Plenário

Ditadura cassou os direitos de oito políticos municipais

Fichas dos vereadores que perderam seus direitos políticos no regime militar Foto:
Fichas dos vereadores que perderam seus direitos políticos no regime militar Foto:

A ditadura militar implantada em 1964 cassou um prefeito, um vice-prefeito e seis vereadores de Porto Alegre. No ato desta quinta-feira (27/3), a Câmara da Capital gaúcha restituiu simbolicamente os mandatos de:   

Sereno Chaise - Nascido em Soledade (RS) em 31 de março de 1928. Foi eleito vereador de Porto Alegre pelo PTB, em 1951, e presidente da Câmara Municipal posteriormente. Foi secretário de Governo de Leonel Brizola entre 1959 e 1962. No dia 10 de novembro de 1963, Chaise foi eleito prefeito, com cerca de 100 mil votos, derrotando Cândido Norberto, do Movimento Trabalhista Renovador, por mais de 40 mil votos. Em 2 de abril de 1964, o PTB organizou uma grande manifestação contra o Golpe Militar no Paço Municipal, com a organização de Chaise e Brizola. A resistência que se tentou organizar, à maneira da Campanha da Legalidade de 1961, acabou não ocorrendo, devido à decisão do presidente João Goulart de se exilar no Uruguai. Chaise acabou deposto em 7 de maio de 1964 pelo Ato Institucional nº 1 (AI-1).

Ajadil de Lemos - Nasceu em Uruguaiana (RS), em 7 de fevereiro de 1919. Em 19 de dezembro de 1945, tornou-se bacharel em Direito. Foi promotor público, juiz e procurador-geral nomeado no governo Ernesto Dornelles de 1951 a 1955. Nos anos de 1962 e 1963, foi secretário do Interior e Justiça do Estado. Em 1964, ano em que teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar por apoiar a manutenção do presidente João Goulart na Presidência do Brasil, exerceu a vice-prefeitura de Porto Alegre, na gestão de Sereno Chaise. Foi preso e deposto em 7 de maio de 1964, com base no AI-1. Morreu em Porto Alegre em 15 de janeiro de 2002.

Alberto Schroeter - Natural de Erechim (RS), nascido em 7 de maio de 1928. Comerciário e membro do Partido Republicano (PR), foi vereador de Porto Alegre por dois mandatos. No segundo, iniciado em janeiro de 1964, teve seus direitos políticos cassados por 10 anos pelo AI-1. Antes de ser cassado, chegou a propor uma moção de apoio ao governo de João Goulart, que acabou rejeitada pelos colegas. Fará 86 anos em maio de 2014.

Hamilton Chaves - Nascido em Lagoa Vermelha (RS) em 17 de maio de 1925, foi jornalista, compositor, vereador, publicitário e cineasta. Trabalhou na Revista do Globo, nos jornais Última Hora e O Clarim e na Rádio Gaúcha. Como compositor, foi parceiro de Lupicínio Rodrigues e venceu festivais de música popular. Ocupou diversos cargos no Governo do Estado e do município de Porto Alegre. É considerado o primeiro chefe da Assessoria de Imprensa do Palácio Piratini, cargo que exerceu entre 1959 e 1963. Tornou-se vereador de Porto Alegre em 16 de abril de 1964 e perdeu o mandato menos de um mês depois, em 10 de maio do mesmo ano, pelo AI-1. Morreu em Porto Alegre em 1985.

Dilamar Machado - Natural de São Luiz Gonzaga (RS), nascido em 27 de outubro de 1935, iniciou a carreira política em 1968, ano em que o governo militar editou o AI-5. Dilamar foi eleito vereador de Porto Alegre pelo MDB e cassado pelo AI-5 em 1969. Foi o vereador mais votado de Porto Alegre na eleição de 1968. Foi diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) durante o governo do prefeito Alceu Collares. Jornalista, radialista e advogado, Dilamar começou a trabalhar em rádio em São Gabriel, na década de 50. Foi um dos pioneiros do radialismo popular. Retornou à vida política elegendo-se deputado estadual pelo PDT em 1982. Morreu em 2001.

Índio Brum Vargas - Nasceu em 1° de janeiro de 1928, em São Sepé (RS). Chegou a Porto Alegre com 17 anos para estudar Jornalismo. Formou-se na Ufrgs e rumou para a política. Militou pelo PTB, participando da Campanha da Legalidade, em 1960, e trabalhando pela reforma agrária no governo João Goulart. Com o golpe de 1964, voltou à resistência. Eleito vereador de Porto Alegre em 1969, com mais de 7 mil votos, fez apenas dois discursos, um deles o aparte que gerou sua cassação. No aparte, ele elogiou a rejeição, pela Casa, ao título de Cidadão Emérito ao então general-presidente Artur da Costa e Silva. Foi preso, torturado e condenado pelo regime militar. Os anos passados na Ilha do Presídio, os choques elétricos sofridos e a tentativa de fuga são contados em seu livro Guerra é guerra, dizia o torturador. Índio é também advogado e atualmente está vinculado ao PDT.

Glênio Peres - Foi cassado com base no AI-5 no dia 2 de fevereiro de 1977. Ao tomar posse no dia 31 de janeiro, Glênio, do MDB, subira à tribuna para proferir o Discurso na Terra do Silêncio, denunciando a tortura e a falta de liberdade no país. Em 1979, com o movimento da Anistia, recuperou o mandato e foi um dos fundadores do PDT, partido pelo qual conquistou seu quarto mandato na Câmara. Glênio também foi vice-prefeito na gestão de Alceu Colares, eleito em 1985. Ator, poeta e jornalista, trabalhou nos já extintos Diário de Notícias e O Estado do Rio Grande e posteriormente colaborou com O Pasquim e a revista Cadernos do Terceiro Mundo. Nascido em 1933, faleceu vítima de câncer na capital gaúcha em 27 de fevereiro de 1988. 

Marcos Klassmann - Após a cassação de Glênio Peres, Marcos Klassmann, então com 24 anos, assumiu a liderança do MDB, partido de oposição à ditadura, na Câmara Municipal. Ao subir à tribuna, no dia 9 de fevereiro de 1977, manifestou solidariedade a Glênio e acabou cassado, no dia 15 de fevereiro, com base no AI-5. Marcão, como era chamado, foi presença marcante na resistência à ditadura. Em 1975, ganhou notoriedade ao denunciar publicamente a prisão e a tortura de 16 jovens partidários do PCB em Florianópolis (SC). Após a Anistia, de 1979, empenhou-se na organização do PDT e na campanha Diretas Já. No início dos anos 2000, ingressou no PT. Morreu em 2005, quando trabalhava como assessor na Câmara Federal.

Resistência da Câmara

Os mandatos dos políticos de Porto Alegre cassados só foram recuperados oficialmente no final de 1979, com a entrada em vigência da Lei da Anistia. No caso de Glênio Peres e Marcos Klassmann, houve intensa polêmica. Quando o então presidente da Câmara da Capital, vereador Cleon Guatimozim (MDB), em sessão que durou apenas alguns minutos, deu-lhes posse diante de um plenário lotado, a Polícia Federal já cercava o prédio, disposta a impedir o ato. Horas antes, o ministro da Justiça, Petrônio Portella, já advertia que a anistia não alcançara os dois vereadores e falava em possibilidade de retrocesso. A Câmara, no entanto, assumiu o risco e restituiu o mandato dos dois vereadores, recompondo a bancada original do MDB, de 14 sobre um total de 21 vereadores.

Pesquisa e textos: Juliana Demarco (estagiária de Jornalismo)
                          
Carlos Scomazzon (reg. 7400)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)

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