Procuradoria da Mulher

I Seminário Nacional da Mulher debate relação entre feminismo e educação

Evento faz parte da programação da Câmara que marca o Mês da Mulher Foto: Matheus Piccini/CMPA
Evento faz parte da programação da Câmara que marca o Mês da Mulher Foto: Matheus Piccini/CMPA (Foto: Matheus Piccini/CMPA)
A Câmara Municipal de Porto Alegre, por intermédio da Procuradoria Especial da Mulher, promoveu na noite desta quinta-feira (31/3), no Plenário Otávio Rocha, a abertura do I Seminário Nacional com o tema Qual o currículo para uma educação não sexista? O primeiro painel do Seminário teve como tema Quais são as contribuições do feminismo para uma educação libertadora? O evento está inserido na extensa programação alusiva ao Mês da Mulher, organizada pelas seis vereadoras da Casa, com enfoque na educação.

De acordo com a procuradora especial da Mulher na Câmara, vereadora Sofia Cavedon (PT), o evento tem o objetivo de aprofundar o debate sobre a ideologia de gênero, analisar os estudos e pesquisas realizadas acerca dos temas da desigualdade e do enfrentamento do preconceito e da discriminação existentes entre homens e mulheres, étnica, racial, social, religiosa e por orientação sexual. Além disso, pretende ressaltar a importância da difusão do diálogo educacional a partir da experiência entre a relação do feminismo com a educação, refletindo sobre o papel da escola na construção da cidadania e da igualdade.

O Seminário terá continuidade também nesta sexta-feira (1°/04), das 8h30min às 17 horas, no mesmo local. Aberto ao público, a iniciativa conta com palestras de intelectuais e pesquisadoras em educação de diferentes estados brasileiros.

Educação Humanizadora

Para Sofia Cavedon (PT), os painéis tem como base a proposta de uma educação humanizadora, libertadora e integral, visando a superação das desigualdades e a erradicação de todas as formas de discriminação, consolidadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais. “Quem produz conhecimento vive dele. É desafiador. Quero agradecer a presença das painelistas nacionais que estão aqui. Na medida em que a escola é o principal equipamento de formação ideológica do Estado, responsável pela reprodução dos estereótipos e das desigualdades, ela também pode e deve ser um veículo de transformação, humanização e libertação através do saber e das relações sociais”, ponderou Sofia. “Queremos buscar alternativas teóricas e práticas para a contribuição da escola na superação destes estereótipos, visando uma pedagogia que contemple a diversidade humana.”

Sofia alerta que é preciso fugir da polarização e incompreensão dos educadores. “É necessário refletir sobre quais as metodologias devem ser utilizadas para evitar as mudanças contra as mulheres. Não queremos mais uma educação com currículo machista, sexista. Precisamos libertar a educação naturalizada entre a desigualdade entre homens e mulher”, observou. “Queremos criar uma rede de educadoras.”

Equidade de gênero

Conforme a professora e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Maria Rosa Lombardi, a visão e perspectiva feminina de olhar o mundo é revolucionária e transformadora. “Precisamos distinguir os estudos acadêmicos de gênero e o lado da própria militância. O trabalho das mulheres em tomar posição sobre suas atividades no mundo é fundamental. A gente acha que sempre foi assim. Mas é preciso questionar por que existem tão poucas mulheres em algumas áreas profissionais. Por que as mulheres ganham menos que os homens? Existe uma posição diferenciada entre as mulheres no mercado de trabalho. Antigamente, os salários eram muito mais baixos entre os homens”, ressaltou a palestrante. “O feminismo foi extremamente revolucionário. Para os cargos de engenharia, os empregos formais não passam de 15% da presença feminina no mundo do trabalho segmentado”, disse.

A pesquisadora reitera que, segundo dados do Ministério da Educação, o maior número de matrículas e conclusões de cursos femininos estão na área da saúde, direito e direitos humanos. “Realizamos pela Fundação uma produção acadêmica feminina na qual houve uma pesquisa para saber a evolução das famílias, a relação entre homens e mulheres com o seu tempo, e assim questionar, analisar e levantar hipóteses de diferentes regiões e países para encontrar as reais desigualdades. Conseguimos então compreender o mundo sob a perspectiva feminina. E descobrimos que até hoje existem áreas de conhecimento, de formação e de trabalho que são exclusivamente masculinas”, concluiu Maria Rosa. A pesquisa, segundo ela, permitiu entender que se tornar um profissional é apenas uma parte do processo de socialização profissional e da equidade de gênero, pois há uma lógica que nunca termina e forja identidades e culturas, permanecendo nas escolas e ambientes de trabalho o forte culto ao machismo.

Naturalização dos processos

Já a professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e doutora em teologia, Edla Eggert, defendeu em seu painel a necessidade de se utilizar o que feministas pesquisadoras e trabalhadoras na área da educação têm pensado e sistematizado. “É notório que precisamos saber a importância de como a naturalização dos processos culturais de discriminação da mulher legitima a superioridade dos brancos, heterossexuais e dos ricos”, garantiu, comentando a sua integração com um núcleo de estudos de gênero e religião. 

“Tenho feito essa relação entre religião e educação, amparada por pesquisadoras que já fizeram uma bonita e difícil caminhada. Como podemos pensar e aprender a ser mais humanos, a partir da contribuição do feminismo? Por que tão poucas mulheres cursam engenharia? Por que apagar a vontade das mulheres? As suspeitas são as chaves das leituras de mundo. Nós temos que duvidar dos modos como historicamente nos foram contadas as histórias como normas naturalizadas”, alegou Edla. 

Edla comenta: "As pessoas, geralmente as mulheres, vão enaltecendo aqueles que nos oprimem. Na construção teológica do mundo ocidental, temos a compreensão do cristianismo, islamismo e judaísmo. Percebemos a figura da Eva como uma visão dicotômica, uma mulher desobediente, perigosa, que representa prazer e conhecimento e, por este motivo, precisa ser controlada. Do outro lado, temos a devoção total à imagem de Maria como uma mulher exemplo e modelo a ser seguido, virgem, mãe, sempre coberta de roupas e com olhar sempre cabisbaixo, mas bem aventurada”. Ela reafirma como é necessário desaprender e desconstruir essa visão unilateral.

Preconceito

Segundo a presidenta do Conselho Municipal da Mulher, Vera Daisy Barcellos, falar de uma educação não sexista é tratar das desigualdades entre homens e mulheres e do preconceito de gênero e de raça. “As proposições aqui apresentadas serão fundamentais para esse processo de mudança, incentivando a mobilização da população e das comunidades”, destacou Vera Daisy.

Programação

Nesta sexta-feira, o Seminário terá prosseguimento com os seguintes painéis:

Sexta-feira (1º/04) – Hora: 08h30 às 17h00

Mesa 02 – Que escolhas curriculares promovem uma educação não sexista?
Palestrantes:
Natáli Pietra Mendes – Pesquisadora do Instituto de História da Ufrgs
Patricia Pereira – Mestre em Educação pela Ufrgs
Elizabeth Baldi – Coordenadora Pegagógica e Pesquisadora

Mesa 03 – De que forma as políticas públicas educam para os Direitos Humanos?
Palestrantes:
Jussara Reis Prá – Professora e pesquisadora em ciência política pela Ufrgs
Adriana Sacramento – Representante do Ministério da Cultura/ Governo Federal


Texto: Mariana Kruse (reg. prof. 12088)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)