Comissões

Mulheres contam suas trajetórias pessoais na Cosmam

Mais de 20 participantes falaram sobre lutas em defesa de direitos Foto: Josiele Silva/CMPA
Mais de 20 participantes falaram sobre lutas em defesa de direitos Foto: Josiele Silva/CMPA (Foto: Josiele Silva/CMPA)
Na data que marca o Dia Internacional da Mulher, a sala da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre ficou lotada para debater o tema “A Visão Feminina sobre a Problemática da Saúde e Meio Ambiente”. Mulheres com forte atuação em diversas áreas estiveram presentes ao debate, nesta terça-feira (8/3) pela manhã, e deram seus depoimentos, contando um pouco de suas trajetórias pessoais e profissionais.

Saudando a participação das mulheres, a presidente da Cosmam, vereadora Lourdes Sprenger (PMDB), salientou que os depoimentos propiciaram o surgimento de vários temas a serem pautados pela Comissão. São depoimentos importantes de mulheres de diversas áreas, que nos deram muitos subsídios para novas discussões. Queremos fazer uma reflexão para termos um país melhor.”

A vereadora Jussara Cony (PCdoB) lembrou que assumiu seu primeiro mandato como vereadora de Porto Alegre há 34 anos. “A amplitude e a unidade da luta das mulheres está representada nos mais diversos setores da sociedade. Tenho militância política desde menina. As mulheres estão na linha de frente das lutas por democracia e participação. Queremos construir a sociedade ao lado dos homens.”

A psicóloga Maria de Fátima Bueno Fischer é integrante do Fórum Gaúcho de Doença Mental e milita há mais de 30 anos no movimento antimanicomial. Ela explica que o movimento luta para que as mulheres com doenças mentais tenham a possibilidade de ser cuidadas em liberdade. Fátima destacou o caso de uma jovem interna, mãe de dois filhos, que foi internada em uma instituição manicomial e não teve a oportunidade de conviver com as crianças. “Ela teve os filhos arrancados do seu colo. Muitas mulheres são estupradas nos manicômios.”

Fátima também lembrou o caso da poeta Claudina Pereira de Pereira, que foi internada no Hospital Psiquiátrico São Pedro pela primeira vez aos 23 anos de idade. Internada mais 22 vezes, Claudina acabou sendo abandonada pelos parentes e rejeitada pelo marido, diagnosticada como esquizofrênica paranoide. Seu único livro publicado, A Alma no Espelho, é uma coletânea de poemas. “Lutamos pelas mulheres excluídas da sociedade. Enquanto houver algum hospício, estaremos lutando.”

Violência sexual

Quando ainda tinha apenas 19 anos de idade, Maria Angélica Medeiros Rolim foi assaltada e vítima de violência sexual. Hoje, aos 49 anos, ela lembra que, na ocasião do assalto, não teve apoio de ninguém. Apesar do grande trauma, Angélica garante que hoje está feliz. “Optei por não ter filhos. Trabalhei com meu pai administrando uma loja e, atualmente, faço bijuterias. Comecei a Faculdade de Veterinária, que era o meu sonho. Apesar de estar com 49 anos, nunca é tarde para começar a cursar uma faculdade.”

Mulher transexual, Luisa Stern trabalha no Serviço de Assessoria Jurídica (Saju) da Ufrgs e é militante pela igualdade de gênero. Ela também integra a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e observa que as travestis e transexuais sofrem duplamente a violência de gênero. “Todos os dias temos notícias de agressões e assassinatos de travestis e transexuais. O Brasil é o país que mais mata mulheres travestis e transexuais no mundo. É preciso incluir este tema na pauta geral das mulheres.”

Trabalhando como defensora pública estadual desde 2012, Loraina Raquel Scottá disse que faz parte de uma “família de mulheres fortes”. Como defensora pública, ela lida diariamente com mulheres e crianças em situação de extrema vulnerabilidade. “As mulheres são a esperança do país, pelo papel que exercem na sociedade. Desejo que todas as mulheres saibam educar em direitos, para que haja o seu fortalecimento enquanto gênero. A cada 10 mulheres vítimas de violência, apenas três delas registram ocorrência.”

Enfermeira e mestra em saúde coletiva, Nelci Dias, que também integra o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), informou que mais de 90% dos profissionais de enfermagem são mulheres. “As mulheres da enfermagem lutam pela saúde e pelo SUS. Defendem a sociedade e o exercício de cidadania.” Para Nelci, a emancipação das mulheres só é possível com o aprofundamento da democracia. “A enfermagem está na linha de frente no atendimento aos casos de violência. É preciso discutir este tema na sociedade e não fechar os olhos para a violência contra as mulheres. E os profissionais de saúde precisam ter sensibilidade para detectar casos de violência contra mulheres nos atendimentos.”

Mulheres encarceradas

Servidora da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) há 12 anos, a psicóloga Sandra Correa luta por políticas públicas que garantam os direitos das mulheres encarceradas. A partir de 2014, passou a trabalhar na unidade materno-infantil do Presídio Madre Pelletier. “A população carcerária é invisível para a sociedade. A mulher presa, muitas vezes, continua sendo o esteio da família. Muitas das encarceradas não têm condenação e não precisariam estar lá. Lidamos mal com a garantia de direitos humanos.”

A bióloga Lisiane Becker é presidente e sócia-fundadora da organização não governamental Mira Serra, que atua principalmente em defesa dos animais silvestres e da Mata Atlântica, combatendo o tráfico de animais e a restrição cada vez maior do ambiente natural para essas espécies. “As epidemias e endemias se alastram pelo ambiente urbano. A Mata Atlântica é mantida pelos animais, e lutamos pela manutenção deles dentro de seu ambiente natural. É preciso impedir a compra de animais silvestres, sejam legalizados ou não.”

Chefiando há 10 anos o Setor de Limpeza do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Fátima Rosane Fagundes revela que as mulheres são maioria no setor. “Quando assumi a chefia, trabalhei pela valorização das funcionárias. Muitas delas cursaram os EJAs (Educação de Jovens Adultos) e hoje não trabalham mais lá, pois estudaram e melhoraram de vida. Não fui apenas uma chefe, mas tive como meta valorizar o ambiente e as mulheres que eu chefiava.”

Jaqueline Lessa é bióloga e coordenadora do núcleo de educação ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambente (Smam). “Fui mãe aos 15 anos de idade, tenho dois filhos: um com 30 anos e outro com 5”, contou. Jaqueline disse acreditar que a educação é o processo que pode levar à transformação da sociedade. Trabalhando com o tema da inclusão, participou, na Smam, do lançamento da primeira cartilha ambiental em braile em 2008, incentivando o contato com a natureza para as pessoas com deficiência. “As pessoas estão cada vez mais doentes, com péssima alimentação e qualidade de vida.”

Também deram seus depoimentos as seguintes mulheres:

- Cristina Dariano Kern, psicóloga e integrante da ONG Parceiros Voluntários. Trabalha como voluntária no Projeto identidade, da Fundação Pão dos Pobres, com grupos de crianças entre 9 e 11 anos de idade;

- Maria Valeska Trindade Cavalheiro, procuradora e presidente da Fundação Bichoterapia, que atua em prol do bem estar animal;

- Joaquina Pinto Molina, médica veterinária e presidente da Liga Homeopática do RS, entidade que conta com trabalho de voluntários e completou 75 anos de atuação, oferecendo consultas a baixo custo;

- Magda Elisa de Assis, assistente social, servidora do Ministério da Saúde. Iniciou como técnica em saúde e, há seis anos, foi convidada para o setor de administração de recursos humanos do núcleo estadual do Ministério;

- Márcia Simch, cirurgiã dentista e voluntária da causa do bem estar animal. É uma das fundadoras e atual diretora de marketing da ONG Bicho de Rua;

- Liliane Dreyer Pastoriz, promotora de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público Estadual;

- Denise Casanova Villela, da Promotoria da Infância e Juventude do Ministério Público. Há 20 anos trabalha com o tema da violência contra a criança;

- Clarissa Benso, empresária e farmacêutica, é vegana e milita em prol do bem estar animal. Possui uma farmácia com produtos sem origem animal;

- Laura Elisa Gatti, servidora da Polícia Civil, trabalha no Cartório de Crimes de Estupro;

- Helena Costa da Rocha, presidente do Sindisaúde;

- Daura Pereira Jardin e Denise Krasner, servidoras da Vigilância em Saúde da prefeitura de Porto Alegre.

Participaram ainda da reunião os vereadores petebistas Dr. Goulart, Paulo Brum e Mario Manfro.


Texto: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)