Sessão Solene

Ernesto Fagundes recebe título de Cidadão de Porto Alegre

Almerindo Filho e Elói Guimarães (e) entregam título a Ernesto Fagundes (d) Foto: Pedro Revillion
Almerindo Filho e Elói Guimarães (e) entregam título a Ernesto Fagundes (d) Foto: Pedro Revillion

A Câmara Municipal realizou, nesta terça-feira (29/4) à noite, sessão solene em que concedeu o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao cantor e músico gaúcho Ernesto Fagundes. A homenagem foi proposta pelo vereador Almerindo Filho (PTB) e realizada no plenário Otávio Rocha da Casa, com a presença de diversos integrantes da família Fagundes - como o pai Bagre, os tios Nico e Aldo, o irmão Neto e a mãe Marlene, entre outros familiares.

Almerindo Filho (PTB) classificou o envolvimento de Ernesto Fagundes com a música gaúcha como "um fator quase genético", já que toda a família Fagundes tem laços com a música nativista gaúcha. "Seja bem-vindo como o mais novo cidadão de Porto Alegre", desejou Almerindo, que encerrou sua fala citando versos do Canto Alegretense. Logo a seguir, o vereador fez a entrega do título de Cidadão de Porto Alegre a Ernesto Fagundes, que recebeu das mãos do seu tio Nico Fagundes a medalha comemorativa ao ato.

Ao agradecer a homenagem, Ernesto Fagundes disse que recebia com honra o título de Cidadão. "Porto Alegre é a cidade onde eu não nasci, mas (onde) para sempre quero viver". Segundo o músico, "a grande capital dos pampas acolhe gaúchos e gaúchas de todas as querências". Agradeceu a seu irmão mais velho, Neto Fagundes, "meu primeiro parceiro e que sempre acreditou no meu trabalho" e aos familiares. Lembrando a vinda para Porto Alegre com o pai, declarou: "O querido Alegrete se tornou pequeno para os nossos sonhos e projetos. Estamos felizes aqui, embora de vez em quando a saudade bata forte em nossos corações". E se dirigindo ao pai Bagre Fagundes, finalizou o discurso dizendo: "Filho de Bagre, por certo peixinho é".

Presidindo a sessão, o vereador Elói Guimarães (PTB) destacou a contribuição da família Fagundes para a cultura gaúcha e, em especial, ao movimento nativista. "Ernesto Fagundes é o mestre no bombo legüero." Margarete Moraes (PT) ressaltou que a homenagem da Câmara a Ernesto era extensiva a toda a família Fagundes, "que soube honrar o Rio Grande do Sul e a nossa pátria". Já Ervino Besson (PDT) lembrou que o maior patrimônio de qualquer nação é a família e destacou o exemplo proporcionado pela estrutura familiar e o dom artístico dos Fagundes. Em mensagem enviada, o prefeito José Fogaça também parabenizou o homenageado. Entre os diversos convidados e autoridades, também estavam presentes à cerimônia o vice-presidente do Grupo RBS, Afonso Antunes da Mota, o secretário municipal do Planejamento, José Fortunati, e o cantor Daniel Tores.

Trajetória

Nascido na cidade gaúcha de Alegrete, em 18 de janeiro de 1968, Ernesto Vilaverde Fagundes é filho de Euclides Fagundes Filho - mais conhecido como Bagre Fagundes - e de Marlene Vilaverde Fagundes. Começou sua carreira profissional de músico muito cedo, aos 8 anos de idade, se apresentando ao lado do pai – Bagre Fagundes, autor do clássico gaúcho Canto Alegretense – em festivais nativistas, nos quais obteve grande sucesso com o Canto Alegretense - composto por Bagre e Nico Fagundes. Adotou Porto Alegre desde 1985, quando terminou seus estudos secundários, vindo para a Capital para trabalhar com Neto Fagundes, Elton Saldanha e Dante Ledesma. Sua primeira gravação como intérprete foi no ano seguinte, no LP Fagundaço, cantando a música Noturna e Linda.

Como cantor, compositor e percussionista, ele já tem cinco discos lançados - Ernesto Fagundes, Guevara Vivo, Sul, A Hora do Mate e O Coração do Rio Grande - e um DVD, gravado ao vivo no Theatro São Pedro. Em suas apresentações, o nativista está sempre acompanhado de seu bombo legüero, instrumento de percussão de origem argentina que Ernesto ganhou, aos 10 anos de idade, de seu tio, o tradicionalista Antônio Augusto Fagundes, mais conhecido por Nico Fagundes.

Depois de uma longa trajetória nos palcos, lançou, em 1995, seu primeiro disco individual, que foi considerado pela crítica como um dos destaques regionais do ano. Três anos depois, lança mais um disco com base no repertório do cancioneiro clássico do Rio Grande do Sul, com ênfase no instrumental de raiz campeira e pampeana. Neste mesmo ano, Ernesto ainda participou, acompanhado de Neto e Nico, do evento Tempo de Brasil, que ocorreu no Museu do Louvre, em Paris. Já em fevereiro de 2000, teve a oportunidade de apresentar-se em Havana (Cuba), no Projeto Cultural Sur. Em 2001, chega seu quarto CD, A Hora do Mate, reunindo temas gaúchos referentes ao chimarrão. Em 2007, lança seu mais novo CD solo, O Coração do Rio Grande. Entre suas composições mais conhecidas estão CidadezinhaDe Filho Para PaiGaudêncio 7 Luas, Guri e No Coração Do Rio Grande. Nativista autêntico, Ernesto Fagundes também é produtor musical e radialista, apresentando o programa "A Hora do Mate" na Rádio Rural.

Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)

Pequeno Grande Ernesto - por Antônio Augusto Fagundes

Publicado no jornal Zero Hora - Segundo Caderno, em 16-04-2007.

Quando o Ernesto nasceu, a América vivia sob a emoção da morte de Che Guevara, em plena ditadura militar. Os pais, Bagre e Marlene, viram que o gurizinho era a cara do guerrilheiro famoso e quiseram homenageá-lo - Ernesto Villaverde Fagundes. Na ocasião, eu lhe dediquei alguns versos: "No píncaro boliviano não faltará em Vallegrande outra voz que nos comande no porvir americano, porque ao argentino-cubano, que se mata e não se vence, porque a si não mais pertence, mas à América e à Glória, há de honrar-lhe o nome e a história o Ernesto alegretense". Proféticas palavras: aquele gurizinho nasceu predestinado a vencer.

Aos oito anos de idade e à sombra do pai, aficionado ao nativismo castelhano, o Ernesto começa a brilhar vencendo todos os concursos de sapateio - chula e malambo - na invernada mirim do CTG Vaqueanos da Tradição na velha Capital Farroupilha. Mas não cantava, o cantor da família era o mano Neto. Um dia, passando pelo Alegrete, eu lhe dei um bombo legüero, um dos dois primeiros instrumentos deste gênero vindos para o Brasil. Foi amor à primeira vista, nunca mais se separaram. Na adolescência, o Ernesto começa a cantar e aí, para a surpresa de todos, se revela um baita cantor.

Muito moço ainda, com o Neto e o Bagre já brilhando em festivais e espetáculos gauchescos, eu insisti para que ele viesse a Porto Alegre e aí não parou mais de brilhar. Hoje possui quatro CDs gravados e é parte importante nos trabalhos gravados do grupo Os Fagundes. O seu disco Guevara Vivo, lançado em Havana, está no Museu Guevara na capital de Cuba.

Ernesto já se apresentou no Museu do Louvre, em Paris, em Havana, em Verona e Veneza, na Itália, no México, nos Açores, em Hong Kong e em Buenos Aires. Brilhou no Fórum Social Mundial com o espetáculo Guevara Vivo e vive fazendo apresentações com Os Fagundes pelo Estado inteiro, em Santa Catarina, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília. Como radialista, apresenta na Rádio Rural o programa A Hora do Mate e o Galpão do Nico. É parte importante do projeto Teixeirinha Memória Nacional e está preparando outro CD para agosto e produzindo o novo DVD dos Fagundes. Marido apaixonado da bela Juliana e orgulhoso pai da Manoela, Ernesto é muito apegado à família Fagundes, do pai, e à família Villaverde da mãe. É também irmão do Paulinho, virtuoso da guitarra.

Ernesto é um dínamo, irrequieto, de simpatia irradiante. Embora seja o mais jovem dos Fagundes é na prática o diretor do grupo, ao lado do irmão Neto, do pai Bagre e do tio que escreve estas linhas. Nunca ninguém viu o Ernesto mal-humorado. Seu sorriso é famoso. Eu costumo dizer que ele tem 380 dentes e sorri com todos eles...Vai longe esse guri. Quem gosta de música regionalista gauchesca e das canções argentinas, gosta do Ernesto. Quando artistas argentinos visitam o Rio Grande, como Mercedes Sosa, é certo que lá, ao lado do astro ou da estrela estará o pequeno grande Ernesto batendo bombo, dedilhando um violão ou cantando. E sorrindo, claro.