Seminário

Drogas: família e políticas de saúde são imprescindíveis

Seminário lotou galerias do Plenário Foto: Lívia Stumpf
Seminário lotou galerias do Plenário Foto: Lívia Stumpf

A estruturação da família e a criação de políticas públicas de saúde mental são imprescindíveis no combate ao uso de drogas e, em especial, ao crack. A constatação foi consenso entre os palestrantes do Seminário de Ação contra as Drogas com ênfase no crack, realizado pela Câmara Municipal de Porto Alegre nesta sexta-feira (18/9). O seminário foi promovido pela Escola do Legislativo Julieta Battistioli e pelas frentes parlamentares Antidrogas, de Incentivo à Leitura e de Defesa da Infância no plenário Otávio Rocha da Câmara.

O presidente da Câmara, vereador Sebastião Melo (PMDB), salientou que o seminário representava uma grande oportunidade para que os porto-alegrenses discutam políticas públicas de combate às drogas. "Quando a família desagrega, o resto também se desagrega. Só existe tráfico de drogas porque existe o consumidor.", disse Melo. Para ele, é preciso que os governos invistam mais nas pessoas, criando oportunidades e responsabilidades do Município, Estado e União em relação ao problema.

Mauro Luís Silva de Souza, promotor de justiça do Ministério Público, ressaltou que o MP vem se especializando na aproximação com a sociedade, trabalhando na recuperação de adolescentes envolvidos com crack, na internação de usuários de droga e no combate ao tráfico de drogas, especialmente o crack. Ele explicou o projeto "Crack - ignorar é o seu vício?", desenvolvido pelo MP, e apresentou um vídeo institucional sobre o problema, produzido pela instituição. "Desenvolvemos 26 projetos que envolvem a prevenção, o tratamento ou combate ao uso de crack. Já é possível notarmos alguns resultados desse trabalho, como o aumento da frequência das crianças da periferia nas escolas pela diminuição da figura do pai ausente na família.", disse Souza. Ele lembrou que o perfil médio dos meninos que estão na Fase é de jovens que estudaram até a quarta série, não conheceram o pai e se envolveram com drogas muito cedo. Entre dezembro de 2008 e maio deste ano, segundo Souza, houve um crescimento de 30 mil para 55 mil usuários de crack no Estado.

Irma Rossa, médica e coordenadora do Departamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, disse que trabalha com o tratamento à dependência química desde 1986. Ela destacou as carências ainda existentes na rede de saúde mental em Porto Alegre e afirmou que é preciso trabalhar na capacitação dessa rede. "O grande problema é que as drogas funcionam no cérebro liberando substância que causa prazer. E o crack tem potencial ainda maior de proporcionar essa sensação." Lembrou que o uso de drogas é maior quando falham a família, a escola e a sociedade em geral. "O combate ao uso de drogas exige uma mudança de cultura da nossa sociedade. Quando vemos um filho usando álcool pela primeira vez e temos uma atitude tolerante, certamente estaremos abrindo portas para que se usem outras drogas."

Luiz Fernando Oderich, que preside a Associação Brasil Sem Grades, relacionou os problemas crescentes pelo uso de drogas com a ausência da figura paterna nas famílias. Lembrou que a droga existe no mundo há muito tempo, mas entende que epidemia pelo uso de drogas é uma novidade que tem relação com mudanças recentes na sociedade. Citou dados segundo os quais 30% das 183 mil certidões de nascimento, na cidade de São Sebastião do Caí, não identificavam o nome do pai da criança. A partir dessa constatação, disse Oderich, a ONG começou a desenvolver um trabalho de conscientização sobre o problema nas escolas. "Antes, quando a criança começava a ter problemas na escola, a direção escolar chamava a mãe para conversar. Hoje, essa situação mudou bastante. A escola chama o pai também, e a evasão escolar caiu bastante também."

Políticas públicas

A vereadora Fernanda Melchionna, presidente da Frente Parlamentar de Incentivo à Leitura, ressaltou que o combate ao uso de crack deve ser um dos principais debates a serem travados por entes públicos, escolas e sociedade, como forma de elaborar políticas públicas para esta área. "É preciso que o crack não apareça como primeira alternativa de oportunidade de renda para comunidades de baixa renda", disse Fernanda. Para ela, a luta contra o crack deve incluir o combate ao desemprego e a oportunidade aos jovens, com mais espaços de lazer para que possam mostrar seu trabalho e sua cultura.

O presidente da Frente Parlamentar Antidrogas, vereador Dr. Thiago (PDT), aifrmou que o combate ao uso de drogas precisa ser encarado pela sociedade como um problema de saúde pública. "É uma grande chaga social, sendo necessário que se faça um amplo diagnóstico que permita identificar soluções." Presidindo a Frente Parlamentar pelo Planejamento Familiar, o vereador Dr. Raul (PMDB) destacou a importância da estrutura familiar como modo de prevenção ao uso de drogas e, em especial, do crack. "Em uma família unida, há um mínimo de drogadição. Os filhos devem ser feitos com carinho e precisam ser acompanhados.", afirmou Dr. Raul, salientando que o crack é "uma chaga cuja incidência vem aumentando em Porto Alegre".

A vereadora Maria Celeste (PT), que preside a Frente Parlamentar de Defesa da Infância e Adolescência, disse que é preciso enfrentar o grande desafio de construir políticas públicas de combate ao tráfico de drogas. Celeste lembrou que dados mostram que a violência familiar é, em grande parte, resultante do uso de droga. "O crack mata seis pessoas por dia no Estado. Crianças usam drogas diariamente nas comunidades carentes. É necessário uma campanha de divulgação e enfrentamento maior ao crack a partir deste seminário." Celeste também defendeu a criação de um programa de atendimento ao usuário de droga pós-internação em Porto Alegre.

Também foram palestrantes do seminário: Luiz Carlos Illafont Coronel, médico e diretor do Instituto Psiquiátrico Forense e Diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro; Jose Vicente Lima Robaina, presidente do Conselho Municipal de Entorpecentes de Porto Alegre (Comen);  Anderson Ravy Stolf, médico e representante do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Ufrgs; Roberto Leite Pimentel, delegado e diretor da Divisão de Prevenção e Educação do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc/RS); e Nair Paim Kessler, psicóloga, terapeuta de família e coordenadora do Setor de Prevenção à Dependência Química da Cruz Vermelha Brasileira/RS.

Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)

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