Imperadores solicita exploração econômica de sede para viabilizar carnaval
Quadra foi interditada pelo MP por descumprimento de lei que impede eventos sem fins carnavalescos
Rodrigo Costa (ao microfone) disse que medida do MP é muito drástica (Foto: Leonardo Contursi/CMPA) Reunião contou com a presença de dezenas de carnavalescos (Foto: Leonardo Contursi/CMPA)
Na tarde desta terça-feira (11/7), reunião realizada pela Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre tratou sobre a interdição e possível remoção da Escola Imperadores do Samba de sua sede atual, no bairro Praia de Belas (Av. Padre Cacique, 1567), próxima ao Estádio Beira-Rio. Além dos vereadores da comissão, estiveram presentes representantes da agremiação e da Procuradoria-Geral do Município (PGM).
No início dos trabalhos, o presidente da Cedecondh, vereador Cassiá Carpes (PP), leu nota enviada pela Procuradoria de Justiça do Ministério Público, que também havia sido convidada a participar do encontro. No texto, os procuradores alegam que um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado pela escola e pelo Município em outubro de 2013, restringe a realização de eventos na quadra da entidade apenas àqueles relacionados ao samba. De acordo com o MP, o descumprimento do acordo por parte da Imperadores motivou a interdição do local.
Contestando o documento, o presidente da Imperadores do Samba, Rodrigo Costa, disse que a escola entende que a medida tomada é muito drástica. Ele justificou que, a partir da ideia de produzir um carnaval com recursos privados, a entidade passou a usar a quadra para angariar recursos. “Se não pudermos utilizar nosso equipamento para realizar atividades que nos rendam algo, é impossível desfilar”, garantiu. Rodrigo disse ainda que a sede é a única fonte de renda da agremiação e que todos os eventos lá realizados são relacionados ao carnaval, pois o viabilizam. “Essa ação é uma sentença de morte”, completou.
Alternativas
Representando a Procuradoria do Município, o procurador-adjunto Roberto da Silva Rocha ponderou que o TAC citado pelo Ministério Público foi assinado em um contexto diferente, e que o a PGM trabalha para estabelecer uma conciliação entre as partes. “Solicitamos junto à juíza responsável uma audiência de conciliação, e a proposta foi acolhida”, disse. Ele lembrou ainda que o imóvel onde a escola funciona é propriedade do município e que o MP “não pode dizer a quem ele deve ser cedido”. “Há preocupações com a legislação, principalmente quanto à poluição sonora, mas a modificação na estrutura do carnaval justifica a exploração econômica”, salientou.
Também presente, o jornalista e ex-promotor de justiça Cláudio Brito fez menção a situações semelhantes a essa, ocorridas em Porto Alegre, durante o governo de Alceu Collares (1986-1988) e em Uruguaiana. Citando a Lei Complementar nº 502, que permite que as escolas de samba do Município realizem um evento por mês, com horário fixado até às 4h do dia seguinte, Brito propôs a criação de um cenário que exclua o objeto da ação do MP. “Seria necessário introduzir na Lei a prerrogativa de que os eventos utilizados para arrecadação também sejam considerados carnavalescos”, defendeu.
Ao agradecer espaço cedido pela comissão, o diretor de carnaval da Imperadores, Érico Leoti, apontou que a questão não se encerra nos trâmites técnico-jurídicos, mas que possui um “fundo de intolerância”. O carnavalesco lembrou também que, durante o planejamento para as obras da Copa de 2014, quando foi assinado o TAC, as escolas sediadas próximo ao Beira-Rio receberam a promessa de que ganhariam quadras novas com isolamento acústico. “Na prática, esse termo é utilizado como instrumento de punição e repressão, e nós não aceitaremos a saída da Imperadores da Padre Cacique”, asseverou.
Contraponto
Morador do entorno da sede da agremiação, Valmir Santos disse que os maiores problemas originados no local não estão diretamente ligados a eventos carnavalescos, mas à locação da quadra para terceiros. Ele disse concordar com a proposta da realização de um evento mensal para a arrecadação de recursos e que, apesar de não participar do carnaval, considera que a comunidade tem o direito de promover a festividade. “Não queremos exigir que o evento termine, mas buscamos um ponto de equilíbrio. Não acho correta a interdição, mas a Imperadores também precisa pensar em seus vizinhos”, afirmou Valmir.
Vereadores
Durante a sessão, os vereadores da Cedecondh e demais parlamentares que acompanharam a reunião também se pronunciaram. João Bosco Vaz (PDT) relatou que conversou com o vice-prefeito Gustavo Paim e com os procuradores do município em busca de soluções, e citou alguns espaços relacionados ao samba que também foram fechados. “Isso mostra uma certa intolerância com as pessoas, mas esperamos progredir e garantir o direito de fazer carnaval”, declarou.
Por sua vez, Engenheiro Comassetto (PT) afirmou que o que está em debate é a intolerância, e ressaltou que um dos pontos apresentados no projeto do novo Beira-Rio era o centro cultural do samba, que abrigaria algumas agremiações. “Foi feito esse acordo, mas as escolas não receberam a estrutura conforme prometido”, lamentou. Já Marília Fidell (PTB) classificou a interdição como um “retrocesso cultural e humano”. “A ação do MP é contra uma comunidade específica, que é patrimônio cultural de Porto Alegre”, opinou.
Na sequência, Fernanda Melchionna (PSOL) disse que a cidade vive um “processo de gentrificação” e concordou com a iniciativa proposta por Cláudio Brito. A vereadora ainda cobrou do poder público uma participação no financiamento do carnaval. “O município não pode lavar as mãos a esse evento, que também é uma cadeia produtiva de geração de renda”, expôs. Por fim, Mônica Leal (PP) disse considerar o carnaval uma “importante manifestação artística e cultural” e garantiu seu apoio à escola de samba.
Encaminhamentos
Ao final da reunião, o vereador João Bosco Vaz comandou os encaminhamentos da comissão sobre o tema. Ele anunciou que será viabilizada na Câmara a alteração da Lei Complementar nº 502, que passará a considerar todos os eventos de cunho arrecadatórios promovidos pelas escolas de samba como relacionados ao carnaval. Bosco também disse que será realizada uma visita ao Ministério Público para a entrega da ata da reunião e Cláudio Brito sugeriu que a área ocupada pela Imperadores do Samba seja declarada pelo Executivo como sede do Centro Cultural do Samba, a fim de garantir a permanência das escolas no local.
Texto: Paulo Egídio (estagiário de Jornalismo)
Edição: Helio Panzenhagen (reg. prof. 7154)