Comissões

Moradores da Vila Kédi querem permanecer no local

Reunião conjunta da Cuthab e da Cedecondh analisaram a situação da Vila Kédi/Caddie, onde parcela de moradores já foi removida para outro local

  • Reunião para debater a situação da Vila Kédi/Caddie. Na foto, moradora do local, Júlia da Costa Silva.
    Júlia da Costa Silva é professora na Vila Kédi e destacou a luta dos moradores para permanecer no local (Foto: Martha Izabel/CMPA)
  • Reunião para debater a situação da Vila Kédi/Caddie.
    Vila Kédi está localizada no bairro Boa Vista, onde reside comunidade quilombola há mais de 100 anos (Foto: Martha Izabel/CMPA)

"É desumano nos colocarem num lugar que não conhecemos. Não queremos sair do local e vamos lutar até o fim". A afirmação foi feita pela presidente da Associação da Vila Kédi, Angela Maria Oliveira da Silva, nesta terça-feira (25/5) pela manhã, durante reunião conjunta das Comissões de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) e de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab) da Câmara Municipal de Porto Alegre. O encontro, que aconteceu de forma virtual, tratou sobre a situação da Vila Kédi/Caddie, localizada no bairro Boa Vista​. Ao reafirmar que os moradores não desejam sair do local, Angela, que participou da reunião virtual a partir do seu local de residência, relembrou a origem da Vila. "Era tudo um banhado quando nossos pais vieram morar aqui. É uma comunidade calma, não há nada que seja ruim, temos escola, hospital, posto de saúde", disse.

 

Julia da Costa Silva, professora na comunidade, destacou que eles estão lutando pela moradia das pessoas que, durante 100 anos, serviram de forma análoga à escravidão ao Country Club. "Em nenhum momento esses empresários pensaram nestas pessoas. Essas 120 famílias merecem respeito, são mais de 800 pessoas que moram ali", acrescentou.

 

O presidente da Cuthab, vereador Cassiá Carpes (PP), deu início ao encontro relembrando que é uma vila que está há mais de 100 anos e se formou a partir da demanda do Country Club. "Antigamente, a região era periférica em relação a cidade. Se tornou uma região central e de alto poder aquisitivo. Ao decorrer dos anos, aconteceu a remoção de grande parte dos moradores que estavam instaladas no grande terreno ao lado. No processo, houve indenização e realocação", acrescentou. De acordo com Cassiá, o objetivo da reunião conjunta é discutir, de forma pública, os impactos sociais que serão causados com a eventual remoção dos habitantes da vila. 

 

O vereador Alexandre Bobadra, presidente da Cedecondh, ressaltou a importância do debate e disse que sentiu-se representado pelas palavras do colega Cassiá.

 

O secretário de Habitação e Regularização Fundiária, André Machado, falou que respeita a luta de cada família pela sua moradia. "Acho importante colocar que, formalmente, esse assunto não chegou ao Demhab nesta gestão. Tão logo ele chegue de uma maneira formal, todas as partes serão comunicadas. Mas tive conhecimento a partir das reuniões do CMDUA", disse. O secretário fez uma apresentação com o panorama geral da região e destacou que há o ajuizamento de uma ação pelo Ministério Público. "A primeira vez que, formalmente, chegou ao Demhab foi pela vereadora Reginete Bispo, falando sobre o desejo das famílias de permanecer no local e a luta da comunidade pelo reconhecimento de uma área quilombola. Orientei que se trata de uma ação do Ministério Público, que solicitava a remoção das famílias com reassentamento em outro local. Agora, se posiciona pela regularização dos moradores no local", explicou. André Machado apresentou ainda o levantamento planimétrico do local e o mapa do cadastramento e disse que a pasta é parceira para avançar na discussão.

 

O promotor de justiça da Promotoria de Justiça da Habitação e Defesa da Ordem Urbanística de Porto Alegre, Heriberto Roos Maciel, disse que estava disposto a ouvir e colher as informações para chegar à melhor solução possível. "Entendemos que é possível fazer uma conciliação neste tema para a permanência dos moradores naquele local, onde têm vínculos, ambiente cultural de participação e pertencimento. A busca de solução é a nossa intenção", completou.

 

Comunidades quilombolas

 

A vereadora Reginete Bispo (PT) comentou sobre a importância do reconhecimento do poder público em relação às comunidades quilombolas, o que nem sempre acontece. "Trabalhei junto com outras organizações para iniciar o processo de identificação, que já está protocolado na Fundação Cultural Palmares e é de conhecimento do Incra. Pelos estudos que fizemos, as primeiras pessoas que fundaram, da família Dutra, estão ali há mais de 118 anos. A comunidade ajudou a construir o Country Club, a vila era um grande sítio, onde havia cultivo de flores e animais", explanou.

 

O vereador Matheus Gomes (PSOL) disse que está disposto a lutar pela justiça e impedir o despejo da comunidade, garantindo o lugar onde eles têm o direito de permanecer. "Me solidarizo com todas as comunidades quilombolas e que fazem parte da cultura da nossa cidade, que devem ser reconhecidas desta forma e com esta grandeza", falou.

 

Karen Santos (PSOL) destacou a importância do reconhecimento do quilombo Kédi e que a luta por moradia desconsidera esses elementos. "É preciso a reparação aos crimes cometidos na escravização e que todos entendam o significado desta luta", explicou. Cassiá finalizou o encontro sugerindo uma visita das comissões ao local na próxima sexta-feira (28/5), a ser confirmada. Na ocasião, o secretário André Machado sinalizou que gostaria de acompanhar a visita.

 

Participaram ainda da reunião os vereadores Pablo Melo (MDB), Kaká D`Ávila (PSDB), Mônica Leal (PP), Hamilton Sossmeier (PTB), Gilson Padeiro (PSDB) e Barbara Penna (Republicanos).

Texto

Grazielle Araujo (reg. prof.12855)

Edição

Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)

Tópicos:Boa VistaquilombolaCaddieVila Kédi