Porto Alegre comemora os 53 anos dos Jogos Mundiais Universitários

Entre o fim dos Jogos Olímpicos e o início dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, marcado para o dia 7 de setembro, Porto Alegre comemora o 53º aniversário da III Universíade de Verão nesta terça-feira, 30 de agosto. A competição universitária que se assemelha à Olimpíada entusiasmou os gaúchos com a participação de 713 atletas oriundos de 27 países, além do Brasil, sendo considerada o maior evento realizado na cidade antes do primeiro Fórum Social Mundial (FSM), em 2001.

Entre 30 de agosto e 8 de setembro de 1963 foram disputadas nove modalidades: atletismo, basquetebol, esgrima, ginástica artística, natação, polo aquático, saltos ornamentais, tênis e voleibol. O Brasil sagrou-se campeão no vôlei feminino, batendo Chile e Peru, e no basquete masculino, com uma campanha invicta que culminou com a vitória sobre Cuba por 106 a 80 na final. Naquele período, o basquete masculino do país era uma das grandes potências no cenário internacional, tornando-se bicampeão mundial em 1959, no Chile, e em 1963, no Rio de Janeiro. O Brasil subiu nove vezes ao pódio na 3ª colocação com o voleibol masculino; na natação, com Lísia Barth nos 200 metros borboleta, com a equipe feminina no revezamento 4x100 e nos 4x100 medley; e com a atleta Tizu Sato, que recebeu o bronze no trampolim e na plataforma do salto ornamental.

O quadro de medalhas foi liderado pela União Soviética, com 19 ouros e 34 pódios no total, seguido por Hungria e Alemanha Ocidental. O Brasil terminou no 8º lugar com dois ouros e nove bronzes. O atletismo foi um dos esportes mais populares, junto com o vôlei e o basquete. Esteve na cidade a elite da modalidade, como o recordista mundial do salto em altura e prata nas Olimpíadas de Roma em 1960, Valery Brumel; Tamara Press, campeã no arremesso de peso e prata no arremesso de disco em Roma; e Elvira Ozolina, ouro no arremesso de dardo em Roma.

A Universíade durou 10 dias e terminou com a festa de encerramento no dia 8 de setembro no Estádio Olímpico, mesmo local da cerimônia de abertura, em 31 de agosto, que teve a presença de mais de 40 mil pessoas. Em entrevista ao jornal Correio do Povo, Lauro Hagemann, ex-vereador de Porto Alegre, que foi o mestre de cerimônia na abertura, afirmou que a capital gaúcha assistiu a um espetáculo diferente. “Nunca havia ocorrido uma coisa daquele tamanho em nossa cidade”, disse o também jornalista e apresentador do Repórter Esso, já falecido.

Organização

O Brasil foi escolhido para sediar o evento graças ao interesse demonstrado pelo presidente da República em 1961, Jânio Quadros. Ele acreditava que a Universíade seria uma oportunidade para o país conseguir visibilidade internacional. Assim, Porto Alegre foi escolhida como sede em janeiro de 1962, pois estava em um momento de grande desenvolvimento econômico e porque as concorrentes brasileiras, como São Paulo, que sediaria os Jogos Pan-americanos no mesmo ano, estavam impossibilitadas de receber a competição.

Em uma parceria do Comitê Executivo dos Jogos com os governos municipal e estadual, representados pelo prefeito Loureiro as Silva e o governador Ildo Meneghetti, os Jogos Universitários começaram a ser organizados. Em 94 dias, foi construído o maior ginásio esportivo do sul do Brasil, com capacidade para 10 mil pessoas e batizado de Ginásio Universíade, atualmente Ginásio da Brigada Militar. Nele, foram disputadas as provas de basquete e vôlei. A esgrima ocorreu nos Armazéns A e B do Cais  do Porto, que estavam desativados. O Grêmio Náutico União sediou as modalidades de natação, saltos ornamentais e ginástica artística, enquanto a Sociedade Leopoldina Juvenil recebeu a competição de tênis, e o Petrópolis Tênis Clube, o polo aquático. As cerimônias de abertura e de encerramento, bem como as disputas de atletismo, ocorreram no Estádio Olímpico, do Grêmio.

Para abrigar os atletas, a Caixa Econômica Estadual cedeu um conjunto habitacional no Bairro Partenon, que foi transformado em Vila Olímpica, hoje conhecido como Intercap. O refeitório foi montado nas instalações do 18º Regimento de Infantaria do Exército. No entanto, devido ao grande número de competidores, os atletas brasileiros ficaram hospedados no Hotel Pampa, fazendo as refeições na Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A transmissão dos Jogos ficou sob a responsabilidade da Rádio da Universidade da Ufrgs, que transmitia em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e russo. Uma curiosidade da época é que as 1.500 camas, colchões e travesseiros, além dos 6 mil lençóis e 3 mil fronhas utilizados pelos competidores, foram emprestados pela Universidade de São Paulo (USP).

Porto Alegre estava eufórica pela realização dos Jogos Mundiais Universitários, e os moradores foram convocados para ajudar na organização, como mostram as palavras de Alberto André, ex-vereador da Capital pelo PTB e jornalista do Correio do Povo, já falecido, em um pronunciamento para divulgar o evento: “Todos, praticamente, que vivem nesta cidade estão vinculados à U-63 e devem cooperar, se estiver ao seu alcance, para que seja bem sucedida”. O hoje vereador licenciado Professor Garcia (PMDB) também participou da Universíade de 1963.

História

 Os Jogos Mundiais Universitários foram criados em 1959 pela Federação Internacional do Esporte Universitário (Fisu) e pela União Internacional dos Estudantes (ISU) com o objetivo de juntar atletas dos blocos socialista e capitalista em uma mesma competição. No primeiro evento, realizado em Turim, Itália, reuniu 43 países e 1.400 jogadores. Em Porto Alegre, além do Brasil, participaram África do Sul, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Argentina, Bélgica, Bulgária, Chile, Cuba, Espanha, França, Holanda, Hungria, Inglaterra, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, Luxemburgo, Noruega, Polônia, Portugal, Peru, Suíça, Tchecoslováquia, Uruguai, URSS e Venezuela. A próxima edição da Universíade será realizada em 2017 em Taipé, capital de Taiwan.

Texto: Cleunice Maria Schlee (estagiária de Jornalismo)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)