Comunidade afro-descendente reivindica território
Representantes da comunidade afro-descendente de Porto Alegre reivindicaram nesta segunda-feira (2/10), durante reunião da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal, que o Largo Zumbi dos Palmares (antigo Largo da Epatur) seja transformado em área de interesse cultural e destinado à valorização das tradições afro-brasileiras. Segundo os representantes, a reivindicação visa resgatar a memória da população negra e sua contribuição para o desenvolvimento da cidade. Merecemos um espaço que simbolize a luta pela sobrevivência de um povo, afirmou Vera Soares, integrante do Conselho Nacional pela Promoção da Igualdade Racial. É nosso direito utilizar os espaços públicos para reconhecer os heróis deste país, que não foram só os europeus, mas a população negra e indígena, defendeu, arrancando aplausos do Teatro Glênio Peres lotado.
Presente à reunião, a ministra da Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, elogiou a luta da comunidade e ressaltou que, para se construir um país democrático, é necessário que os tombamentos das praças e logradouros públicos também o sejam. Nós, negros, fomos preponderantes na construção da cultura deste Brasil. Não somos descendentes de escravos submetidos a uma condição de exploração, mas remanescentes de africanos que ocuparam territórios brasileiros no afã de enriquecer a tradição do país.
Dentro do projeto de infra-estrutura arquitetônica do Largo Zumbi dos Palmares, apresentado pelo Conselho Gestor do Quilombo Urbano Zumbi dos Palmares, constam a edificação de um memorial com a história dos afro-descendentes, um mercado negro para afirmação dos elementos culturais e um espaço para realização de iniciativas esportivas e educacionais. A construção do espaço é um fato técnico, mas também um fato social que simboliza uma vitória para os negros, explicou o sociólogo Ronaldo Jorge de Oliveira. No dia 20 de novembro será apresentada aos órgãos públicos a maquete oficial do projeto.
Impasse
O maior problema apontado pelos afro-descendentes para a conquista do espaço público é o projeto da prefeitura municipal Portais da Cidade - que prevê a implantação de um terminal de ônibus no local. Para Vera Soares, a idéia aniquila com as raízes históricas consolidadas pelos negros naquele território. Não podemos remover o chão e a terra tão cultivados por nossos ancestrais, a prefeitura precisa compreender a nossa condição, pediu.
Ângela Baldino, secretária municipal do Turismo, concordou com as manifestações e prometeu empenho dentro do Executivo para resolver a questão. O representante da Secretaria de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Marcelo do Canto, foi enfático ao dizer que o prefeito José fogaça, junto com seus técnicos, estuda uma nova proposta de readaptação dos portais. As variáveis da proposta estão sendo levadas em conta e a comunidade será ouvida sempre, ponderou.
O presidente da Cedecondh, vereador Carlos Comassetto (PT), destacou que a busca pela solução do impasse tem a ver com as prioridades que o Executivo municipal deseja traçar. O que está em jogo aqui é a valorização da história e da cultura de um povo. E isto não pode ser esquecido por nenhum governante."
Ester Scotti (reg.prof.13387)