espaços são assinalados na paisagem urbana, tornando público que ali aconteceram graves violações aos direitos humanos. Porto Alegre tem nove placas espalhadas, indicando os locais.