Possibilidade de privatização do Banrisul é rejeitada na Câmara
Sindicato lamentou o acordo de renegociação da dívida do Estado e defendeu a importância do banco.
A importância do Banrisul para o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul e o risco de privatização do banco foram temas do período de Comunicações, durante a sessão ordinária desta quarta-feira (12/4), na Câmara Municipal. Para falar sobre os assunto, o Legislativo recebeu o presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), Everton Gimenis, além de contar com a presença de funcionários da entidade nas galerias.
Gimenis destacou que a defesa do Banrisul público é uma luta importante para a sociedade gaúcha, lembrando o que chamou de “sanha privatista neoliberal dos anos 90”. “Na época, fizemos uma grande mobilização para impedir a privatização”, afirmou. Ele também lembrou a abertura de capital da instituição ao capital privado, feita pelo governo Yeda Crusius. “Foi um mau negócio, em que o Estado perdeu mais de R$ 1 bilhão em dividendos”, atestou.
O presidente do SindBancários também criticou a possibilidade de privatização de outras empresas estatais, como a CEEE, a Sulgás e a CRM. “Se vender estatais fosse solução, o problema da dívida já havia sido resolvido”, salientou. Para ele, há “um grande consenso” na sociedade gaúcha contrário à desestatização do Banrisul. “Em 96 municípios gaúchos, ele é o único banco presente, pois os grandes bancos privados não se preocupam com o papel social”, garantiu.
Renegociação da dívida
Ainda conforme Gimenis, o acordo proposto pelo governo federal para a renegociação da dívida é lesivo ao Estado. “O que se propõe é apenas uma moratória de três anos, em vez de diminuir a dívida, deixando o Rio Grande do Sul sem instrumentos de desenvolvimento”, sublinhou. De acordo com ele, há outros caminhos para gerar receita ao Estado, como a recuperação de recursos da Lei Kandir, questionar e revisar isenções fiscais e abrir a “caixa-preta da sonegação”. “Segundo os técnicos da Fazenda, bilhões de reais são deixados de arrecadar com a sonegação fiscal”, disse.
Por fim, o orador afirmou que a iniciativa de privatizar bens públicos não é de natureza econômica, mas ideológica. “A intenção é abrir mão de serviços de qualidade e entregar ao povo o Estado mínimo, que prejudica as pessoas mais pobres”, declarou. Conforme Gimenis, mesmo que o governo estadual negue, há sinais que podem corresponder à privatização. “O banco parou de chamar concursados, criou planos de demissão e vem precarizando os serviços, para colocar a população contra a instituição”, disse, convocando os vereadores a participar da luta pela manutenção do banco público. “O Banrisul é lucrativo, passa dividendos ao Estado e permite a ele fazer política econômica para ajudar os que mais precisam”, completou.
Vereadores
Diversos vereadores também dissertaram sobre a possibilidade de privatização do Banrisul:
EMOCIONAL - Rodrigo Maroni (PR) disse que o assunto, para ele, tem um tom emocional. “Meu pai trabalhou quase 40 anos no Banrisul, por isso aprendi a falar e escrever defendendo o banco”, expôs. Segundo ele, houve dificuldade de convencer o pai a aposentar-se, tamanha sua preocupação com a instituição. Maroni também ressaltou que o Banrisul tem a imagem consolidada na sociedade e que é uma das empresas mais lembradas pela credibilidade no Estado. Ele lamentou que, de tempos em tempos, surja a ideia de privatização. “Mais do que defender o Banrisul, é fundamental ter um sindicato forte e funcionários apaixonados, para manter o banco do povo”, finalizou. (PE)
SOCIAL - Airto Ferronato (PSB) afirmou que este não é o momento de discutir a privatização das estatais e criticou as tentativas anteriores de privatização e intervenção no serviço público. Segundo ele, nenhum banco privado teria interesse em atender cidades pequenas do Estado e o Banrisul tem um “caráter social” que deve ser mantido. “Estamos hoje em pedaços porque não paramos de pensar apenas na lógica econômica, de resultados, em vez de olhar para os que mais precisam”, disse. Conforme Ferronato, a privatização do Banrisul seria a destruição de mais um pedaço do Rio Grande do Sul. “Ele financia o pequeno empresário, o pequeno agricultor e é a instituição salvadora do próprio Estado”, garantiu, dizendo ser necessário um “olhar para o futuro”. (PE)
ORGULHO - Idenir Cecchim (PMDB) iniciou dizendo que a atitude do governador Sartori deveria ser festejada. “O governador e toda a bancada do PMDB já decidiram cerrar fileiras contra a venda do Banrisul”, declarou. Segundo ele, o banco representa uma identidade no Estado, auxiliando trabalhadores da agricultura, indústria e comércio. “É o legítimo banco dos gaúchos, do qual todos temos orgulho”, salientou, ponderando que a lógica não se sustenta na discussão sobre outras estatais, que, segundo o vereador, são mal geridas. Por fim, Cecchim elogiou os funcionários da instituição voltou a garantir que a privatização não será realizada. “Se acontecer, não será neste governo”, completou. (PE)
MOBILIZAÇÃO - Fernanda Melchionna (PSOL) afirmou que a privatização do Banrisul faz parte de uma agenda neoliberal do governo Temer e de uma negociação da dívida do Estado com a União que “é completamente injusta”. De acordo com a vereadora, foram a dívida e os juros que quebraram o Rio Grande do Sul. Ela ainda apoiou a luta dos bancários e criticou a tentativa dos governantes de colocar uma lógica de banco privado em um banco público. “Nós somos contra qualquer política de privatização. Em 1998, o Banrisul não foi privatizado por causa da ampla mobilização dos gaúchos. E também não será agora.” Para Fernanda, muitos políticos sucateiam as máquinas públicas para que elas sejam privatizadas. (CM)
JOIA RARA - Cassiá Carpes (PP) contou que, no período em que foi deputado estadual, lutou contra a possibilidade de vender o cartão do Banrisul para um banco de São Paulo. “Ele tem um valor inestimável. Eles queriam vender essa marca. Nós nos movimentamos e não deixamos a ideia prosseguir”, explicou. O vereador ressaltou que o Banco pertence ao Estado independente de quem estiver governando. O Banrisul é regido pelas leis do Banco Central e é constantemente fiscalizado. “É um banco legítimo que tem todas as suas prorrogativas e não podemos deixar que, neste momento de crise, levem a nossa joia rara”, defendeu, ao ler uma das faixas expostas pelos bancários na plateia do Plenário Otávio Rocha: “Se vender, não tem mais volta". "Ele é nosso e continuará sendo”, reiterou. (CM)
MOBILIZAÇÃO II - Parabenizando a mobilização dos bancários, Sofia Cavedon (PT) elogiou a campanha, encabeçada pela categoria, que apresenta “dados muito consistentes que nos ajudam a defender a causa e explicar aos gaúchos a importância do banco para o Estado”. A vereadora expôs que 96 cidades gaúchas só possuem agências do Banrisul e que a maior parte das contas é gerida por trabalhadores. “O banco é inclusivo: desburocratiza o sistema e dá acesso a quem vive do seu próprio trabalho”. Ao final, ela afirmou que esta “não é uma luta corporativa, mas uma luta pela autonomia e pelo desenvolvimento econômico do nosso Estado”. (CM)
RESISTÊNCIA - “É lastimável ver alguns governos adotarem políticas privatistas depois de tantos anos de luta por instituições públicas”, iniciou Aldacir Oliboni (PT). “Nós temos que ser muito resistentes porque eu duvido que a população vá concordar com a privatização do banco”, disse. O vereador explicou que o Banrisul se consolidou como uma instituição que não tem a lógica dos bancos particulares. "Não tem como nós aceitarmos essa atitude”. Oliboni afirmou que está junto com a indignação do seu partido, que não quer que o banco, assim como outras estatais, seja privatizado. (CM)
CONVICÇÃO - Adeli Sell (PT) disse ter convicção de que o Banrisul não será privatizado porque, segundo ele, a maioria do povo gaúcho tem conta no Banrisul e quer a sua manutenção como banco público. O vereador afirmou ser favorável ao uso de novas tecnologias no atendimento bancário, mas ressaltou a importância de haver também "pessoas de carne e osso" atendendo no Banrisul, especialmente no auxílio aos idosos. Ainda ponderou que é necessário que as grandes agências bancárias mantenham sempre um brigadiano fazendo a segurança dos clientes. "A Câmara de Porto Alegre tem ampla maioria de vereadores pró-Banrisul. Queremos apoiar este movimento nas ruas e em todo o Estado." (CS)
FEDERAL - André Carús (PMDB) destacou que a frase "Se vender, não tem mais volta", mote da campanha contra a privatização do Banrisul, deveria ser endereçada ao governo federal, já que houve manifestação do governo estadual e da bancada do PMDB gaúcho garantindo que o Banrisul não será privatizado. Segundo Carús, o principal adversário da manutenção do Banrisul público é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Carús também criticou a proposta de reforma da Previdência, "que afeta diretamente a vida dos trabalhadores", e afirmou que "a União não tem interesse em enfrentar a reforma do pacto federativo, porque é conveniente que prefeitos andem com o pires na mão em Brasília mendigando recursos". (CS)
FORTE - Márcio Bins Ely (PDT) afirmou que o Banrisul é um banco forte e desenvolvido e, desta forma, deve ser mantido "público e dos gaúchos". Segundo ele, o Banrisul está presente em 98,5% do território do Rio Grande do Sul, tendo agências em 347 municípios. "Em 87 cidades gaúchas, o Banrisul é a única agência bancária disponível para os moradores." O vereador destacou a importância do serviço do microcrédito prestado pelo banco estadual, bem como as ferramentas de investimentos que disponibiliza para os clientes na área de agricultura familiar. "O PDT se posiciona pela manutenção do Banrisul público." (CS)
Texto: Paulo Egidio (estagiário de Jornalismo)
Cleunice Maria Schlee (estagiária de Jornalismo)
Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)