Plenário

Tribuna Popular trata do Transtorno do Espectro Autista

  • Tribuna Popular com o Projeto Angelina Luz sobre Transtorno do Espectro Autista.
    Autismo foi tema levado ao Plenário nesta segunda-feira (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Tribuna Popular com o Projeto Angelina Luz sobre Transtorno do Espectro Autista.
    Mães de autistas relataram as dificuldades que enfrentam por falta de apoio público (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

O período destinado à Tribuna Popular na sessão plenária da Câmara Municipal de Porto Alegre, desta segunda-feira (22/11), teve como pauta o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Na oportunidade, a presidente do Projeto Angelina Luz, Érika Karine Rocha Dallavechia, destacou que 502 crianças autistas em vulnerabilidade social são atendidas pela iniciativa e pediu apoio para que leis federais, estaduais e municipais sobre o tema sejam cumpridas de fato.

Ao contar que é mãe de uma criança autista de cinco anos, a presidente reforçou que as famílias querem ser enxergadas e clamam pelos seus direitos. “Tenho uma filha autista nível 2 caminhando para o nível 3. Ela recebeu o diagnóstico com um ano e três meses. Segue sem tratamento e numa regressão exorbitante. Pedimos um olhar para essa luta com efetividade. A nação autista clama por socorro, vocês têm que nos enxergar, estamos cansadas, chega de promessas, pois nós também temos direito a viver, a sorrir. As crianças fazem parte do Projeto para mostrar à sociedade que existimos, estamos cansadas de não ter um tratamento especializado, porque não existe pelo SUS. Estamos cansadas pela inclusão que não passa de uma integração”, lamentou Érika.

Sobre as questões de preconceito e discriminação, ela disse não poder acusar a sociedade, porque, infelizmente, a informação do que é o autismo não é divulgada. “Têm muitos pais e mães aqui hoje, vocês já pararam para pensar a dor e sofrimento de uma mãe em não poder ouvir o timbre, a voz do seu filho? Muitos acabam numa prisão domiciliar, com filhos convulsionando, sem tratamento, clamando por um socorro e esse nunca chega. Estamos clamando por existência, por dignidade, a gente existe e têm crianças em regressão, que se autoagridem, automutilam, sem medicação. Perdemos mães para o suicídio, estamos enterrados vivos e a sociedade tem que respeitar. Não estamos pedindo favor, são direitos negados a nós diariamente na área da saúde e educação”, evidenciou.

Relato

Mãe de autista severo, Lúcia Marcelino relatou as dificuldades vivenciadas diariamente com o filho que tem 30 anos. “Meu filho é deficiente múltiplo, cego, surdo e mudo, fraldário, toma mamadeira e é autista severo. Com 53 anos hoje, eu pergunto como vão ficar os nossos filhos? O meu não estudou, não vai fazer faculdade, mas pergunto em nome de muitos Alexandres: onde vai ficar meu filho? Com quem vou deixar? Ele é tão bem cuidado, mas alguém se sacrifica”, disse.

Lúcia também afirmou que o preconceito é diverso. “A gente vive um divisor de águas, quanto mais comprometido, menos na rua tu sai. Não tive filho que estudasse, somos negros, uma consulta já é complicada e imagina quando entra em crise, corro o risco dele ter uma crise e ser morto ou preso, se não contar que é autista, pode ser confundido com tudo de mal que há. Tenho um projeto que comecei a reunir mães para falar na mesma língua, tenho a coragem de vir aqui e contar, mas muitas não saem para rua e têm medo. Não vou desistir e vou lutar muito pelo meu filho”, finalizou.

Apartes

Manifestaram-se, em apartes, Psicóloga Tanise Sabino (PTB), Pedro Ruas (PSOL), Cláudia Araújo (PSD), Aldacir Oliboni (PT), Daiana Santos (PCdoB) e Airto Ferronato (PSB).

Texto

Bruna Mena Bueno (reg. prof. 15.774)

Edição

Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)