Palestra sobre psicomotricidade tira dúvidas de pais e educadores
Vereador Claudio Janta mediou os trabalhos na Frente em Defesa dos Direitos do Autista.
“Do pular ao escrever, da teoria à prática” foi o tema da palestra do especialista em psicomotricidade, professor Juliano Padilha, na Frente em Defesa dos Direitos do Autista nesta terça-feira (16). Apresentando conceitos e resultados do acompanhamento realizado através do projeto Gym for All, ele introduziu técnicas relacionadas ao estímulo e desenvolvimento da capacidade motora, num bate-papo com pais e educadores, mediado pelo vereador Claudio Janta.
Reforçando que a psicomotricidade envolve relações complexas no desenvolvimento do indivíduo, o especialista enfatizou que o trabalho envolvendo a coordenação motora não dispensa o cuidado com os aspectos comportamentais. “O autismo hoje é classificado em leve, moderado e severo, que são questões a serem avaliadas, mas dentro da especificidade, temos que trabalhar a parte comportamental”.
Pequenas questões do dia a dia, como recolocar os calçados no encerramento de uma atividade descalça, devem ser observadas, pois reforçam comportamentos. “Temos que pensar o movimento como socializador, também”, explica o educador.
Esquema e imagem corporal
Atividades como apontar e dizer a parte do corpo solicitada, colocar a parte do corpo solicitada no outro (por exemplo, ombro com ombro), são exemplos de práticas que auxiliam no desenvolvimento da consciência corporal, dentro dos desafios da psicomotricidade. De acordo com o especialista, o processo de consciência do próprio corpo e do outro é necessário à percepção global e controle corporal.
No caso dos comportamentos e movimentos repetitivos, o professor esclarece que imitá-los ajuda a fazer com que o autista possa desenvolver está autoconsciência. “É possível se enxergar através da própria estereotipia. A imitação faz parte do desenvolvimento”, explicou.
Desenvolvimento na vida adulta
Após exposição sobre técnicas lúdicas e atividades dedicadas às crianças, a questão do desenvolvimento da psicomotricidade em autistas adultos foi colocado em pauta pelo vereador Claudio Janta, que questionou a possibilidade da evolução no quadro a partir do acompanhamento. De acordo com o especialista, embora o “ganho” estimado seja inferior ao da criança que recebe esta atenção nos primeiros anos, os esforços relacionados à psicomotricidade de adultos podem surtir efeitos positivos.
"É possível o acompanhamento do adulto, mas precisamos trabalhar para diminuir este déficit e tentar fazer com que e ele seja o mais funcional possível. Nesta idade, quanto às janelas de oportunidades, muitas, infelizmente, já se fecharam, mas não podemos desistir”, avaliou.
Reforçando que, quanto mais cedo o estímulo iniciar, melhor pode ser o resultado, o especialista explicou que o trabalho é realizado em cima do potencial apresentado pelo autista. O processo de avaliação envolve a constatação das lacunas no desenvolvimento e a identificação das potencialidades. A partir delas, é que acontece o estímulo à evolução.
"E o adulto? A gente não pode desistir. Quando a gente se dispõe a trabalhar nesta área compreende que o corpo humano exige desenvolvimento, treino”, reforçou o professor.
Autismo na mira do veto de Bolsonaro
Abrindo a reunião, o vereador Claudio Janta repercutiu a intenção do presidente Bolsonaro, que sinalizou um provável veto à inclusão do tema do autismo entre as questões dos censos demográficos. “Uma notícia lamentável, depois do esforço da Câmara e do Senado em agilizar a votação do projeto. Mas vamos brigar, já entramos em contato com alguns deputados”, afirmou o vereador.
Proponente da lei do Censo de Inclusão do Autismo em Porto Alegre, ele frisou que é fundamental que o Brasil avance no levantamento desta população. “Se o censo vai revelar a quantidade de pessoas com deficiência que nós temos, precisamos definir a população com autismo para desenvolver e direcionar as políticas públicas, não vamos abrir mão destes dados”.
Apoiando a manifestação, o palestrante Juliano Padilha enfatizou a importância do levantamento: “o censo vai ser um marco no nosso desenvolvimento”, afirmou.