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Alunos da Padre Reus pedem o fim do bullying nas escolas

Priscila (ao microfone) interagiu com outros estudantes Foto: Eduarda Amorim
Priscila (ao microfone) interagiu com outros estudantes Foto: Eduarda Amorim

Alunos do segundo e terceiro anos da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Reus, da Zona Sul da Capital, estiveram na tarde desta terça-feira (13/4) na Câmara Municipal, onde fizeram uma palestra de prevenção ao bullying. O evento ocorreu em reunião da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece), e foi assistido por vereadores e alunos da Escola Chico Mendes. Eles destacaram experiências vividas com o projeto Escola sem Violência, com relatos de experiências vivenciadas no ambiente escolar desde 2006. A palestra também divulga a lei de autoria do vereador Mauro Zacher (PDT), que institui política de prevenção ao bullying nas escolas de Porto Alegre, em projeto aprovado em fevereiro pelo Legislativo.

Projeto

Coordenados pelo professor Aloísio Pederson, a palestra é dividida em várias partes e com a participação efetiva dos alunos. “A troca de experiências enriquece nossas atividades. Iniciamos em 2006, pois naquele período a escola era depredada e as relações entre os alunos eram truculentas”, pondera Aloísio, que registra o envolvimento de 1,7 mil alunos da Escola Padre Réus no Projeto Escola sem Violência. “Queremos conscientizar as pessoas sobre o bullying”, orienta. São retratadas na palestra diversas situações de bullying, como agressões, insultos, intimidações, apelidos, injustiça, roubos e exclusão.

Apresentação

A aluna Priscila Carvalho ressaltou o foco da lei antibullying aprovada na Câmara, que alega ter efeito de conscientização, e não de punição. “Quando se chama alguém de feio ou gordo, isto afeta muito o aspecto psicológico das pessoas”, relata, ao destacar que são os próprios alunos que devem rechaçar este tipo de prática. Como informação, o estudante Maurício Borba disse que a palavra bullying vem da língua inglesa, como aquele tipo “valentão”, de alguém que, por exemplo, tem mais força física que outro e se prevalece disto. Maurício também observou a normalidade com que crianças “são chamadas de ‘gordas’, ‘feias’, ‘bichas’ ou ‘quatro-olhos’ por outras pessoas”.

Agressores

Dérik Melo informou que o agressor é aquele que pratica o bullyng, geralmente mais forte que o outro. “Existe o bullyng indireto, que só fala mal da vítima para outras pessoas. Já o direto é quando ocorre alguma agressão, como chutes e socos”, informa. Dérik destacou outros dois tipos: a agressão direta, quando o agressor ofende diretamente a vítima com ameaças e insultos.

Também há o cyberbullyng, quando as ofensas ocorrem pela Internet, em geral em páginas de relacionamento, como o Orkut. “Muitos alunos também são vítimas em suas próprias casas e acabam descontando na escola”, relata ele.

Vítimas

Adriele Amaral observa que a vítima de bullying é uma pessoa que sofre, geralmente mais retraída, e que se exclui do grupo escolar. “Muitas vezes a característica física delas faz com que sofram humilhações e constrangimentos desnecessários. Elas continuam sofrendo bullyng, se excluem do grupo ou saem da escola. Temos que parar de criticar os defeitos das pessoas e olhar para nosso próprio umbigo. Não temos que julgar ninguém, mas olhar as qualidades destas pessoas, e não seus defeitos”, criticou.

Segundo a aluna Adriele, todos já sofreram e cometeram bullying pelo menos uma vez na vida. Ela deu depoimento sobre o caso em que ela mesma foi vítima, tendo, inclusive, que trocar de escola. “Todos têm direito de errar, mas continuar cometendo bullyng não. Não faz para os outros o que tu não queres que façam para ti”, argumenta.

Ao final da palestra, os alunos da Escola Padre Reus apresentaram uma música que traz na letra ideias para combater a prática do bullying e praticar o respeito e a amizade entre alunos. Também foram apresentados à plateia vídeos produzidos pelos alunos, além de cartazes e banners sobre bullying e racismo. Eles também lançaram um blogue que congrega o resultado desse movimento contra o preconceito e a intolerância. Basta acessar www.padrereuscontraobullying.blogspot.com e trocar informações, ver vídeos e denunciar abusos.

Educação

Para Aloízio Pedersen, todos os alunos que sofrem bullying têm que procurar um professor e relatar o que acontece. “A minha vida foi contra o preconceito e por uma educação transformadora. Nós podemos ser diferentes e podemos melhorar este mundo”, diz. Ele também ressalta que alunos da escola foram estimulados em sala de aula a conhecerem as informações sobre a prática de bullyuing. “Atrás de uma agressão tem alguém pedindo socorro, pois tem algo errado com a pessoa”, destaca.

A vice-presidente da Cece, vereadora Sofia Cavedon PT), disse que o projeto é revolucionário e transformador. “Vocês estão pensando e refletindo, além de serem protagonistas destas ações. Os pais também são referências neste processo. É um exemplo de escola na luta por uma sociedade muito melhor”, disse ela aos alunos.

Para Mauro Zacher (PDT), autor da Lei que institui a política de prevenção ao bullying nas escolas da Capital, a violência escolar tem sido um desafio e gerado uma busca por políticas públicas na área de educação. “Queremos dividir este trabalho com outras escolas. Estes alunos decidiram que, na escola Padre Reus, não haverá mais bullying e que construirão experiências para dividir com outros estudantes”, destaca. A proposta de Mauro Zacher foi aprovada, no dia 24 de fevereiro passado, por unanimidade e sancionada pelo então prefeito José Fogaça no dia 26 de março, colocando a Lei 10866/2010 em vigor nas escolas da rede municipal em Porto Alegre. Também assistiram à palestra os vereadores Tarciso Flecha Negra (PDT) e Fernanda Melchionna (PSOL).

Leonardo Oliveira (reg. prof. 12552)

Ouça:

Alunos ensinam outros alunos a combater violência escolar