1964: Reformas de Base

Waldir Pires relembra período pré-golpe militar

Ex-ministro destacou recuperação da imagem do presidente Jango Foto: Tonico Alvares
Ex-ministro destacou recuperação da imagem do presidente Jango Foto: Tonico Alvares
O resgate da memória do presidente João Goulart marcou a fala do ex-ministro Waldir Pires, que abriu o segundo painel do seminário 1964: Reformas de Base, realizado nesta segunda-feira (1º/4), na Câmara Municipal de Porto Alegre. “São muito poucos da nova geração que conhecem a natureza do comportamento do presidente João Goulart. Não encontram fonte de leitura, de notícia. Creio que estamos no momento de desfazer essa injustiça”, ressaltou.

Ele também destacou a trajetória política de Jango, eleito vice-presidente da República duas vezes. Na primeira, com meio milhão de votos acima da votação de Juscelino Kubitschek. “Na segunda, com mais de dois milhões acima do vice-presidente do candidato eleito, Jânio Quadros. De modo que tinha legitimidade absoluta”.

Pires disse que Jango era “um grande presidente voltado aos caminhos da democracia em todos os aspectos, em todo o seu tempo”. Segundo ele, João Goulart foi vítima dos interesses estritamente mobilizados de grupos econômicos internacionais. “Naquele momento, inclusive, dos Estados Unidos (EUA)”.

Consultor-geral da República e ministro da Justiça no governo Jango, Pires relembrou o período anterior ao golpe militar, perpetrado no dia 1º de abril de 1964. “Eu assisti ao golpe de Estado. Eu estava lá. Eu vi o que aconteceu. Acompanhei todo aquele clima.”

Junto a outros apoiadores de Jango, Pires disse que esteve na Granja do Torto, onde morava o presidente João Goulart. “O general Ladário Teles, comandante do III Exército, naquele dia, pela manhã, faz uma declaração dizendo que não estava de acordo com os colegas e não acompanharia o golpe de Estado”, contou.

Foi então que Jango decidiu ir ao Rio Grande do Sul para encontrar-se com o general, como contou o ex-ministro. O presidente deveria voar numa aeronave da Varig devido à ameaça de o avião presidencial ser abatido no ar pelas forças golpistas. “Mas, as turbinas do avião foram sabotadas. Depois de meia hora, ele trocou por um aviãozinho, no qual se deslocou a Porto Alegre”.

Conforme Pires, ao deixar Brasília, Jango abriu espaço para que os golpistas afirmassem que ele tinha abandonado o País. “Escrevi uma comunicação ao presidente do Congresso relatando o que tinha acontecido. No documento, estava escrito que João Goulart tinha tomado esta atitude para cumprir o seu dever de resistir a qualquer tipo de ação de violação da legitimidade”.

O comunicado, como explicou Pires, foi ignorado pelos golpistas, que afirmavam que a nação estava acéfala e declararam vaga a Presidência da República. “Isto antes de encerrar a sessão. Houve um tumulto violento, apagaram-se as luzes e assim se fez o golpe de Estado”, lamentou. “Assistimos saírem os golpistas, que passaram pelo Supremo Tribunal Federal e arrebanharem o presidente para dar posse ao sr. Ranieri Mazzilli como presidente da República. Assim tivemos esse período iniciado em nosso País”.

"Em 4 de abril de 1964, Jango desembarcou no aeroporto de Carrasco, em Montevidéu, e pediu asilo político ao Uruguai", relembrou. “Quando se deu o golpe, João Goulart era intimado a pagar ao governo do EUA cerca de três bilhões, numa época em que todas as exportações não chegavam a dois bilhões.”

Pires finalizou dizendo: “Estamos chegando num momento de recuperação da imagem de Jango, o que é fundamental para a construção da democracia. Democracia esta que é assegurada para respeitar os direitos da dignidade da pessoa humana, que é a sua vida!”