COMISSÕES

Reunião da Cosmam aborda Transtorno do Espectro Autista

  • 8ª Reunião (Ordinária) da COSMAM. PAUTA: Compreendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA): diagnóstico, tratamento e vivência autista na escola e sociedade.
    De pé, Luciana Mendina e Bernardo Martínez, mãe e filho, deram depoimento sobre o diagnóstico precoce do autismo (Foto: Fernando Antunes/CMPA)
  • 8ª Reunião (Ordinária) da COSMAM. PAUTA: Compreendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA): diagnóstico, tratamento e vivência autista na escola e sociedade.
    A proponente da pauta foi a vereadora Psicóloga Tanise Sabino (PRD) (Foto: Fernando Antunes/CMPA)

Nesta terça-feira (02/04), Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), da Câmara Municipal de Porto Alegre, realizou reunião para tratar sobre o diagnóstico, o tratamento e a vivência em sociedade das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A presidente da Cosmam, vereadora Lourdes Sprenger (MDB), abriu a reunião e conduziu os trabalhos. A proponente da pauta foi a vereadora Psicóloga Tanise Sabino (PRD), que falou da importância do mês de abril para chamar a atenção da sociedade quanto ao TEA. “Eu sou muito feliz em estar aqui no parlamento, como vereadora, como psicóloga, tratando sobre o tema da saúde mental, e quando a gente fala do Transtorno do Espectro Autista, também estamos falando sobre saúde mental, dos autistas e, principalmente, também das famílias, que necessitam bastante”, afirmou. A parlamentar apontou ainda a necessidade de criar um outro Centro de Referência do Transtorno Autista (Certa) infantil no município, além de pensar um novo Centro que abranja o público adulto.

A pediatra especializada em neurologia e neuropsicologia infantil, Fabiana Mugnol, tratou sobre o diagnóstico precoce do autismo e explicou como identificar sinais do TEA. Fabiana abordou a questão do neurodesenvolvimento, que de acordo com ela, começa desde a concepção. Apresentou um gráfico com os picos de desenvolvimento do cérebro e explicou que, no mês zero, o bebê já começa a ter habilidades básicas, como chorar, movimentar, deglutir. “Nessa infância mais precoce, a gente tem o desenvolvimento de grandes habilidades linguísticas, motoras e sensoriais”, explanou. Portanto, o cérebro é plástico e a primeira infância é um momento fundamental para o neurodesenvolvimento. “Em qualquer idade, uma criança que perde habilidades já adquiridas, deve ser avaliada quanto à possibilidade do TEA”, pontuou. A pediatra disse que o diagnóstico para o autismo é clínico e multidisciplinar, tem que analisar os detalhes nos sinais da criança, pois é totalmente individualizado. E completou esclarecendo que os grandes pilares do diagnóstico são “falhas comunicativas e padrões repetitivos de comportamento”.

O psiquiatra e coordenador do Certa, Alceu Gomes, falou sobre o trabalho do Centro em Porto Alegre. De acordo com ele, o Centro completa dez meses em abril, sendo uma demanda reprimida da cidade, e que o Rio Grande do Sul é pioneiro em criar políticas públicas que depois viram referência para o país. Ele reforçou que as crianças precisam fazer uma avaliação multidisciplinar, para o diagnóstico correto, em alguns casos, chega a levar até quatro meses. “Nós temos crianças no Certa, 10% das crianças que chegaram até nós, temos dúvida se têm TEA ou não”, disse. Gomes apontou que a equipe do Certa conta com psiquiatra, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, entre outros. “Quando o Certa inaugurou, a nossa capacidade instalada é de 250 crianças. Em três meses, nós recebemos judicialização para 272 crianças”, revelou. O coordenador do Certa concluiu dizendo que já fizeram quase 8 mil atendimentos e a previsão para 2024 é finalizar todas as avaliações, criar uma sala sensorial, formar grupos de pais para que possam trazer as demandas ao Certa, capacitar os colaboradores e pais para o manejo de crise, e outros.

O professor da equipe inclusiva da Secretaria Municipal de Educação (Smed), André Vicente, abordou a inclusão escolar dos alunos do Espectro Autista. Contou um pouco da história da rede da educação inclusiva, que é precursora enquanto política pública, as salas de recursos multifuncionais, por exemplo, são de 2008. “A nossa rede, ela é muito potente”, declarou, e completou citando as salas de recursos inclusivas, as polos, entre outras. Ele finalizou observando que antes não se conseguia dar uma atenção a toda a multiplicidade de deficiências e que, hoje, as salas de recursos estão abertas para o atendimento.

A jornalista Luciana Mendina, idealizadora da Lei da Detecção Precoce do Autismo, presidente da Associação Inclusiva e autora do “Guia prático do autismo”, deu um depoimento junto ao filho autista Bernardo. Em sua visão, a palavra de ordem em relação ao autismo é união. “Quando o Bernardo foi diagnosticado, havia um autista a cada 150 pessoas, há mais de 21 anos, e agora é um a cada 36”, afirmou. Segundo Luciana, a lei que ela idealizou existe desde 2017, mas que deve ser mais divulgado o seu protocolo para avaliação do autismo. “Quanto antes for tratado, mais chance de reverter sintomas”, disse. Por fim, pediu apoio para um projeto que ofereça terapia às mães de autistas, além de viabilizar oportunidades de trabalho para estas mulheres. “Nós não queremos mais leis, nós queremos projetos, queremos concretizar. Falta aquela questão de viabilizar a vida dessas famílias”, declarou.

O estudante de Biologia e autista, Bernardo Martínez, revelou que se beneficiou muito do diagnóstico precoce e que foi observado na escola, por suas professoras, que ele tinha um comportamento anormal. “O Dr. Alceu foi o primeiro médico a me ver, com um ano e onze meses, e foi diagnosticado o autismo na época”, contou. Disse que atualmente está muito bem e agradeceu todo acolhimento e dedicação de sua mãe, e demais familiares, além dos médicos com quem se tratou, professores e colegas. “Lutar pelo diagnóstico precoce, lutar pela inclusão do filho, vale a pena”, finalizou.

Nos encaminhamentos, a vereadora Tanise agradeceu a presença de todos e lembrou que o mês de abril será dedicado à escuta e ao diálogo sobre o Transtorno do Espectro Autista. Ela enfatizou que o trabalho do Certa deve ser expandido para outros locais do município.

Texto

Andressa de Bem e Canto (reg. prof. 20625)

Edição

Andressa de Bem e Canto (reg. prof. 20625)