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Pandemia: atraso no envio das vacinas adia metas de imunização na Capital

Informação foi dada por Fernando Ritter, responsável pela execução do plano de imunização contra o covid-19 na Capital, em reunião na Cosmam

  • Reunião da Cosmam
    Fernando Ritter lamentou envio de novas doses não esteja ocorrendo com regularidade previsível (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Reunião da Cosmam
    Presidida por Jessé Sangalli (Cidadania), reunião da Cosmam ocorreu no formato virtual (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

Porto Alegre está atrasada no cronograma inicial que previa a conclusão da primeira fase de vacinação contra o covid-19, que engloba um total de 163 mil pessoas até o final de fevereiro. A confirmação foi feita pelo coordenador da Vigilância Sanitária e responsável pela execução do plano de imunização contra o covid-19 na Capital, Fernando Ritter, na manhã desta terça-feira (2/3), em reunião virtual da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre.  “Vamos prosseguir, no mínimo, até o dia 20 de março”, disse aos vereadores e convidados presentes na videoconferência.

Segundo Ritter, existe logística da Secretaria para ampliar o processo, mas isso depende do envio de novas doses, que não têm chegado com regularidade previsível, principalmente pela falta de condições dos laboratórios para conseguirem atender a demanda mundial. “Com o atraso da primeira fase, as demais vão sendo levadas adiante. Acreditamos que até junho tenhamos concluído as três primeiras fases, que também incluem pessoas entre 60 a 74 anos e pacientes com comorbidades”, explicou, ao lembrar que a vacinação, que iniciou em oito unidades de saúde, já acontece em 37 pontos na Capital.

Ele também afirmou que as segundas doses das vacinas, para quem já aplicou a primeira, estão garantidas e que eventuais atrasos não retiram a eficácia da imunização. E exemplificou: “Quem tomou a primeira dose e contraiu o vírus depois precisa esperar a passagem do período de tratamento e 30 dias para poder tomar a segunda dose, o que dá 45 dias, ao invés dos 28 recomendados no caso da Coronavac”, declarou. Já, para a vacina da Oxford/Astrazeneca, o prazo entre uma dose e outra é de 12 semanas, cerca de três meses.

O coordenador da Vigilância Sanitária da Capital destacou que, só depois disso, a ordem sequencial do planejamento, que segue o Plano Nacional, terá prosseguimento, com a imunização dos demais segmentos: trabalhadores em Educação; forças de segurança e salvamento; funcionários do sistema prisional; população privada de liberdade; população em situação de rua; pessoas com deficiência permanente severa; transportadores rodoviários de carga; e trabalhadores do transporte coletivo. As quatro fases atendem a 644 mil porto-alegrenses e serão necessárias 1.288 mil doses para que, após 28 dias da aplicação da segunda dose, todas estejam imunizadas.

Variantes

Sobre as variantes do novo coronavírus, Ritter destacou que está em conclusão um estudo que deve apontar para a transmissão comunitária da cepa P1, a mesma encontrada em Manaus. Ele informou que o estudo contempla 40 pacientes do Hospital de Clínicas e cerca de 16 casos, que tendem a se confirmar como comunitários. Eles estão em análise e o resultado deverá ser conhecido nos próximos dias. Ainda disse que o município dispõe de testes e que isso ajuda na identificação dos casos e o consequente isolamento para evitar novas transmissões. Segundo Ritter, essa transmissão não tem relação com os pacientes transferidos de outros estados para tratamento em Porto Alegre, e a contaminação deve ter sido importada por pessoas que viajaram do Norte para o Rio Grande do Sul.

O coordenador da Vigilância Sanitária falou também sobre o aumento de leitos de enfermagem e Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), do “esforço” que o município, em conjunto com os hospitais, tem feito para disponibilizar os espaços físicos e os recursos humanos necessários, mas que há um esgotamento dos profissionais, cuja saúde mental já tem sido afetada pela sobrecarga e estresse provocados pelo trabalho.

Circulação

Ritter apontou para a gravidade do momento e pediu que a população se conscientize da necessidade de cumprimento dos protocolos sanitários para evitar a circulação e o contágio pelo vírus e, se possível, evitar sair de casa e ter contato com outras pessoas que não sejam do seu núcleo habitacional, nem mesmo familiares. “Entendemos que a economia tem importância e para que ela não pare com maior intensidade é preciso a compreensão das pessoas, que devem observar as duas frentes de combate ao novo coronavírus, que são a do tratamento, com o atendimento na rede de saúde, e da prevenção, a partir da vacinação do maior número de pessoas e dos cuidados, como o uso de máscara, higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel, e distanciamento social.”

Orçamento

Sobre a compra direta de vacinas pelo município, cujo projeto para dar legalidade ao processo foi encaminhado ontem (1/2) ao Legislativo, em regime de urgência, Ritter disse que o entrave está posto na dificuldade de negociação com os laboratórios. Ele informou que, em uma tentativa de acerto com a Pfeizer, a primeira fabricante a ter o registro de uso definitivo autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, o município foi informado de que, por hora, as vendas estão sendo feitas somente para os governos federais. “Isso, provavelmente, se deve à alta demanda e à dificuldade de atendê-la com a produção que tem”, ponderou. Mas ressaltou que a cidade estará preparada para a compra consorciada, ou até mesmo sozinha, quando isso for necessário e possível.

Orientações

Segundo Ritter, as pessoas, ao sentirem os primeiros sintomas, devem procurar primeiramente as unidades básicas de saúde para os procedimentos iniciais, que vão da avaliação médica e testagem à busca de vagas para a internação, se necessário. Disse que, apesar dos sinais de esgotamento físico e de recursos humanos, ainda existem leitos disponíveis nos hospitais da capital gaúcha. Ele defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS) e lembrou que, não fosse a sua capilaridade, o número de mortes no país teria sido ainda maior até aqui.

Entidades

Representantes do Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Conselho Municipal de Saúde (CMS) e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) participaram do encontro com os vereadores da Cosmam. De acordo com Fernando Pigatto (CNS), houve o alerta para a gravidade, e as autoridades, que tiveram tempo para preparar o país, não o fizeram. Salientou que, por pressão, mais de R$ 40 bilhões extras foram injetados na saúde, o que evitou um número ainda maior de mortes pela doença. Disse que o governo federal deveria ser mais eficaz na ajuda à população, com o auxílio emergencial, e aos empresários, para garantir a manutenção da economia, até que a pior fase da crise possa ser ultrapassada. Por fim, ele criticou o veto presidencial ao item da Medida Provisória que permitiria a compra de vacinas pelos estados e municípios.

Já Cleber Verona (GHC) explicou que a ampliação de leitos e contratações de pessoal pelo grupo, mesmo que em regime de urgência, segue prazos legais, mas destacou que o GHC está constantemente se reinventando, modificando áreas dos outros hospitais (Cristo Redentor e Fêmina) para atendimento de casos não covid, o que amplia a capacidade no Hospital Conceição. Mas ressaltou que essas mudanças dependem, também, do aval das regulações estadual e municipal. Lembrou que os recursos são finitos, mas que já estão em andamento as novas vagas contratualizadas.

Sobre a imunização, Verona disse que todos os trabalhadores da linha de frente, no combate à pandemia, já receberam a primeira dose, exceto os que estão em teletrabalho ou afastados, e já estão na segunda etapa. Segundo ele, agora a  vacinação expandiu para outros setores menos prioritários dos funcionários e aos terceirizados, devendo esse processo estar finalizado até a próxima semana.

Gilmar Campos (CMS) salientou que uma carta foi elaborada e entregue ao município cobrando os motivos que levaram a Capital a liberar a vacinação de profissionais da saúde que não eram da linha de frente. Que o documento foi enviado ao Ministério Público, pois, segundo Campos, houve desrespeito ao Plano Nacional de Vacinação. Informou que também pediram a ampliação das unidades de vacinação, que inicialmente eram oito. O representante do CMS disse ainda o atendimento básico tem demorado mais de 10 horas nas Unidades de Saúde e que os pronto-atendimentos estão lotados de pacientes covid à espera de leitos hospitalares, muitos deles de UTIs, e que a estrutura não comporta a permanência deles nesses locais.

Também participaram e questionaram os convidados: o presidente da Cosmam, vereador Jessé Sangalli (Cidadania), a autora do requerimento que convidou Ritter a falar sobre a imunização contra covid em Porto Alegre, vereadora Psicóloga Tanise Sabino (PTB), além dos vereadores Aldacir Oliboni (PT), José Freitas (Republicanos) e Lourdes Sprenger (MDB).

Texto

Milton Gerson (reg. prof. 6539)

Edição

Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)

Tópicos:Vigilância Sanitáriavacinaçãovacinaspandemiacoronavíruscovid-19