Escola do Legislativo

Escritores falam sobre os 234 anos de história de Porto Alegre

Juremir Machado da Silva falou sobre os mitos e lendas da capital gaúcha Foto: Ederson Nunes
Juremir Machado da Silva falou sobre os mitos e lendas da capital gaúcha Foto: Ederson Nunes (Foto: Foto de Ederson Nunes/CMPA)
Lendas, mitologias, fabulações e histórias culturais pitorescas da fundação da capital dos gaúchos e o papel dos seus gestores ao longo dos séculos – foram o eixo da primeira noite do Seminário “História e Histórias de Porto Alegre”, promovido pela Escola do Legislativo Julieta Battistioli, da Câmara Municipal de Porto Alegre, na noite desta terça-feira (24/3), no Auditório Ana Terra, com a presença dos painelistas Antônio Augusto dos Santos e Juremir Machado de Silva. O evento é alusivo à comemoração da fundação oficial da cidade de Porto Alegre, ocorrida em 26 de março de 1772. 

A programação segue nesta quarta-feira (25/3), a partir das 19 horas, com palestras ministradas por Francisco Marshall – sobre o patrimônio histórico e cultural em Porto Alegre – e Katia Suman – referente ao tema do uso dos espaços públicos e configuração urbana de Porto Alegre. Os quatro palestrantes, além de serem pessoas de destaque em suas áreas de atuação, integram o Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre por terem sido agraciados pela Câmara Municipal com títulos e homenagens pela sua importância no cenário cultural e profissional porto-alegrense.

A vereadora Lourdes Sprenger (PMDB) abriu os trabalhos da noite, ficando a coordenação e mediação das palestras a cargo do diretor da Escola do Legislativo, Hélio Panzenhagen.

Prefeitos 

A apresentação do advogado e escritor Antônio Augusto Santos teve como foco principal o debate acerca da importância da transição entre os 40 prefeitos que já passaram pela Prefeitura da Capital, bem como sobre os aspectos político-históricos da cidade nos séculos XIX e XX. O painelista já fez a publicação de um livro sobre a história de todos os prefeitos de Porto Alegre, desde Felicíssimo de Azevedo até José Fortunati.

“Ao longo das gerações não tivemos nenhum prefeito cassado ou impedido de atuar (por improbidade). Se os prefeitos do período da ditadura eram severos, isto não era demérito para a cidade. A democracia é o custo da cidade. Tivemos excelentes gestores que contribuíram muito para o crescimento e progresso da nossa Capital”, afirmou Antônio Augusto, citando nomes importantes de políticos visionários. 

Projetos

De acordo com o advogado, o prefeito José Loureiro da Silva construiu a Avenida Farrapos e trouxe para a cidade a primeira sinaleira. Na década de 50, conta ele, Ildo Meneghetti instituiu o Plano Diretor para separar a zona industrial e a comercial e estendeu linhas de ônibus ao longo da cidade. Já Leonel Brizola, quando prefeito, conseguiu credenciar e introduzir um engenheiro, Edvaldo Pereira Paiva, para ser o responsável pela construção da ponte do Guaíba. Edvaldo depois, durante o governo de Alceu Collares, deu nome à famosa rua Edvaldo Pereira Paiva. "Brizola consolidou-se ainda por ser o primeiro gestor a sancionar um projeto para identificar logradouros. Dois terços dos bairros da Capital foram criados na gestão de Brizola, que passou seu mandato para Sereno Chaise", conta Antônio Augusto Santos.

Já o prefeito Telmo Thompson Flores, que era engenheiro, foi responsável pela construção de dois viadutos na cidade, enquanto Guilherme Socias Villela, que atualmente é vereador de Porto Alegre, instituiu a Secretaria Municipal do Planejamento, enquanto esteve à frente da prefeitura (1975 a 1983), e foi responsável pela criação das linhas dos ônibus T1, T2, T3 e T4, a inauguração dos corredores de ônibus e a conclusão do Parque Marinha do Brasil. O escritor lembra ainda que coube ao prefeito Alceu Collares dar início à Avenida Edvaldo Pereira Paiva e a criação da Secretaria Municipal de Cultura.

Referências

Ao ressaltar as revoluções vividas na cidade durante o século XX, o historiador, professor e jornalista Juremir Machado da Silva abordou curiosidades e traços marcantes da mitologia da fundação da Capital, começando pelo surgimento do nome de Porto Alegre, valorizando o imaginário popular. Para Juremir, a cidade se fez através dos seus aspectos formais e tem projetos e obras reconhecidas, mas também caracterizadas pelas suas lendas, mitos e fabulações.

Juremir falou sobre a história do surgimento do nome da cidade. Um dos possíveis fundadores da cidade, chamado José Marcelino de Figueiredo, teria decidido denominar como Porto Alegre a cidade então conhecida como Porto dos Casais. "Ele estava triste e desolado. Era um saudosista e nostálgico, dramático e apaixonado. Tinha deixado uma moça na Europa e teria matado seu amante." Ao fugir para o Brasil, enviado pelo Exército como coronel, conta Juremir, teria trocado seu nome para Manuel Osório Gomes de Sepúlveda, então capitão Sepúlveda. "Dizem ainda que Marcelino ou Sepúlveda teria dado o nome à capital de Portalegre, em referência a uma cidade em Portugal”, observou Juremir, acrescentando que Jerônimo de Ornellas também foi considerado por muitos o fundador de Porto Alegre, onde enfrentou a primeira reforma agrária do Rio Grande do Sul e teve suas terras arrendadas pelos açorianos.

Juremir destacou ainda pontos fortes e curiosos da cidade. “Temos um rio que não é rio, um lago que não é lago e que devia ser um estuário. Assim é o nosso Guaíba. Vale lembrar que a chegada dos primeiros casais açorianos que vieram povoar Porto Alegre foi por engano, oriundos de Santa Catarina. Diz a lenda que a nomenclatura da Avenida Praia de Belas surgiu das deusas extraordinárias que rasgavam seus vestidos até o rio. Tudo isso está no imaginário da cidade, desde quando a capital do Rio Grande do Sul era Viamão”, complementou o historiador e doutor em Sociologia, enfatizando que a cidade já passou até a ser intitulada de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre.


Confira a programação desta quarta-feira (25/3) e o currículo dos palestrantes:

Palestra 3 – Francisco Marshall: Patrimônio histórico e cultural em Porto Alegre.

Francisco Marshall nasceu em Porto Alegre, tendo estudado nos colégios Santo Antônio e Nossa Senhora do Rosário. Formou-se em História pela Ufrgs em 1989 e doutorou-se em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) em 1996. Fez pós-doutorado nas Universidades de Princeton (EUA, 1998) e de Heidelberg (Alemanha, 2009) como professor visitante. Atualmente, é professor no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Ufrgs. Além da docência, atua como pesquisador e orientador de estudos científicos. Paralelamente, contribui com a cultura de Porto Alegre por meio das atividades do StudioClio.

Palestra 4 – Katia Suman: Uso dos espaços públicos e configuração urbana de Porto Alegre.

Katia Suman nasceu em Salvador (BA), mas, filha de gaúchos, antes de completar um ano já vivia em Porto Alegre. Graduada em Ciências Sociais pela Pucrs, mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, Katia iniciou sua carreira de radialista na Rádio Ipanema, onde atuou por 20 anos, tendo tido passagens também por vários outros veículos, como FM Cultura, TVE, Rádio Unisinos e TVCom. Atualmente trabalha em sua tese de doutorado em Letras, na Ufrgs, produz e apresenta o Sarau Elétrico e mantém a rádio web Rádio Elétrica. 

Texto: Mariana Kruse (reg. prof. 12088)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)