Cedecondh discute violência policial e marginalização dos motoboys
Reunião tratou sobre as condições de trabalho dos motoboys na Capital, e abordou casos de violência contra estes profissionais (Foto: Júlia Urias/CMPA - Uso público, resguardado o crédito obrigatório) O motoboy Allison Ribeiro (E) falou sobre a violência que sofreu quando fazia uma entrega. Douglas Benites (D), do Sindimotos, também já sofreu violência policial (Foto: Júlia Urias/CMPA - Uso público, resguardado o crédito obrigatório)
Em reunião realizada na tarde desta terça-feira (22/04), a Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) discutiu sobre a violência policial e a marginalização dos motoboys. A pauta foi proposta pelo presidente da Comissão, vereador Erick Dênil (PCdoB), que conduziu os trabalhos. O parlamentar salientou a importância da pauta sobre as condições de trabalho dos motoboys na Capital, e mencionou alguns casos de violência contra estes profissionais, cujos relatos chegaram ao seu gabinete. “Eu quero falar um pouco sobre a marginalização dos motoboys. É uma categoria muito desvalorizada, não temos incentivo das plataformas, não temos os equipamentos de trabalho; na verdade, as plataformas só ganham com a produtividade dos trabalhadores”, apontou.
O motoboy Allison Ribeiro contou que ia fazer uma entrega, em dezembro do ano passado, no Bairro Menino Deus, quando um casal passava no local. Conforme seu relato, foi do portão até a portaria e o casal iniciou uma discussão com ele sobre sua entrada no condomínio, o homem tirou uma arma da cintura e deu uma coronhada em seu rosto. Allison pediu socorro e chamou a polícia. O motoboy prestou queixa na polícia, além de procurar o Ministério Público e a Defensoria Pública para relatar a situação. “Eu procurei essa assessoria para poder me dar uma segurança. A gente fica desfavorável na rua, eu prefiro divulgar essa situação para que não venha a ter retaliações”, complementou. Segundo ele, a Brigada Militar tem conhecimento de quem é o agressor, “o primeiro nome é Maurício, se não me engano”, disse, e que se trata de um policial.
Representando o Sindimotos, Douglas Benites disse que a violência sofrida por Allison, infelizmente, é a realidade dos motoboys. “Eu, Douglas, também já fui vítima de violência policial e não tive a coragem de denunciar. Eu nem conhecia o sindicato quando sofri a violência policial. Cheguei a trocar de cidade, porque achei que eu que estava errado”, revelou. Em sua visão, o trabalhador está cumprindo ordens e é marginalizado. Por outro lado, ele ponderou que “esse trabalhador ainda tem fé na polícia”.
O entregador de bicicleta e moto do iFood, Donizete Chaves, afirmou ter medo da Brigada Militar. Ele pontuou o nível de tensão ao qual o policial militar é exposto em seu trabalho, o que inclusive tem levado a altos índices de suicídio nesta categoria. Chaves relatou que, na última sexta-feira, estava no Parque Marinha, em uma quadra de esportes, com amigos, e foi abordado por brigadianos, por suspeita de tráfico de drogas. Ele estava com roupa do iFood e, mesmo com outras pessoas, foi o único revistado, inclusive sua moto e sua bag (caixa de entregas da moto). “No momento, eu me senti completamente constrangido, humilhado”, desabafou.
Comandante do 9° Batalhão da Brigada Militar, o tenente-coronel Hermes Wölker destacou a relevância do tema. “Nós somos parceiros dos sindicatos dos trabalhadores; para que a gente possa melhorar como Brigada Militar, nos serviços que a gente presta à população”, declarou. Sobre a situação de Allison, ele afirmou que, apesar de a ocorrência não ser da área de seu Batalhão, averiguou que já foi aberto inquérito para apurar o caso. “Não era policial militar fardado, era um policial no seu horário de folga. Ainda assim, nós fazemos toda a investigação a respeito desse feito, porque embora de folga, esse policial representa a instituição”, garantiu. Com relação aos locais adequados para denunciar, o comandante orientou que, cada batalhão, nas diferentes localidades do município, tem uma ouvidoria, na qual se recebe esse tipo de denúncia.
Nos encaminhamentos, o proponente lembrou que a Cedecondh atua no sentido de reforçar os direitos humanos e debater os assuntos relativos a este tema. Ele se colocou à disposição para auxiliar em casos de denúncias e que a situação vivenciada por Allison não se repita com outras pessoas. “Nós vamos acompanhar de perto esse inquérito”, finalizou Dênil.