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Racismo no futebol é tema de reunião na Cedecondh

Apresentação do relatório alertou para a discrminação no esporte Foto: Ederson Nunes
Apresentação do relatório alertou para a discrminação no esporte Foto: Ederson Nunes (Foto: Foto de Ederson Nunes/CMPA)
A Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) realizou na tarde desta terça-feira (7/7), reunião com o objetivo de apresentar o Relatório Anual da Discriminação no Futebol 2014, realizado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, projeto apartidário e que não pertence a nenhum movimento social ou clube de futebol. 

Além dos vereadores que compõem a comissão, participaram do encontro Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol; Débora Silveira, coordenadora executiva da entidade; Cristina Santos, uma das coordenadoras do Grupo Canela Preta; Professor Pernambuco, especialista da história dos negros no Brasil, e Sérgio Nunes, integrante da coordenadoria da igualdade étnica e racial da Secretaria de Justiça e dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul. 

Marcelo Carvalho explicou que a intenção do Observatório é monitorar, acompanhar e divulgar os casos de racismo no Brasil e também no exterior. “No Brasil, foram registrados 20 casos e lá fora oito casos envolvendo brasileiros, o que muda, contudo, é a forma como são resolvidos. As situações que acorrem no exterior são exemplos de como lidar com o racismo, especialmente no que diz respeito às penalizações e punições”, disse. Ele acredita que os estádios de futebol são um espaço de tolerância e convivência que pode barrar ocorrências de preconceito racial.

“Não nos preocupamos com o racismo apenas no futebol, mas acreditamos que esse esporte é uma ferramenta de inclusão social para alertar a sociedade que o racismo é uma violência cruel”, afirmou, ao destacar que o observatório esta elaborando uma cartilha explicando o que é o racismo e ajudando a identificá-lo. “No Brasil, o racismo é muito velado, por isso a importância dessa cartilha, que deverá ser distribuída nas escolas estaduais, municipais e dentro das categorias de base”, concluiu.

Débora Silveira disse não ter dúvida de que o futebol é uma ferramenta de educação que agrega pessoas de todas as raças e classes sociais, e citou uma  frase de Nelson Mandela: “O esporte tem o poder de mudar o mundo. Ele tem o poder de unir as pessoas do jeito que poucas coisas conseguem”. Segundo ela, na Europa os clubes punem imediatamente casos de racismo, enquanto no Brasil, infelizmente, não vê isso. “O cidadão acaba entendendo e se conscientizando se tiver consciência de que será punido, seja em esfera criminal ou dentro do clube”, finalizou.

Cristina Santos relatou que o racismo existe no futebol desde que o esporte chegou ao Brasil. “Isso ocorre desde 1900, com a criação do primeiro time de futebol do RS, no município de Rio Grande”, contou. Ela disse que a Liga da Canela Preta foi fundada em 1910, pois os negros não podiam jogar com os brancos nos times já estabelecidos. “Lamentavelmente a história da comunidade negra está atrelada à invisibilidade. Denunciar o racismo exige coragem e a liga é um exemplo de homens que se uniram contra o preconceito racial”, destacou ao citar a recente aprovação pela CMPA do projeto 249/14, de autoria do vereador João Bosco Vaz (PDT), que inclui o evento Jogos do Grupo Canela Preta no calendário oficial da capital.

Professor Pernambuco afirmou que o racismo está na raiz da nossa sociedade, pois os brasileiros não conhecem sua história. “Os negros nunca foram escravos, mas foram escravizados. Sou militante do movimento quilombista e digo que nossa luta não é étnica, mas por direitos humanos. Nós queremos que a sociedade nos respeite naquilo que todos os brancos querem ser respeitados. O racismo institucional é tão forte que nós nem percebemos. Estamos em um país hipócrita”, concluiu.

Presidente da Cedecondh, a vereadora Fernanda Melchiona (PSOL) encerrou os trabalhos destacando como encaminhamentos da reunião a criação de um grupo que terá como função pensar soluções para os crimes de racismo em Porto Alegre. “Através dessas constatações, criaremos um texto para formulação de uma lei que legisle nessa área”, disse. Além disso, a comissão ficou responsável por enviar um ofício ao jornal Correio do Povo solicitando que os arquivos do jornal, importantes para a pesquisa, especialmente no que diz respeito aos estudos da Liga da Canela Preta, não sejam cobrados. Por fim, foi sugerido que seja realizada uma exposição que integre os dados apurados Relatório Anual da Discriminação no Futebol como as pesquisas da Liga.

Texto: Lisie Venegas (reg. prof. 13.688)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)