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Cosmam debate o monitoramento da qualidade do ar na Capital

Vereadores discutiram problemas de saúde gerados pela poluição do ar Foto: Elson Sempé Pedroso
Vereadores discutiram problemas de saúde gerados pela poluição do ar Foto: Elson Sempé Pedroso (Foto: Elson Semp Pedroso/CMPA)
Os riscos causados à saúde dos porto-alegrenses em decorrência da elevada poluição atmosférica existente na capital gaúcha e o que ainda precisa ser feito para combater os poluentes gerados pelo transporte urbano e pelas indústrias foram temas tratados pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal em reunião na manhã desta terça-feira (3/6).

O monitoramento da qualidade do ar em Porto Alegre é uma preocupação constante de autoridades, instituições representativas e estudiosos do setor. Investir na implantação de um Plano Diretor Cicloviário, implementar linhas hidroviárias e recuperar áreas verdes, parques e praças, além de garantir uma distribuição democrática mais ampla em áreas rurais, são prioridades e premissas obrigatórias para diminuir a poluição do ar no município.

Os danos causados pelo alto nível de poluentes no ar vão além dos riscos a doenças cardíacas e pulmonares, ligadas ao sistema nervoso central, e podem causar pernas no aprendizado e na memória da população. Pesquisadores descobriram que no inverno a situação é ainda mais agravante porque acontece a chamada inversão térmica, onde uma massa de ar polar fica suspensa, impedindo que os poluentes se dissipem. E é justamente nesta época do ano que os hospitais ficam lotados com pacientes com problemas respiratórios.

A representante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Sandra Mendel Ribeiro, presente no encontro, salientou que, de acordo com um levantamento da Universidade de São Paulo (USP) feito em seis capitais brasileiras, a cidade de Porto Alegre gasta, por ano, R$ 360 milhões para o tratamento de doenças causadas pela poluição. “Precisamos fazer um manifesto em defesa das árvores de Porto Alegre, lutar contra as podas indiscriminadas. Sem árvores a cidade fica árida, poluída e abafada. A nossa preocupação na Agapan é em relação à Capital que já foi considerada ecologicamente sustentável. Qualidade do ar é qualidade de vida.”, defendeu Sandra.
 
As regiões consideradas com melhor qualidade do ar atmosférico e menos poluídas, na Capital, encontram-se na região do Belém Novo, na Zona Sul, concentrando também os bairros Lami e Hípica. Estudos apontam que o ar da Capital contém, em média, o dobro de poluentes recomendados.

Para a servidora da Secretaria Municipal de saúde (SMS), Silvana Garcia Marzulo, é preciso identificar os fatores ambientais e locais existentes que caracterizam a poluição atmosférica para tentar melhorar a saúde da população. “Porto Alegre preconiza estes fatores ambientais locais. Precisamos saber os sintomas e fazer o diagnóstico do paciente. As doenças mais frequentes detectadas pela poluição são: infecções respiratórias agudas, asma e bronquite”, apontou Silvana, acrescentando que é necessário implantar o programa em cada uma das oito microrregiões.

Estações de tratamento
 
Um grande desafio ainda para o poder público é fomentar uma política mais efetiva no Rio Grande do Sul voltada para a qualidade do ar. Atualmente, existem 13 estações de monitoramento da qualidade do ar em Porto Alegre e na Região Metropolitana, mas somente quatro funcionam. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) não compareceu à reunião desta terça-feira para dar sua reposta quanto ao andamento do reparo e conserto das estações.
 
Já a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), representada na ocasião pelo engenheiro Glauber Zettler Pinheiro, tem duas unidades de monitoramento para verificar a qualidade do ar na cidade, mas as mesmas não estão em funcionamento. Segundo informado por Glauber, a recente instalação da Estação de Monitoramento do bairro Humaitá surgiu de uma demanda da comunidade e foi construída em contrapartida pela OAS, empresa que deu origem à Arena do Grêmio.
 
A especialista do Laboratório de Meteorologia e Qualidade do Ar da UFRGS, Ludmila de Souza, pediu o apoio da Comissão para colocar todas as estações de meteorologia em operação na cidade. “Faz cinco anos que as estações de monitoramento estão muito fracas, precisamos de um monitoramento qualificado com modelagem numérica com modelos químicos e atmosféricos”, afirmou Ludmila, explicando que estudos mostram que a circulação do ar e dos poluentes vão geralmente para a Serra gaúcha e que a industrialização agrava a situação.

Encaminhamentos
 
Tendo em vista que a Fepam não compareceu à reunião, será agendado um novo encontro emergencial para tratar sobre o tema com os órgãos responsáveis. Ficou definido também que será encaminhado, como pauta para a 5ª Conferência das Cidades, o tema da melhoria da qualidade do transporte público, que tem reflexos nas questões atmosféricas.

Outra questão importante apontada pela vereadora Jussara Cony (PCdoB) é a criação de um seminário, que será realizado em novembro de 2014 e terá como foco principal a Reforma Urbana, Saúde e Meio Ambiente. “Se saúde é um bem que se quer, qual a cidade que queremos”, questionou Jussara. De acordo com a vereadora, é fundamental discutir e avançar no debate sobre as questões ambientais para terminar com os entraves de natureza política, que para ela, não são financeiros nem burocráticos. “Eu tenho a obrigação de cobrar uma posição da Fepam. Precisamos superar a visão de que cada órgão trabalha por si próprio, ainda mais nesta visão estratégica que queremos. É preciso haver transversalidade para o controle social, aprimorando a reforma urbana, que trabalha pela habitação e também o seu entorno, saúde, saneamento, incluindo mobilidade urbana e democratização das decisões”, observou.
 
Segundo a vereadora Lourdes Sprenger (PMDB), a Comissão vai se reunir para buscar verbas federais, pois a saúde está em jogo.
 
O presidente da Cosmam, vereador Dr. Thiago Duarte (PDT), ressaltou que é essencial unir forças para viabilizar pelo menos uma linha turística hidroviária até o extremo sul da Capital. “A necessidade do transporte hidroviário é premente. Em 2011, a Câmara Municipal realizou pela primeira vez uma reunião da Comissão de Saúde e Meio Ambiente em um barco. Vamos ficar atentos à preservação e manutenção de áreas de proteção ambiental que carecem de Plano de Manejo. As Zonas Rurais precisam ser avaliadas. O Extremo Sul precisa voltar a ser uma área rural de Porto Alegre, tem potencial para isso”, destacou.
 
Estiveram presentes na reunião também os vereadores Mauro Pinheiro (PT), Paulo Brum (PTB) e Mario Manfro (PSDB).
 
Texto: Mariana Kruse (reg. prof. 12088)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)