Cosmam debate os impactos do luto na saúde mental
A Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre realizou reunião, na manhã desta terça-feira (5/11), na qual discutiu o luto e seus impactos na saúde mental da população. A presidente da comissão, vereadora Lourdes Sprenger (MDB), salientou a relevância do tema e destacou os diferentes tipos de luto. “É importante dar mais visibilidade à saúde mental em decorrência do luto. Hoje, se lê nas literaturas que o luto não é apenas a perda da vida: pode ser a perda de um emprego ou de bens materiais, ou uma mudança de vida. Vamos abordar o luto pelas perdas de vida, tanto humanas como de um pet de estimação”, explicou.
A psicóloga Denise Cápua Corrêa ressaltou a seriedade do tema, que ainda é visto como estigma na sociedade: “A gente tem uma ideia construída socialmente de que falar de morte muitas vezes é errado, que falar de morte atrai a morte, então deixamos de lado, como se fosse melhor não falar. Há um discurso de que 'todos têm que ser fortes, todos têm que superar', mas não é bem assim". Além disso, destacou a necessidade de entender e respeitar o processo de luto de forma responsável e compreensiva: “Precisamos dar voz, explicar, falar, psicoeducar as pessoas para esse processo, para que realmente possamos ajudar”.
A coordenadora do GT Saúde Mental da OAB/RS, Clarisse Barcelos Lima, pontuou o trabalho dos advogados que trabalham diariamente na defesa do direito à saúde mental. “Na OAB, os advogados privados, bem como na advocacia pública, trabalham diariamente para termos acesso à saúde mental, ao serviço tanto público, como privado. Em alguns casos, os planos de saúde ficam melindrando o acesso a psicólogos e a psiquiatras, por isso estamos brigando diariamente nessa causa”.
A chefe da psiquiatria do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, psiquiatra Madeleine Scop Medeiros, enfatizou o aumento da procura por atendimento após as enchentes. “No hospital estamos podendo acolher pacientes desde o ambulatório, passando pela consultoria em ginecologia e obstetrícia e na internação. Desde a enchente, têm chegado muitos casos de luto material, por pessoas, por pets, e tem sido um processo de trabalho muito intenso”, salientou.
A coordenadora de Atenção à Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, Marta Fadrique, reforçou a relevância do tema, em especial o luto em crianças e adolescentes: “Os adultos têm dificuldade de reconhecer uma criança em luto, porque a gente não gosta de ver uma criança sofrendo. Além disso, o luto platônico pode ser tão doloroso como qualquer outro, pois perder um ídolo é algo extremamente doloroso e, pensando em crianças e adolescentes, tem outro efeito”.
Nos encaminhamentos, os vereadores ressaltaram a necessidade de se pensar em políticas públicas voltadas para a saúde mental. Por isso, ficou definido o encaminhamento de um documento para o Executivo para a criação de salas de acolhimento e atendimento na atenção básica. Além disso, foram sugeridas a inclusão do tema do luto e saúde mental na capacitação de profissionais técnicos da rede municipal de saúde, a ampliação das equipes multiprofissionais municipais e a criação de grupos de apoio e orientação à população acerca do tema.