Comissões

Preconceito ainda é principal obstáculo para diagnóstico do câncer de próstata

Reunião a respeito de políticas, assistência e conscientização Novembro Azul.
João Eduardo Reymunde, disse que a SMS tem trabalhado na conscientização sobre a saúde integral do homem (Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA)

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre debateu, nesta terça-feira (16/11), a conscientização sobre o câncer de próstata, abordando as políticas públicas, a assistência e a divulgação sobre o Novembro Azul na Capital. Na abertura do encontro, o presidente do colegiado, vereador Jessé Sangalli (Cidadania), destacou que o câncer de próstata é o segundo mais comum entre homens. “A próstata é uma glândula que somente os homens possuem, situada logo abaixo da bexiga e à frente do reto”, explicou, acrescentando que os exames iniciais são o de toque retal e o de sangue para medir os índices de PSA.

Proponente do debate, Cláudia Araújo (PSD) disse que o Novembro Azul é um movimento mundial que tem o objetivo de alertar sobre o câncer de próstata, especialmente sobre a importância do diagnóstico, bem como para o cuidado com a saúde integral do homem. Conforme a vereadora, o câncer de próstata responde por 28,6% das mortes da população masculina por causa de neoplasias malignas. Ela destacou que a doença não apresenta sintomas nas fases iniciais, sendo ainda mais importante a realização de exames de rotina para detecção do câncer. “A única cura é o diagnóstico precoce”, enfatizou, acrescentando que cerca de 20% dos casos são diagnosticados somente com o toque retal. A parlamentar ainda destacou que é importante combater o preconceito que envolve o exame, desfazendo tabus para salvar vidas.

Na mesma linha, a vereadora Psicóloga Tanise Sabino (PTB) falou sobre artigo que destaca a participação das mulheres na saúde masculina. Conforme a publicação, a grande maioria dos homens, quando têm algum problema de saúde, vão ao médico acompanhados ou motivados por uma mulher. Sobre o exame de toque, disse que a falsa crença de abalo da masculinidade e a vergonha levam homens a não realizarem o procedimento fundamental para o diagnóstico. Comparando os exames preventivos de homens e mulheres, destacou que o exame de toque dura em torno de um minuto, enquanto o “papanicolau”, realizado anualmente pelas mulheres, é muito mais demorado e desconfortável.

Renan Desimon Cabral, urologista do Hospital de Clínicas, concordou que o assunto mexe muito com o imaginário das pessoas, mas que, felizmente, tem-se visto cada vez menos preconceito. “A campanha Novembro Azul, nos últimos cinco anos, tem ganhado corpo e temos visto cada vez mais homens procurando atendimento”, afirmou, ressaltando que a campanha ajuda a desmistificar a questão do exame. De acordo com o médico, o câncer de próstata tem uma variação muito grande, que vai desde tumores que podem ser acompanhados a tumores graves. Ele enfatizou que não há prevenção para a doença e que o diagnóstico precoce é a única forma de tratar efetivamente e aumentar as taxas de cura. “A prevenção é fazer o diagnóstico precoce”, frisou. 

Representante do Coren-RS, Fernando Mengue abordou a dificuldade de diagnóstico e demora para a população conseguir consultas com urologista nos postos de saúde. “A precariedade no quantitativo de profissionais da enfermagem também dificulta a prevenção”, afirmou. Mengue também sugeriu a realização de uma busca ativa, por parte dos agentes de saúde, aos homens na faixa etária da população alvo para iniciar os exames de prevenção.

Para Aldacir Oliboni (PT), deve haver mais agilidade no diagnóstico realizado nas unidades de saúde e nos pronto atendimentos. Ele relatou o caso no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, onde, além do atendimento ser muito demorado, um exame demora em torno de 12 horas para ser entregue porque o serviço foi transferido para o Hospital Presidente Vargas. “Fizemos um apelo para que os exames voltem a ser realizados no local para diminuir o tempo de diagnóstico”, afirmou, ressaltando que uma dor na uretra, por exemplo, pode ser sinal de infecção urinária, mas também um sintoma de câncer de próstata. “O cidadão não pode ficar meses esperando por um exame”, destacou.

Responsável pela política de saúde do homem na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), João Eduardo Reymunde, disse que a pasta tem trabalhado na conscientização sobre a saúde integral do homem. Ele relatou que foi realizada, na última semana, live de capacitação com servidores da SMS e de todos os postos de saúde para melhorar o acesso e o acolhimento aos homens que precisam realizar os exames preventivos. “Os homens, de maneira geral, têm essa dificuldade comportamental”, falou, acrescentando que os trabalhadores da construção civil são uma categoria com forte resistência à realização dos exames. Para preencher essa lacuna, a pasta está levando unidades móveis a canteiros de obra na Capital. “Na semana passada realizamos mais de 300 testes rápidos”, relatou. Reymunde disse que levará as sugestões e críticas apresentadas na reunião à coordenação da Secretaria e se comprometeu a informar à Comissão os números de paciente com câncer de próstata em Porto Alegre.

A reunião também contou com a presença dos vereadores José Freitas (Republicanos) e Lourdes Sprenger (MDB), além de representantes da Defensoria Pública do RS, Departamento de Atenção à Saúde da Superintendência de Gestão de Pessoas da Ufrgs, Cremers e OAB-RS.

Texto

Ana Luiza Godoy (reg. prof. 14341)

Edição

Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)

Tópicos:exame de toqueretalpróstatacâncer