Sessão Solene

Losada recebe o título de Cidadão de Porto Alegre

Ex-vereador é militante desde a adolescência Foto: Vicente Carcuchinski
Ex-vereador é militante desde a adolescência Foto: Vicente Carcuchinski
A Câmara Municipal de Porto Alegre entregou nesta sexta-feira (16/8), em Sessão Solene, o título de Cidadão ao ex-vereador Antônio Cunha Losada. A cerimônia, proposta pelo vereador Pedro Ruas (PSOL), aconteceu no Plenário Otávio Rocha. Losada nasceu em Bagé no dia 25 de abril de 1934. "Losada é um militante ainda hoje. O tempo dele é agora. Hoje homenageamos uma biografia extraordinária que nos encanta, nos serve de modelo, um verdadeiro paradigma de cidadania e capacidade de enfrentamento", disse Ruas.

O proponente da homenagem lembrou do menino pobre vindo de Bagé aos dez anos de idade que logo adquiriu consiência social, começando sua militância política ainda na adolescência. "Era um operário que não pôde estudar mas queria mudar o mundo." No golpe militar de 1964, acrescentou o vereador, Losada integrou diversos segmentos de combate à ditadura. "Doou sua vida a esta luta, perdeu a liberdade e quase a vida por isso. Foi torturado, mas resistiu e chega hoje aos 79 anos nos dando exemplo de militância."

Ruas observou que os ditadores e seus seguidores tentaram dobrar Losada, "mas um homem como ele precisaria de umas 80 ditaduras para dobrá-lo". Conforme o vereador, muitos o torturaram, mas alguns se destacaram na barbárie. "Pedro Seelig, Nilo Ervelha e os delegado Pires e Cunha foram os que mais se destacaram na barbárie contra Losada". Portanto, reiterou Ruas, a homenagem a Losada é também a todos aqueles mortos pela ditadura, jovens entre 18 e 21 anos que perderam suas vidas logo no começo da militância. "Losada enfrentou isso de peito aberto, com vontade e coragem."

Resistência à ditadura

"Cidadão é o habitante de um estado livre com direitos civis e políticos. Por isso, me orgulho em fazer parte de parcela de homens e mulheres que lutaram e lutam por democracia e cidadania." Losada disse que se sentir honrado em poder homenagear quem resistiu à ditatura num período em que esta escolha poderia significar abrir mão da própria vida. "Esta homenagem a mim é também aos trabalhadores que todos dias lutam por sua cidadania."

Losada lembrou de sua chegada a Porto Alegre, das dificuldades enfrentadas inclusive para encontrar uma moradia e do início de sua militância no movimento operário. "Nosso esforço era para direcionar os trabalhadores para que eles fossem os protagonistas de suas próprias conquistas. Foi ali, nas fábricas, o primeiro enfrentamento com a burguesia e ali conheci o peso da repressão política." O homenageado ressaltou que na fábrica também viu a exploração de menores, a produção acima da capacidade física, a humilhação, os castigos e o racismo. "Fui muitas vezes ameaçado de morte e muitas vezes preso por denunciar os abusos cometidos."

Para Losada, tudo era muito cruel e isso colocou em seu colo a defesa dos direitos humanos e contra a acumulação capitalista. "A caminhada como sindicalista logo me levou a compreender que era preciso lutar por mundo sem injustiça. Mas veio o golpe militar, a clandestinidade e depois o AI-5, que pôs em xeque minha própria vida."

"As memórias das crueldades vividas nas fábricas nos anos de chumbo, a clandestinidade, as torturas e a prisão fizeram de mim um homem que acredita que lutar é o melhor caminho para construirmos um Brasil com menos desigualdade. Portanto, receber o título de Cidadão me alegra porque é uma forma de reconhecimento das minhas lutas, lutas que são de muitos homens e mulheres e que me fazem reafirmar a importância da democracia. Ditadura nunca mais." 

A sessão foi presidida pelo vereador Alberto Kopittke (PT).

Texto: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)