Moradia assistida e inclusão social em pauta na Frente do Autismo
ONG Residencial Terapêutico Viver e Clube Social Pertence foram as entidades convidadas na reunião da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos do Autista
As possibilidades de viver intensamente o presente e de constituir garantias para o futuro com as particularidades do Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram temas colocados em debate nesta terça-feira (4), pela Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos do Autista da Câmara Municipal de Porto Alegre. Representantes da ONG Residencial Terapêutico Viver e do Clube Social Pertence foram recebidos pelo vereador Claudio Janta (Solidariedade), que conduziu os trabalhos dedicados aos temas da moradia assistida e da inclusão social de jovens e adultos com autismo.
Moradia Assistida
Presidente da ONG Residencial Terapêutico Viver, a socióloga Fernanda Ferreira introduziu o conceito de Moradia Assistida, referente ao "acompanhamento para pessoas com deficiências que desejam ou necessitam morar sós". Reforçando que o direito à moradia e residência protegida é previsto em Lei (Art. 3º, Inciso IV - Lei 12.764/2012), ela apresentou um panorama sobre as alternativas existentes do Brasil, que envolvem os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), disponíveis através do SUS, e as Residências Inclusivas para Pessoas com Deficiência, ainda insuficientes para suprir a demanda.
Focada na proteção e integração de autistas adultos em Porto Alegre, a ONG Residencial Terapêutico Viver é fruto da associação de pais e familiares de jovens com autismo, preocupados em encontrar respostas para a pergunta que mais assombra famílias que convivem com as limitações da deficiência: "quem cuidará deles quando não estivermos mais aqui?". Buscando assegurar um ambiente familiar e assistido por profissionais terapêuticos, a luta é pelo estabelecimento de uma moradia assistida verdadeiramente acolhedora.
"Não queremos uma instituição, mas sim um lar, onde esses jovens e adultos se sintam acolhidos", reforçou a presidente.
Autonomia e inclusão, "da porta pra lá"
Perceber a necessidade de viver o pertencimento foi o que também levou a professora Sara Zinger (Sarita) a dar o pontapé inicial do Clube Social Pertence. Mesmo sem ter casos de pessoas com deficiência (PCD) na família, ela relatou que a ideia surgiu numa noite, em casa, ao observar a empolgação da filha, que se arrumava para ir a uma festa. Professora, dedicada à alfabetização de jovens PCD, ela percebeu que aquela mesma empolgação também poderia ser sentida por aqueles jovens.
Reforçando que a verdadeira inclusão acontece no "ambiente externo", o Instituto Pertence promove viagens, oficinas, projetos, passeios e iniciativas voltadas à saúde de pessoas com deficiência, inclusive autismo. Entre as principais iniciativas envolvendo estes jovens, a entidade destacou o sucesso do "Grupo Fábrica de Sonhos", que transforma pessoas com deficiência em protagonistas de manifestações artísticas, como teatro e dança.
"Nosso papel é concentrar nas capacidades e não nas limitações", reforçou o professor Victor Freiberg que, ao lado da professora Sarita, dirige o Clube Social Pertence.
Entre os projetos apresentados também estão o "Temperos Especiais" que, em parceria com restaurantes, coloca pessoas com deficiência no papel de chefes de cozinha e o curso profissionalizante "Trabalho e Vida", lançado em parceria com o Senac, para preparação para o mercado de trabalho com metodologia adequada e certificação reconhecida nacionalmente.
Debates
Denunciando a inoperância em relação ao assunto da moradia assistida, o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comdepa), Nelson Khalil, enfatizou a necessidade de urgência na busca por soluções. "Na área da moradia assistiva só temos tido retrocesso, vemos as pessoas morrerem ou serem jogadas em depósitos. Este é um tema negligenciado, que é de suma importância para nós", manifestou.
O vereador Ademar Pozzobom (PSDB), que preside a Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas com Deficiência da Câmara Municipal de Santa Maria, reforçou a reivindicação do RG do Autista, que tramita no Senado Federal, e relatou iniciativas como a Balada Inclusiva, realizada na boate Moon, através de iniciativa da Apae e do Município, que conta com a atividade no Calendário Oficial. Pai de um jovem autista de 24 anos, ele também enfatizou a importância do incentivo à autonomia através do emprego: "a evolução dele (filho) depois de entrar no mercado de trabalho quando terminou o colégio, foi sensacional".
Informando sobre a apresentação do projeto que busca assegurar o direito à merenda especial nas escolas de Porto Alegre, o vereador Claudio Janta destacou que, tanto nesta questão, como em relação à moradia assistida, precisa haver mais sensibilidade e responsabilização da esfera pública. "Quem tem que dar essa tranquilidade é o poder público. O mundo ainda tem luzes e queremos acender várias", concluiu.
Também prestigiaram a reunião os vereadores João Ricardo Vargas (PSDB) e João Klaus (MDB), de Santa Maria; Mário Manfro, ex-vereador de Porto Alegre; Beto Cadeirante, representante da Secretaria da Pessoa com Deficiência do Solidariedade, e a psicopedagoga Evelise Kerkhowe, da ONG Caminhadores.