Comissões

Servidores do Pacs denunciam estado de sítio e toque de recolher

Torpedos de oxigênio, perigo de explosão  Foto: Ederson Nunes
Torpedos de oxigênio, perigo de explosão Foto: Ederson Nunes (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
Uma sessão conjunta das Comissões de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) e de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh), da Câmara Municipal de Porto Alegre, reuniu vereadores, comunidade e servidores no Pronto Atendimento da Vila Cruzeiro do Sul (Pacs) na tarde desta terça-feira (8/3). Na pauta, os recentes tiroteios e invasões do Pacs, envolvendo integrantes da guerra do tráfico, bem como a falta de segurança e a ausência de um plano de proteção aos servidores e pacientes. 

O encontro aconteceu em uma pequena sala no segundo andar do Pacs. “Precisamos de uma sala maior para poder acomodar esta gente”, reclamou a promotora de Justiça Liliane Pastoriz, referindo-se à grande quantidade de pessoas que foi até o Posto para participar da reunião e não conseguiu acomodação. Segundo a direção do Pacs, o auditório estava sendo utilizado para outro evento. Para o presidente da Cedecondh, vereador Dr. Thiago Duarte (PDT), o que houve foi um “boicote” do poder público (da prefeitura e da Secretaria Municipal da Saúde) na tentativa de inviabilizar a sessão conjunta no Pacs.

Vistoria

O Ministério Público decidiu fazer uma vistoria do Pacs para constatar a atual situação. Liliane Pastoriz e o promotor de Justiça Alexandre Thomé, acompanhados de representantes do Comando da Brigada Militar, da Secretaria Municipal de Segurança e da Policia Civil, além da presidente da Cosmam, vereadora Lourdes Sprenger (PMDB), e dos vereadores Alberto Kopittke (PT) e Marcelo Sgarbossa (PT), percorreram as dependências do Pacs, lamentando, no final, a situação precária na área da segurança. Segundo os promotores, é bom o atendimento aos pacientes, mas a segurança deixa a desejar.

Enquanto isso, numa sala de reuniões do segundo andar, Dr. Thiago e o vereador Dr. Goulart (PTB) ouviam as demandas dos servidores da saúde.

Samu

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no Postão da Vila Cruzeiro convive com a insegurança. “Nossas equipes não têm nenhum tipo de proteção ou escolta”, reclamou a técnica de enfermagem Martha Sander. Segundo ela, os profissionais precisam receber um adicional de risco de vida “por insalubridade em grau máximo”, tamanho o perigo que correm diariamente.

O técnico de enfermagem Ronald da Cunha Oliveira reforçou o que a comissão de vereadores e a Promotoria vêm constatando. "Não se tem segurança alguma”, disse, lamentando a falta de policiais no local. De acordo com ele, “só tem um guarda, servindo de alvo no pátio”.

Toque de recolher

A enfermeira Rosana Metrangolo entregou aos vereadores um documento elencando uma série de reivindicações para a segurança no Pacs. O conjunto de medidas vai desde a instalação de um botão de emergência para ser acionando quando o local for atacado até a retirada de “torpedos de oxigênio” que estão instalados em uma sala na frente da “linha de tiro do tráfico”. Segundo ela, os torpedos oferecem um grande risco de explosão caso uma bala atinja um deles, “o que levaria ao ar o prédio todo”. 

Outra demanda relatada pelos servidores é a inexistência de uma “sala de segurança” para proteger enfermeiros e pacientes em caso de ataque. "Vivemos um estado de sítio com direito a toque de recolher", afirmam, revelando que situação igual ocorre no Pronto Atendimento da Vila Bom Jesus. À noite, segundo eles, "é uma roleta russa" entrar ou sair do Postão tamanhas chances de ser atingido por uma bala perdida dos tiroteios entre os traficantes ou entre a polícia e os bandidos. 

Como relataram, as ambulâncias do Samu precisam ser escoltadas para remover pacientes, mas dificilmente conseguem com que a Brigada Militar faça esse serviço. "Na falta de proteção oficial, cheguei a ser escoltado "pelos soldados do tráfico" para levar um paciente até o Hospital de Pronto Socorro", afirmou o motorista Alessandro Souza Rosa do Sindicato dos Condutores de Ambulâncias do Estado e que trabalha no Pacs.   

No final, tanto Cosmam, Cedecondh e o Ministério Público entenderam que se faz urgente chamar os gestores das áreas da saúde e da segurança para que se discuta e se chegue a um consenso sobre o compromisso de cada um no caso. “Não podemos ficar assistindo de braços cruzados”, disse a vereadora Lourdes Sprenger, que já testemunhou um tiroteio entre gangues rivais quando visitava o Postão na companhia do vice-prefeito Sebastião Melo. A situação é tão delicada, que, na próxima terça-feira (15/3), todos serão chamados novamente, desta vez para um encontro na Câmara Municipal com objetivo de “delinear compromissos”, afirmou Dr. Thiago.

Texto: Flávio Damiani (reg. prof 6180)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)