Plenário

Usuário de crack fica com cérebro de esquizofrênico

Soares, Sebastião Melo, Dornelles e Coronel na mesa de debates Foto: Tonico Alvares
Soares, Sebastião Melo, Dornelles e Coronel na mesa de debates Foto: Tonico Alvares

O cérebro de uma pessoa viciada em crack fica igual ao de um doente de esquizofrenia. Esta foi uma das informações repassadas hoje (2/7) ao público que participou de debate sobre a droga realizado durante a sessão plenária da Câmara Municipal de Porto Alegre. Participaram do debate o diretor-geral do Hospital Psiquiátrico São Pedro, médico Luiz Carlos Coronel, o promotor de Justiça Marcelo Lemos Dornelles e o jornalista e coordenador-executivo da Central Única de Favelas (Cufa), Manuel Soares.

O crack é a droga mais danosa ao cérebro já criada pelo homem, disse o diretor-geral do Hospital Psiquiátrico São Pedro, médico Luiz Carlos Coronel. Segundo ele, nunca houve, na história das doenças mentais causadas pela droga, algo tão poderoso quanto o crack. "Não há nada parecido com o crack em termos de poder energizante e euforizante." Além disso, explicou Coronel, o viciado perde a capacidade de trabalho e de conviver em sociedade. O médico acrescentou que a droga gera paranoia e que os remédios tradicionais não funcionam. "O cérebro de um viciado em crack fica igual ao de um esquizofrênico."

O diretor do São Pedro alertou ainda para os efeitos da droga sobre a sociedade, como o aumento da violência, tanto na família quanto na escola. "As escolas estão sitiadas e os professores, atemorizados. Os usuários de crack se tornam violentos. Estabelece-se um clima de falta de autoridade." Coronel defende a prevenção como ação principal para combater o que ele considera uma epidemia no país. "Não há outro jeito se não a união da sociedade para produzirmos programas de combate a esta epidemia na qual se tornou o crack."

Campanha

O promotor de Justiça Marcelo Lemos Dornelles apresentou aos vereadores a campanha que o Ministério Público está implementando em todo o Estado para enfrentar o problema do crack. Disse que a campanha, intitulada Crack, igonorar é o seu vício?, foi idealizada no começo de 2009, depois que a Promotoria começou a detectar o aumento de crimes como homicídios e roubos ligados a esta droga. "Observou-se que o aumento da violência urbana e doméstica estava ligado ao crack. Os roubos, por exemplo, mudaram de perfil, pois passaram a ser praticados para compra da droga."

Segundo Dornelles, as características do crack chamaram a atenção também por seu grau de periculosidade. "A droga causa dependência quase imediata."Para ele, a sociedade precisa se articular, pois o viciado em crack necessita de tratamento diferenciado e de uma nova capacitação dos profissionais envolvidos para atendê-lo. "É preciso atuar em três frentes: prevenção, tratamento e repressão."

Manoel Soares, repórter da RBS e coordenador-executivo da Cufa, disse que a Central se dedica à guerra ao crack há oito anos. De acordo com Manoel, as campanhas realizadas para o combate ao crack já deveriam ter iniciado há muito tempo. "Essa é uma droga que está matando de seis a sete pessoas por dia na cidade. Para ele, não pode haver jogo político com relação ao combate a essa droga. Conforme o jornalista, crianças de 12 anos estão vendendo seu próprio corpo para comprar o crack. "A violência que essa epidemia está trazendo para a sociedade é mais forte que qualquer coisa já vista", argumentou.

Para o representante da Cufa, a única saída hoje é a prevenção. "Todas as pessoas têm capacidade para ser um agente e fazer a prevenção e essa é a hora de todos se unirem, independente de partido, classe ou raça, para ajudar na prevenção. Existe um mercado de venda do crack que é rentável e a sociedade deve se mobilizar para combater este exército inimigo. Manoel acrescentou que a prevenção mais eficaz é a produzida por cada um de nós. "Cada um deve fazer sua própria campanha e buscar para si a responsabilidade de orientar e evitar que mais uma pessoa seja usuária desta droga."

Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)
Regina Tubino Pereira (reg. prof. 5607)

Ouça:
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